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Intoxicação alimentar nas festas de fim de ano: saiba como se prevenir

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Em 2025, os casos de intoxicação alimentar somavam até agosto 5.974 - Adobe Stock
Em 2025, os casos de intoxicação alimentar somavam até agosto 5.974
Por Emanuele Almeida

23/12/2025 | 17h40

São Paulo, 23/12/2024 - Enquanto as famílias brasileiras planejam o cardápio para o Natal e o Ano Novo, um dado alarmante da saúde pública exige um lugar à mesa: o Brasil registrou mais de 10 mil casos de intoxicação alimentar em 2024, mantendo uma estabilidade preocupante em relação ao ano anterior.

Embora, muitas vezes, as pessoas associem a intoxicação a "comida de rua" duvidosa, especialistas alertam que a ceia de fim de ano, com os pratos expostos ao calor de dezembro e sobras requentadas, cria um ambiente propício para a proliferação de bactérias.

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O que é intoxicação alimentar?

A intoxicação faz parte de um grupo de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA), que são aquelas causadas pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Existem mais de 250 tipos de DTHA no mundo, podendo ser causadas por bactérias e suas toxinas, vírus, parasitas intestinais oportunistas ou substâncias químicas. 

O quadro de sintomas podem variar de acordo com o tipo de agente que causou a intoxicação. Porém os sinais mais comuns são:

  • Náusea;
  • Vômito;
  • Dor abdominal;
  • Diarreia;
  • Falta de apetite;
  • Febre.

Perfil de contaminação

A análise dos dados do DataSUS via Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) revela que o problema não está diminuindo. Os números de 2023 e 2024 mostram estabilidade acima de 10 mil notificações anuais. Em 2025 os casos somavam até agosto 5.974. Mas o que explica essa persistência?

Para a cirurgiã geral especializada em doenças gastrointestinais da INKI, plataforma de consultas médicas, Deborah Abuchaim, os números refletem uma mudança de comportamento: "O crescimento do delivery e do consumo de refeições prontas ampliou os pontos de risco ao longo da cadeia de preparo e transporte". Ela destaca que muitas contaminações podem ocorrer dentro de casa, por falhas simples de armazenamento.

Pessoa segura caixa descartável de delivery enquanto coloca as mãos na barriga, sinalizando dores
Especialistas apontam o delivery como um dos potencializadores dos casos de intoxicação alimentar pela falta de fiscalização. Adobe Stock

A nutricionista e perita em segurança de alimentos, Fabiana Borrego, reforça que o "boom" do delivery criou um vácuo no controle sanitário. O uso de mochilas térmicas sem higienização e o transporte inadequado são pontos críticos que, somados à falta de estrutura de muitos estabelecimentos, contribuem para o cenário atual.

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Quem é mais afetado?

A faixa etária de 20 a 39 anos concentra 40,43% dos casos notificados. Segundo Borrego, essa geração é a maior consumidora de alimentos disponíveis em aplicativos e possui uma baixa percepção de perigo, confiando excessivamente em alimentos prontos.

Um erro clássico desse grupo é o armazenamento inadequado: "O hábito de 'guardar a sobra do delivery' para consumir horas depois, muitas vezes sem o reaquecimento técnico necessário, acima de 70°C", explica a nutricionista.

Armadilhas na ceia para os 60+

Embora representem uma parcela menor das notificações, cerca de 7,7% para maiores de 60 anos, os idosos sofrem com maior gravidade clínica. Abuchaim explica que isso ocorre devido ao envelhecimento natural do sistema imunológico e à presença de doenças crônicas. Além disso, o estômago do idoso é menos ácido, o que reduz a barreira natural contra microrganismos.

Nas festas de fim de ano, os perigos para esse grupo estão escondidos em pratos tradicionais. As especialistas listam os principais vilões da ceia:

  1. Maionese e salpicão: o uso de ovos crus e a manutenção fora da geladeira favorecem bactérias como Salmonella e Staphylococcus aureus;
  2. Aves (peru e chester): grandes peças de carne podem não atingir a temperatura ideal no centro, mantendo vivas bactérias resistentes à temperatura;
  3. Contaminação cruzada: usar a mesma tábua para cortar o pernil assado e os vegetais da salada é um erro frequente que pode causar a mistura de diferentes substâncias durante a ceia. 

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Quais são os principais erros que causam intoxicação alimentar?

No Brasil, dezembro é sinônimo de calor intenso. Fabiana Borrego alerta que o erro mais crítico nas festas é o tempo e a temperatura. Deixar a mesa posta enquanto a família confraterniza é um convite às bactérias.

Entre o mercado e a mesa, o alimento frequentemente permanece na zona de perigo (entre 5 e 60°C). Em datas de calor intenso, esse tempo de segurança reduz para uma hora", adverte Borrego. A recomendação é clara: mantenha os alimentos refrigerados até o momento de servir e guarde as sobras imediatamente.

Intoxicação ou infecção?

Existem diferenças entre intoxicação e infecção alimentar? Fabiana Borrego esclarece:

  • Intoxicação: causada pela ingestão de toxinas já liberadas por bactérias no alimento (ex: Staphylococcus). Os sintomas são rápidos (minutos a horas), com vômitos intensos;
  • Infecção: acontece através da ingestão do microrganismo vivo, como a Salmonella, que se prolifera no corpo. Os sintomas demoram mais a aparecer e a febre é mais proeminente.

Os sinais clássicos incluem diarreia, vômitos e dor abdominal. Abuchaim alerta que a desidratação é o ponto de maior atenção, exigindo cuidado redobrado se os sintomas forem persistentes.

O que fazer se passar mal?

A especialista em doenças gastrointestinais recomenda procurar atendimento médico para avaliação clínica e coleta de exames, como o de fezes, essenciais para identificar o agente causador.

Fabiana Borrego alerta para a documentação do caso de intoxicação para casos de notificação ao estabelecimento que forneceu a comida. Ela orienta que guardar apenas a embalagem não basta. Para comprovar o nexo causal, é necessário:

  • Relatório médico: com registro dos sintomas e recordatório do que foi consumido nas últimas 72h;
  • Nota fiscal: para comprovar a origem do alimento;
  • Denúncia: registrar o caso na vigilância sanitária local.

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