Foto: Envato Elements
Por Beatriz Duranzi
[email protected]Durante os anos 1990 até meados dos 2000, a principal forma de acessar a web era por meio da internet discada ou dial‑up. Nesse modelo, o computador conectava-se a um provedor via linha telefônica, usando um modem para converter sinais digitais em áudio e vice-versa. O que mantinha o telefone indisponível enquanto você navegava.
Esse tipo de acesso apareceu já em 1980, se popularizando entre os usuários domésticos após o surgimento dos provedores privados no Brasil, em 1995. Confira abaixo algumas curiosidades para relembrar de uma época mais simples de navegabilidade.
O máximo que se conseguia era cerca de 56 kbps, padrão para modems fax-discada, embora versões mais lentas de 28 kbps ou 33,6 kbps fossem comuns. Isso significava que uma foto simples demorava minutos para carregar, e baixar um MP3 era missão de madrugada.
A conexão era vendida por "pulso" telefônico, cada minuto custava como uma ligação. Para economizar, a maioria dos usuários esperava até a meia-noite para conectar, pagando apenas um pulso para sessões noturnas. Sábados após as 14h, domingos e feriados eram brindados com cobrança reduzida, funcionando quase como “acesso livre”.
Enquanto estivesse on-line, a linha telefônica ficava ocupada, se alguém tentasse atender uma ligação, a internet caía. Não era raro o clima esquentar entre familiares por causa disso.
Ligar o computador e aguardar o modem discar era parte do ritual. O som típico (chiados, bipes e estalos) anunciava o "handshake", o processo de autenticação com o provedor via padrões da ITU, e, após os sinais finais, vinha o alívio: “estamos online!”.
Com velocidades tão baixas, os sites da época eram projetos enxutos, poucas imagens, muito texto, animações leves. Vídeos, então, só eram assistidos por download, o que podia levar horas (ou dias).
A conexão não apenas levava tempo para ligar: também era instável. O sinal caía com facilidade, hora do almoço, queda de linha, ventania ou era desconectado por engano. E ao cair, era necessário recomeçar o processo do zero.
Distribuídos por provedores como discadores gratuitos, os CDs de acesso eram disputados. Muitos pegavam vários para “testar acesso grátis”, uma prática comum, embora raramente funcionasse bem.
Com a chegada da ADSL e outras formas de banda larga no início dos anos 2000, a internet discada perdeu força. Em 2007, cerca de 44 % dos domicílios ainda a utilizavam, em 2008, esse número chegou a 42 %, segundo dados do CETIC. Nos anos seguintes, caiu drasticamente até virar relíquia.
A internet discada foi um marco: cara, lenta, instável, mas cheia de charme. Sua memória vive no som característico do modem e nas histórias de horas conectadas à meia-noite. Hoje, mesmo com fibra e 5G, lembrar da dial‑up é reconhecer os primórdios de uma revolução digital.
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