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Por Beatriz Duranzi
redacao@viva.com.brSão Paulo, 31/07/2025 - Uma nova ferramenta criada por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto (FMRP-USP), em colaboração com cientistas da Poznan University of Medical Sciences, na Polônia, promete transformar o diagnóstico oncológico.
A plataforma, chamada PROTsi, utiliza Inteligência Artificial para prever a agressividade de diversos tipos de câncer com base na expressão de proteínas dos tumores.
A pesquisa foi publicada na revista científica Cell Genomics e recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A PROTsi analisa o comportamento das proteínas presentes em células tumorais e calcula um índice que indica o potencial de crescimento do câncer, bem como sua capacidade de resistir a tratamentos.
Essa medição, chamada grau de stemness, aponta o quanto as células cancerígenas se assemelham a células-tronco, que são altamente adaptáveis e capazes de originar diversos tipos celulares.
O índice varia de zero a um: quanto mais próximo de um, maior a agressividade do tumor e o risco de recidiva. Essa característica pode tornar o câncer mais resistente às terapias convencionais.
Para criar o modelo, os cientistas analisaram 1.134 amostras de tumores de 11 tipos diferentes de câncer, incluindo os de cabeça e pescoço, útero, mama, ovário, pulmão, rim, cérebro, cólon e pâncreas.
Os dados foram obtidos do banco internacional CPTAC (Consórcio de Análise Proteômica Clínica de Tumores), que reúne informações sobre as proteínas envolvidas em tumores humanos.
Com base na análise, a PROTsi foi capaz de identificar padrões que indicam maior ou menor agressividade da doença. O desempenho da plataforma foi positivo em todos os tipos de tumor avaliados, com destaque para os casos de câncer de endométrio e de cabeça e pescoço.
Diferente de outras tecnologias que se baseiam apenas em informações genéticas (como DNA ou RNA), a PROTsi foca na proteômica, o estudo das proteínas que estão realmente ativas no corpo no momento da análise.
Isso permite uma visão mais precisa do que está acontecendo na célula naquele instante, revelando comportamentos e potenciais respostas ao tratamento.
A integração entre dados biológicos e algoritmos de inteligência artificial tem se mostrado uma ferramenta poderosa na oncologia.
Com o uso de IA, torna-se possível personalizar os tratamentos, prever a evolução da doença e evitar terapias desnecessárias ou ineficazes.
Esse tipo de abordagem tem grande potencial de aplicação clínica nos próximos anos, segundo os autores do estudo, e deve se tornar uma aliada cada vez mais comum na rotina hospitalar.
O câncer de cabeça e pescoço se destacou na pesquisa não apenas pelo bom desempenho da ferramenta, mas também pela sua relevância no Brasil.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), esse é o terceiro tipo mais frequente no país, com mais de 700 mil novos casos por ano.
Esse tipo de câncer costuma se desenvolver de forma silenciosa, o que dificulta o diagnóstico precoce. Uma ferramenta como a PROTsi pode contribuir para detectar casos mais graves com antecedência e adaptar o tratamento com mais precisão.
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Durante a análise, a ferramenta também identificou proteínas associadas às formas mais agressivas dos tumores. Algumas dessas proteínas já são alvos de medicamentos utilizados em outros contextos, o que abre caminho para estudos futuros que avaliem sua eficácia em diferentes tipos de câncer.
A PROTsi já foi testada com sucesso em diferentes bancos de dados e demonstrou capacidade de diferenciar entre células tumorais, células-tronco e células saudáveis.
O próximo desafio é validar os resultados em populações brasileiras, ampliando o estudo para incluir diferentes contextos genéticos e clínicos.
Além disso, novos testes da USP estão em andamento, com foco especial nos tumores renais e, futuramente, em casos clínicos de cabeça e pescoço. A expectativa dos pesquisadores é que, em um futuro próximo, tecnologias como a PROTsi estejam disponíveis nos principais centros de diagnóstico e tratamento oncológico do país.
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