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Publicado em 17/04/2025, às 12h34 - Atualizado às 13h59
Sabe quando você inclina sua cabeça para baixo para olhar o celular? Esse movimento pode causar uma sobrecarga de até 27 quilos nas articulações da sua coluna vertebral e nos músculos da região cervical. No longo prazo, a inclinação constante do pescoço ao mexer em aparelhos eletrônicos pode levar ao que a literatura médica tem chamado de síndrome do pescoço de texto, tradução livre para o termo em inglês “text neck syndrome”.
O termo foi usado pela primeira vez em 2009 pelo quiroprata americano Dean L. Fishman, que começou a observar os efeitos desse movimento ao acompanhar pacientes de 13 a 27 anos. Nos últimos anos, o conceito passou a ser pesquisado também na área de recuperação física e voltou ao destaque este mês após a publicação de uma revisão bibliográfica que identificou falta de consenso sobre o tratamento adequado para a síndrome.
Segundo o artigo, estima-se que a prevalência de distúrbios musculoesqueléticos entre usuários de smartphones varie de 50% a 84%, afetando principalmente áreas como pescoço, ombros, parte superior das costas e parte superior do corpo. Nesse sentido, os autores alertam que aproximadamente 83% da população mundial tem um dispositivo móvel e que mais da metade utiliza o equipamento por mais de seis horas ao dia, fazendo desse grupo um forte candidato à síndrome. Eles também destacam que o uso excessivo do equipamento afeta negativamente o sono, causando problemas de visão, problemas no sistema nervoso periférico e problemas psicossociais, como dependência, isolamento social e depressão.
A síndrome causada pelo uso excessivo da cabeça, pescoço e ombros geralmente é resultante de tensão excessiva na coluna vertebral ao olhar para frente e para baixo ao usar qualquer dispositivo móvel portátil. Estamos falando de telefone celular, unidade de videogame, computador, mp3 player, e-reader e outros.
Isso pode causar dores de cabeça, no pescoço, no ombro e no braço, além de comprometimento da respiração.
O artigo explica que cada ângulo de inclinação aumenta alguns quilos na coluna. Por exemplo, uma inclinação de 15 graus para frente pode somar 12 quilos de sobrecarga, enquanto uma inclinação de 60 graus pode elevar a pressão exercida na região em até 27 quilos.
Com o passar do tempo, as dores podem se tornar crônicas. Por isso é fundamental ficar atento a outros sintomas, como sensação de formigamento, dormência ou fraqueza nos braços ou mãos, dificuldade para movimentar o pescoço e dor que irradia para os braços ou costas, especialmente se forem persistentes.
O primeiro ponto é corrigir a postura durante o uso do celular e outros eletrônicos e evitar os impactos negativos, mantendo a cabeça erguida e o pescoço reto. Para isso, indica-se sempre colocar o dispositivo móvel em uma altura confortável aos olhos e evitar a inclinação da cabeça para baixo, além de fazer pausas regulares para alongar o pescoço e os ombros. Também é recomendável evitar comportamento sedentário, considerado um fator de risco para a síndrome, e manter atividade física regular.
De acordo com o coordenador do curso de Educação Física da Universidade Positivo e coordenador técnico da UPX Sports, Zair Candido, é muito importante trabalhar os músculos que fazem a sustentação do corpo. Eles incluem músculos da face, a plantar (sola do pé), o tendão de aquiles, músculos da barriga da perna, posteriores da coxa, quadril, dorsais e intercostais. “Se você tiver uma saúde muscular bacana nessas áreas, terá uma qualidade de vida melhor”, aconselha. Nesse sentido, ele indica dois exercícios:
“Sentado e com a coluna vertebral reta, aproxime o queixo do ombro esquerdo lateralmente, segure por 20 segundos, volte devagar para o centro e, em seguida, aproxime o queixo do ombro direito, segurando por mais 20 segundos. Ainda sentado, faça uma flexão do pescoço, colocando as duas mãos na nuca e segurando para a frente durante 20 segundos. Depois, faça uma hiperextensão da cervical, puxando, elevando o queixo para cima e segurando por 20 segundos. Finalize com circundações da cabeça para os dois lados, o que ajuda a trabalhar a cervical.”
“Estique os dois braços para cima e procure manter a postura ereta por 20 segundos. Ainda com as mãos esticadas acima da cabeça, e sempre mantendo a coluna reta, faça uma inclinação para a direita e a esquerda, segurando por 20 segundos em cada uma delas. Faça, ainda, uma flexão de tronco para a frente, flexionando um pouquinho os joelhos. Tente fazer um ângulo de 90 graus do quadril e deixar o tronco paralelo com o solo e segure, com os braços esticados, por mais 20 segundos.”
Candido ressalta que os exercícios servem para alongar os músculos, mesmo depois de muitas horas no celular ou computador, mas não substituem o acompanhamento de um profissional de educação física para manter o corpo em movimento. “É sempre fundamental praticar atividades físicas regularmente e não apenas exercícios básicos de alongamento. É esse movimento frequente que vai realmente ajudar a evitar dores e outros problemas mais graves”, complementa.
Segundo o artigo sobre o tema, as intervenções fisioterapêuticas apropriadas para síndrome do pescoço de texto podem fornecer benefícios significativos, incluindo redução da dor, correção da postura e melhora da amplitude de movimento na coluna cervical. Os pesquisadores pontuam que a abordagem terapêutica mais eficaz envolve a combinação de vários métodos de reabilitação, como exercícios de correção postural, de estabilização, fortalecimento e alongamento, Pilates, facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP), dentre outros.
“Os melhores resultados do tratamento são alcançados por meio de uma combinação de exercícios de fortalecimento e alongamento, terapia manual e correção postural. Além da fisioterapia, a educação é essencial em todas as etapas, tanto na prevenção quanto no tratamento. No entanto, mais pesquisas de alta qualidade são necessárias para fortalecer as evidências e oferecer recomendações confiáveis para a prática clínica. Além disso, há pesquisas limitadas sobre fisioterapia para pescoço de texto na população de outras faixas etárias”, concluem os pesquisadores.
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