Envato
Publicado em 08/09/2025, às 15h42 - Atualizado em 09/09/2025, às 16h55
São Paulo, 08/09/2025 - Por mais intuitivo que as empresas tornem a navegação na internet, a barreira da alfabetização persiste. Em 2024 o Indicador de analfabetismo funcional (Inaf) adotou uma nova linha de pesquisa, o “analfabetismo no contexto digital”; incorporando ao estudo as habilidades online dos participantes. Dentro da linha dos analfabetos, 95% tiveram o indicador mais baixo de desempenho.
Leia também: Dificuldade com tecnologia de pessoas 50+ não é tabu, faz parte de envelhecer
Segundo o censo de 2022 do IBGE, existem 9,3 milhões de analfabetos no Brasil. O grupo etário mais afetado está acima dos 65 anos, no qual 1 a cada 5 não sabe ler e escrever. Esta dupla camada de exclusão digital pode ser um impedimento, mas muitas vezes não vence a vontade de se conectar; como a da diarista de 65 anos, Maria Betania da Silva. Matriculada na Educação de Jovens e Adultos (EJA), ela aproveita os recursos de áudio dos aplicativos de mensagem, além de sempre estar presente nas redes sociais.
“Acho muito legal porque a gente entra mais em contato com as pessoas, Gosto de ver as pessoas, conversar, de agradecer o dia e agradecer a noite”
Fábio Storino é coordenador da pesquisa TIC Domicílios; estudo realizado anualmente pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) para entender o uso de internet pelos brasileiros. Ele explica que a maior diferença está no conteúdo consumido, como a checagem de notícias sendo menos utilizada no público menos escolarizado.
A distinção se torna grave quando serviços essenciais se tornam menos acessíveis. Na edição mais recente da TIC Domicílios, 90% dos entrevistados do grupo não alfabetizado responderam não recorrer ao Governo eletrônico (e-Gov), no qual estão inclusos retirada de documentos e inscrição em serviços sociais.
Para Storino, além da falta de acessibilidade em certos sites, o perigo online contribui nesta limitação do uso “As pessoas com maior letramento digital conseguem aproveitar diferentes recursos sem se arriscar. Já quem tem menor letramento muitas vezes se expõe a algum golpe, se desmotiva, e acaba se limitando às coisas já conhecidas; como consumo de mídia nos streamings e redes sociais. Cria-se assim um ciclo vicioso, que reduz muito o aproveitamento digital”, conta ele.
Storino vê com esperança alguns caminhos que podem quebrar esta barreira inicial e ajudar as pessoas a navegar na internet. Uma delas vem do próprio meio digita; a Inteligência Artificial. O uso dos modelos de linguagem, como o Chat GPT, pode ajudar a traduzir termos complexos de sites, como do governo, em simples; usando a comunicação informal características dos agentes de IA. Indo além, muitos destes já possuem modo de fala, conversando com o usuário e diminuindo a necessidade dos textos.
No entanto, ele alerta que mesmo chegar a estas IAs pode ser difícil. Por isso, a melhor ponte para o mundo virtual ainda é o intermediário humano. Em outra pesquisa realizada pelo NIC.br, a TIC Kids Online, aproximadamente um terço das crianças afirmaram ajudar seus pais em atividades na internet todos os dias, independente do nível de escolaridade dos responsáveis. Storino explica que esta interação intergeracional é sempre incentivada quando se trata dos pais ensinando o bom uso da internet para as crianças, mas que o caminho inverso também é extramente benéfico.
Como exemplo da prática, Maria Betania conta como "tudo ficou mais fácil" depois que sua filha a ensinou como usar o Facebook e o WhatsApp. Hoje uma entusiasta das redes sociais, ela deixa uma mensagem para quem também engaja no meio digital, mesmo com dificuldade na leitura e na escrita:
"Não é difícil. Como eu consegui e estou conseguindo, todos que têm força de vontade vão conseguir também. Não desista do seu sonho. Não tem idade para continuar a estudar e para entrar nas redes sociais. Porque eu não desisto do meu."
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.