Intoxicação alimentar nas festas de fim de ano: saiba como se prevenir
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23/12/2025 | 17h40
São Paulo, 23/12/2024 - Enquanto as famílias brasileiras planejam o cardápio para o Natal e o Ano Novo, um dado alarmante da saúde pública exige um lugar à mesa: o Brasil registrou mais de 10 mil casos de intoxicação alimentar em 2024, mantendo uma estabilidade preocupante em relação ao ano anterior.
Embora, muitas vezes, as pessoas associem a intoxicação a "comida de rua" duvidosa, especialistas alertam que a ceia de fim de ano, com os pratos expostos ao calor de dezembro e sobras requentadas, cria um ambiente propício para a proliferação de bactérias.
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O que é intoxicação alimentar?
A intoxicação faz parte de um grupo de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA), que são aquelas causadas pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Existem mais de 250 tipos de DTHA no mundo, podendo ser causadas por bactérias e suas toxinas, vírus, parasitas intestinais oportunistas ou substâncias químicas.
O quadro de sintomas podem variar de acordo com o tipo de agente que causou a intoxicação. Porém os sinais mais comuns são:
- Náusea;
- Vômito;
- Dor abdominal;
- Diarreia;
- Falta de apetite;
- Febre.
Perfil de contaminação
A análise dos dados do DataSUS via Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) revela que o problema não está diminuindo. Os números de 2023 e 2024 mostram estabilidade acima de 10 mil notificações anuais. Em 2025 os casos somavam até agosto 5.974. Mas o que explica essa persistência?
Para a cirurgiã geral especializada em doenças gastrointestinais da INKI, plataforma de consultas médicas, Deborah Abuchaim, os números refletem uma mudança de comportamento: "O crescimento do delivery e do consumo de refeições prontas ampliou os pontos de risco ao longo da cadeia de preparo e transporte". Ela destaca que muitas contaminações podem ocorrer dentro de casa, por falhas simples de armazenamento.
A nutricionista e perita em segurança de alimentos, Fabiana Borrego, reforça que o "boom" do delivery criou um vácuo no controle sanitário. O uso de mochilas térmicas sem higienização e o transporte inadequado são pontos críticos que, somados à falta de estrutura de muitos estabelecimentos, contribuem para o cenário atual.
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Quem é mais afetado?
A faixa etária de 20 a 39 anos concentra 40,43% dos casos notificados. Segundo Borrego, essa geração é a maior consumidora de alimentos disponíveis em aplicativos e possui uma baixa percepção de perigo, confiando excessivamente em alimentos prontos.
Um erro clássico desse grupo é o armazenamento inadequado: "O hábito de 'guardar a sobra do delivery' para consumir horas depois, muitas vezes sem o reaquecimento técnico necessário, acima de 70°C", explica a nutricionista.
Armadilhas na ceia para os 60+
Embora representem uma parcela menor das notificações, cerca de 7,7% para maiores de 60 anos, os idosos sofrem com maior gravidade clínica. Abuchaim explica que isso ocorre devido ao envelhecimento natural do sistema imunológico e à presença de doenças crônicas. Além disso, o estômago do idoso é menos ácido, o que reduz a barreira natural contra microrganismos.
Nas festas de fim de ano, os perigos para esse grupo estão escondidos em pratos tradicionais. As especialistas listam os principais vilões da ceia:
- Maionese e salpicão: o uso de ovos crus e a manutenção fora da geladeira favorecem bactérias como Salmonella e Staphylococcus aureus;
- Aves (peru e chester): grandes peças de carne podem não atingir a temperatura ideal no centro, mantendo vivas bactérias resistentes à temperatura;
- Contaminação cruzada: usar a mesma tábua para cortar o pernil assado e os vegetais da salada é um erro frequente que pode causar a mistura de diferentes substâncias durante a ceia.
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Quais são os principais erros que causam intoxicação alimentar?
No Brasil, dezembro é sinônimo de calor intenso. Fabiana Borrego alerta que o erro mais crítico nas festas é o tempo e a temperatura. Deixar a mesa posta enquanto a família confraterniza é um convite às bactérias.
Entre o mercado e a mesa, o alimento frequentemente permanece na zona de perigo (entre 5 e 60°C). Em datas de calor intenso, esse tempo de segurança reduz para uma hora", adverte Borrego. A recomendação é clara: mantenha os alimentos refrigerados até o momento de servir e guarde as sobras imediatamente.
Intoxicação ou infecção?
Existem diferenças entre intoxicação e infecção alimentar? Fabiana Borrego esclarece:
- Intoxicação: causada pela ingestão de toxinas já liberadas por bactérias no alimento (ex: Staphylococcus). Os sintomas são rápidos (minutos a horas), com vômitos intensos;
- Infecção: acontece através da ingestão do microrganismo vivo, como a Salmonella, que se prolifera no corpo. Os sintomas demoram mais a aparecer e a febre é mais proeminente.
Os sinais clássicos incluem diarreia, vômitos e dor abdominal. Abuchaim alerta que a desidratação é o ponto de maior atenção, exigindo cuidado redobrado se os sintomas forem persistentes.
O que fazer se passar mal?
A especialista em doenças gastrointestinais recomenda procurar atendimento médico para avaliação clínica e coleta de exames, como o de fezes, essenciais para identificar o agente causador.
Fabiana Borrego alerta para a documentação do caso de intoxicação para casos de notificação ao estabelecimento que forneceu a comida. Ela orienta que guardar apenas a embalagem não basta. Para comprovar o nexo causal, é necessário:
- Relatório médico: com registro dos sintomas e recordatório do que foi consumido nas últimas 72h;
- Nota fiscal: para comprovar a origem do alimento;
- Denúncia: registrar o caso na vigilância sanitária local.
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