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São Paulo, 07/09/2025 - Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,5 bilhão de pessoas no mundo são afetadas pela perda auditiva, com projeção de chegar a 2,5 bilhões até 2050. Apenas na região das Américas, 217 milhões vivem com a condição, o equivalente a 21,5% da população da região.
Ao mesmo tempo, esse é um dos quadros de saúde mais negligenciados. Estima-se que até sete anos se passem entre os primeiros sinais na audição e o diagnóstico adequado. No Brasil, mais de 10,7 milhões de pessoas convivem com algum grau de deficiência auditiva, mas a maioria sequer utiliza aparelhos ou faz tratamentos para correção.
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Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece procedimentos que vão desde a triagem auditiva neonatal, conhecida como “teste da orelhinha”, passando pelo o diagnóstico até a reabilitação auditiva e pelo fornecimento de aparelhos, que chegam a cerca de 1,2 milhão de pessoas.
De acordo com a médica Ana Beatriz Spina, otorrinolaringologista especialista em otologia do Hospital Paulista, a perda auditiva é causada por uma série de fatores, sendo o envelhecimento uma das causas mais comuns. "A maioria das pessoas que chega a idades avançadas podem apresentar presbiacusia, que é a perda auditiva causada pelo avanço da idade, mas nem todos vão ter perda significativa a ponto de precisar de aparelhos auditivos ou apresentar algum impacto funcional relevante."
Mas engana-se que o problema seja "coisa da velhice". Outra estimativa da OMS alerta que mais de 1 bilhão de jovens e adultos entre 12 e 35 anos de idade correm o risco de perda auditiva devido à exposição crônica ao ruído, que vem crescendo diante da urbanização da cidade e excesso de estímulos sonoros vindos de fones de ouvidos, caixas de som, veículos e maquinários sem uso correto de equipamento de proteção individual (EPI).
Nesse sentido, Spina diz que o estilo de vida também tem relação direta com a prevenção de problemas na audição. Tabagismo, consumo de álcool, dieta desrregulada e falta de atividade física, além de doenças crônicas como diabetes, hipertensão arterial, aumento do colesterol e triglicérides, estão entre os fatores que influenciam a presbiacusia e a gravidade da perda auditiva.
Um dos principais obstáculos para reverter os quadros de perda auditiva antes que se compliquem mais está na falta de exames preventivos. A audiometria, considerado o método mais simples, rápido e barato para detectar alterações, não é realizado com a frequência adequada.
A fonoaudióloga Christiane Nicodemo, especialista em reabilitação e próteses auditivas, reforça: “É um exame rápido, indolor e de baixo custo. E ainda assim, há resistência. Após a identificação de um problema, muitas pessoas ainda levam anos para buscar tratamento especializado”.
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Nesse sentido, a fonoaudióloga também alerta para consequências cognitivas da perda auditiva não tratada: “Na terceira idade, a falta de estímulos auditivos pode predispor à demência precoce, agravando ainda mais o quadro”.
Apesar disso, os números revelam que o tratamento ainda está muito aquém da necessidade. Entre 2017 e 2020, o SUS realizou 26,7 milhões de procedimentos auditivos, incluindo fornecimento de aparelhos e implantes cocleares. Apesar disso, apenas 8,4% das pessoas com deficiência auditiva frequentam serviços de reabilitação.
Se, por um lado, a perda auditiva gera desafios de saúde pública, por outro, movimenta um setor bilionário. Segundo dados levantados a pedido do Viva pela empresa AudioNova, do Grupo Sonova, em 2023, o mercado global de aparelhos auditivos atingiu US$ 7,96 bilhões (cerca de R$ 42,98 bilhões).
No País, só em 2024, foram R$ 535 milhões movimentados pelo SUS segundo dados extraídos da plataforma de importação utilizado pela empresa, que fabrica seus produtos na Suécia e exporta para mais de 100 nações.
Segundo Ricardo Hammerat Ribeiro, diretor executivo da empresa, que conta com 280 pontos de atendimento no Brasil, o crescimento do mercado nacional mostra força: 12,5% em 2022, 5% em 2023 e 10% em 2024. "Apenas 10% da população com perda auditiva tem acesso aos produtos, pois mesmo com opção de financiamento no âmbito privado ainda há o desafio do acesso a todos".
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Um levantamento da Semana da Acessibilidade Surda em parceria com o Instituto Locomotiva corrobora a fala de Ribeiro, mostrando que 87% dos brasileiros com deficiência auditiva não utilizam aparelhos auditivos, seja por falta de acesso, resistência ou desinformação.
Segundo a médica Ana Beatriz Spina, os aparelhos auditivos podem ser divididos em duas categorias, considerando sua tecnologia:
Já em relação ao formato, eles aparecem quatro opções:
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