Foto: Envato Elements
Por Joyce Canele
[email protected]Você já pensou que só o ato de abrir uma garrafa ou rasgar uma embalagem pode liberar plástico nos alimentos? Pois é exatamente isso que revelou uma nova pesquisa científica. Os microplásticos, que são pedaços minúsculos desse material, podem contaminar bebidas e comidas durante ações simples do dia a dia, como abrir tampas, desembrulhar frios ou esquentar alimentos em recipientes plásticos.
Lisa Zimmermann, autora principal da pesquisa e responsável pela comunicação científica no Food Packaging Forum, fundação sem fins lucrativos sediada em Zurique, Suíça, explica que o atrito causado ao abrir e fechar repetidamente tampas de garrafas, sejam elas de vidro ou plástico, libera micro e nanoplásticos nas bebidas. Segundo a pesquisa, essa liberação aumenta a cada vez que a embalagem é aberta, confirmando que o uso desses materiais em contato com alimentos contribui para a contaminação.
O estudo revela que micro e nanoplásticos foram encontrados em diversos produtos alimentícios, como:
Esta é a primeira análise detalhada que mostra como o uso comum de embalagens plásticas pode resultar na contaminação dos alimentos por essas partículas.
Uma outra investigação, identificou mais de 3.600 substâncias químicas que podem migrar para os alimentos durante a fabricação, processamento, embalagem e armazenamento, chegando ao corpo humano. Dentre elas, 79 são reconhecidas por causar câncer, mutações genéticas, problemas no sistema hormonal e reprodutivo, além de outros riscos à saúde.
David Andrews, diretor científico interino da organização Environmental Working Group, com sede em Washington, destaca que, embora já se soubesse da presença de substâncias tóxicas liberadas pelos plásticos, o grau de contaminação gerado pelas embalagens e seus efeitos para a saúde ainda não são totalmente compreendidos. Segundo ele, o estudo reforça que embalagens e equipamentos usados no processamento dos alimentos são fontes importantes de microplásticos que chegam ao nosso organismo.
São pedaços muito pequenos de plástico que medem de menos de 5 milímetros até 1 micrômetro. Partículas menores que isso são chamadas de nanoplásticos, que têm dimensões em bilionésimos de metro. Por serem extremamente minúsculos, nanoplásticos conseguem penetrar nas paredes dos órgãos e entrar na corrente sanguínea, distribuindo substâncias químicas pelo corpo.
O estudo recente já encontrou micro e nanoplásticos em tecidos humanos como:
A pesquisa revisou mais de cem estudos científicos para selecionar os mais confiáveis que analisaram a presença de microplásticos em alimentos. A diretora-geral do Food Packaging Forum, Jane Muncke, afirma que alimentos ultraprocessados contêm mais microplásticos, provavelmente porque passam por mais etapas de fabricação e contato com equipamentos plásticos, o que aumenta a chance de contaminação.
O estudo também destaca que a liberação dessas partículas aumenta quando a embalagem plástica é aquecida, lavada para reutilização, exposta ao sol ou sofre desgaste mecânico, como ao abrir e fechar tampas com força. Por isso, o uso repetido e o tipo de plástico devem ser melhor estudados no futuro.
Para reduzir a exposição a microplásticos, embora ainda não seja possível eliminá-los da alimentação, é recomendável evitar o uso excessivo de embalagens plásticas, não reutilizar embalagens que não foram feitas para isso e preferir alimentos frescos e minimamente processados sempre que possível.
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