Estudo estima em R$ 38,8 bi o impacto social e econômico das bets no Brasil
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São Paulo, 03/12/2025 - Estudo recente intitulado "A saúde dos brasileiros em jogo" estimou em R$ 38,8 bilhões ao ano o impacto social e econômico da expansão das plataformas de apostas online (bets) no Brasil. O montante considera fatores como suicídio, desemprego, gastos com saúde e afastamento do trabalho. Para a produção do dossiê, foram analisados de forma integrada os efeitos sanitários, econômicos e sociais da rápida expansão das apostas online no Brasil e informações inéditas obtidas junto ao governo.
O estudo é uma iniciativa do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), realizado em parceria com a Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental (FPSM) e a Umane - organização da sociedade civil sem fins lucrativos que visa fomentar a saúde pública.
Do montante total, a pesquisa atribui a perda de R$ 17 bilhões a mortes adicionais por suicídio, R$ 10,4 bilhões por perda de qualidade de vida decorrente de depressão, R$ 3 bilhões em tratamentos médicos para depressão.
Em contrapartida, o Ministério da Saúde recebe apenas 1% da arrecadação sobre a receita bruta das empresas de apostas. E o estudo revela que os impactos já são significativos e as evidências são claras. Entre outros fatores, os especialistas mencionam o aumento do endividamento das famílias, crescimento dos índices de transtorno do jogo e de quadros de sofrimento mental.
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Segundo dados da Receita Federal, o setor de atividades de exploração de jogos de azar e apostas havia gerado arrecadação de R$ 38 milhões entre janeiro e setembro de 2024, quando ainda não havia sido implementada a tributação do setor de apostas online. A arrecadação do setor saltou 180 vezes no mesmo período deste ano, para R$ 6,8 bilhões.
"Esse contraste mostra que as apostas online podem custar à sociedade até seis vezes mais do que contribuem para a arrecadação do País", afirmam os especialistas responsáveis pelo estudo.
Empregos formais
A contribuição ínfima das bets para o mercado de trabalho formal no Brasil é outro ponto de atenção. No setor de apostas online, segundo a pesquisa, de cada R$ 291 de receita obtida pelas empresas, apenas R$ 1 se transforma em salário formal.
Aliado a isso, os dados apontam que o impacto das apostas sobre a saúde mental de jogadores e familiares é inegável e o papel do Estado nesse cenário é essencial para informar, prevenir e cuidar.
Mesmo com algumas ações já adotadas pelo governo, o estudo ressalta que o país ainda carece de uma estrutura assistencial forte e especializada, de campanhas públicas de informação e de sistemas de proteção
Com a meta de ampliar o debate sobre o assunto, o estudo também pretende oferecer suporte para a formulação e o aperfeiçoamento de políticas públicas em meio às consequências da regulamentação das apostas online no Brasil. Além de dados oficiais, pesquisas recentes, o levantamento utilizou como base experiências internacionais e estimativas de custo econômico e social elaboradas a partir da comparação com o Reino Unido.
Prevenção e redução de danos
Com o objetivo de ajudar na prevenção e redução de danos das apostas, relatório do Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) de Saúde Mental e de Prevenção e Redução de Danos do Jogo Problemático divulgado em setembro propôs a adoção das seguintes medidas:
- Autoteste de saúde mental e financeira: Criação de um instrumento digital de autoavaliação, disponível em sites de apostas e portais públicos, para identificar sinais de uso problemático e orientar o usuário a buscar apoio.
- Plataforma nacional de autoexclusão: Implementação de um sistema público e unificado que permita ao cidadão se auto excluir voluntariamente de todos os sites e aplicativos de apostas autorizados no país.
- Capacitação da RAPS: Formação de profissionais da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para atendimento qualificado de pessoas em sofrimento relacionado ao jogo, com foco em diagnóstico, cuidado e articulação intersetorial.
- Diretrizes clínicas para o SUS: Elaboração de protocolos nacionais para atendimento de apostadores no SUS, com critérios de risco, linhas de cuidado e articulação com redes de proteção social.
- Materiais sobre integridade esportiva: Produção de conteúdos educativos voltados a atletas, equipes técnicas e federações esportivas, para prevenir manipulação de resultados e orientar sobre os riscos das apostas.
- Comitê permanente interministerial: Criação de um comitê com participação do governo, sociedade civil e especialistas para acompanhar a execução das ações, propor ajustes normativos e integrar políticas públicas.
- Campanhas públicas de prevenção: Lançamento de campanhas de comunicação sobre os riscos das apostas, com foco em jovens e populações vulneráveis, divulgando canais de apoio e mecanismos de proteção como a autoexclusão.
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