São Paulo, 03/09/2025 - Uma das mais promissoras inovações no combate à leucemias e outros tipos de câncer hematológico, como linfomas e mieloma múltiplo, a terapia celular CAR-T pode chegar a um custo de R$ 3 milhões por pessoa, podendo representar um impacto de até R$ 480 milhões nas despesas assistenciais dos planos de saúde.
O valor representa quase 2% do total de despesas registrado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 2024, mostrando que a plena implementação desse tipo de terapia na saúde suplementar ainda enfrenta aspectos financeiros.
É o que aponta o "Panorama Atual das Indicações de CAR-T em Beneficiários das Autogestões", coletado entre junho e julho deste ano pela União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (UNIDAS). Das operadoras de plano de saúde que responderam a pesquisa, apenas 38% relataram ter recebido solicitações para uso de CAR-T, totalizando 18 casos analisados. Considerando o total de sua base de filiadas, a UNIDAS estima que isso represente entre 120 e 160 pedidos por ano.
A tecnologia utilizada no tratamento explica os altos custos: a terapia parte de células do próprio paciente ou de doadores, as quais são manipuladas em laboratório para identificar e atacar um tumor específico.
Com isso, reforçam a capacidade do sistema imunológico para reconhecer e destruir as células cancerígenas. São promissoras especialmente em leucemias mieloides, caso recém abordado no remake da novela
Vale Tudo. A tecnologia, porém, ainda não chegou ao Sistema Único de Saúde (SUS), que acompanha estudos que possam reduzir os custos de produção das células CAR-T.
Entre os pacientes tratados identificados na pesquisa, 38% evoluíram para óbito e outros 38% ainda estavam em acompanhamento no momento de coleta dos questionários. Outros cerca de 24% apresentaram progressão da doença mesmo após a infusão das células.
Por isso, a percepção das operadoras sobre o impacto do CAR-T na qualidade de vida e sobrevida dos pacientes ainda é dividida: 40% consideram o benefício moderado, 35% avaliam como baixo e apenas 25% acreditam em alto impacto.
Decisão judicial e dificuldades de negociação
Dos 18 casos identificados, 13 foram autorizados, mas 85% deles apenas após decisões judiciais em caráter liminar. Os casos não autorizados se deram principalmente por falta de previsão na cobertura obrigatória da ANS e inadequação da indicação clínica.
O levantamento aponta que dois em cada três casos enfrentaram dificuldades na negociação com prestadores. Além disso, a limitação do número de centros especializados com estrutura adequada e equipes qualificadas foi apontada como um dos principais gargalos para a realização da terapia.
Para melhorar o acesso, 80% dos gestores de planos de saúde defendem a produção nacional e 40% sugerem ampliar o número de centros capacitados. Todos os participantes indicaram o alto custo como principal barreira, seguido da escassez de centros (58%) e da falta de evidências robustas (54%).
João Paulo do Reis Neto, diretor técnico da UNIDAS e coordenador da pesquisa, diz que a terapia CAR-T inaugura uma nova era na oncologia, mas exige que o sistema esteja preparado para o futuro que ela antecipa.
“Não podemos permitir que uma inovação tão transformadora seja privilégio de poucos por falta de planejamento e regulação adequada”.
Ele diz ainda que teme a judicialização das decisões sobre tratamento e que o avanço dessa questão depende da capacidade do setor de saúde em equilibrar acesso com sustentabilidade.