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Publicado em 02/11/2025, às 16h00
São Paulo, 02/11/2025 - Outubro foi um mês repleto de informações da OpenAI sobre a liberação do “modo adulto” no ChatGPT e a criação de aplicativos voltados para maiores de 18 anos. A atualização mais foi divulgada na rede social X, na terça-feira,14, quando o CEO da empresa, Sam Altman, afirmou que o conteúdo erótico será permitido no chatbot de IA.
“Em dezembro, à medida que implementamos a restrição de idade de forma mais completa e como parte do nosso princípio de ‘tratar usuários adultos como adultos’, permitiremos ainda mais, como conteúdo erótico para adultos verificados”, disse ele em publicação.
A nova declaração de Altman reforça a mudança de posicionamento da empresa, que antes se orgulhava de não permitir “um avatar de sexbot no ChatGPT”, como disse em uma entrevista com a youtuber e comunicadora científica Cleo Abram, em referência aos modelos lançados em julho pelo Grok, a inteligência artificial de Elon Musk.
We made ChatGPT pretty restrictive to make sure we were being careful with mental health issues. We realize this made it less useful/enjoyable to many users who had no mental health problems, but given the seriousness of the issue we wanted to get this right.
— Sam Altman (@sama) October 14, 2025
Now that we have…
Para dar início às liberações de interações mais “adultas”, a OpenAI revisou, em agosto, o Model Spec, documento que orienta o comportamento dos modelos de linguagem (LLMs) da empresa, e flexibilizou restrições sobre conteúdo sexual.
A revisão continua proibindo materiais que envolvam menores de idade e ainda mantém algumas barreiras à geração de conteúdos explícitos entre adultos.
No caso do Grok, os conteúdos eróticos são classificados como “Not Safe For Work” (NSFW) - ou “Não Seguro para o Trabalho” -, categoria que indica a presença de temas como nudez, sexo, violência e linguagem vulgar. Na ferramenta, é possível desativar essa classificação ao criar ou interagir com um dos avatares.
É importante destacar que as etapas para a implementação de recursos semelhantes no ChatGPT ainda não foram anunciadas pela OpenAI. Assim, não se sabe, na prática, como funcionarão as contas para adultos e quais serão os limites de interação e conduta.
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Apesar de ter mencionado dezembro como o início da nova política de “tratar adultos como adultos”, Sam Altman afirmou que só implementará as ferramentas após estruturar um sistema de verificação de idade capaz de garantir que apenas adultos tenham acesso a conteúdos sensíveis.
Contudo, a verificação de idade, por si só, pode não impedir que menores de idade realizem interações eróticas com o chatbot. Essa é a preocupação da professora Lorena Caminhas, da Maynooth University (Irlanda), especialista em estudos de mídia.
“Um dos principais problemas que enxergo é como será feita essa coleta de informações e quais dados serão coletados para fazer uma verificação efetiva, já que esse uso será ainda mais sensível”, elenca a professora.
Caminhas acrescenta que, para que haja interações eróticas entre usuário e IA, é necessário que a ferramenta seja treinada de alguma forma, e ainda não se sabe de quais fontes esses dados virão. Na prática, um sistema de IA se alimenta de informações provenientes de diversas fontes; no caso de notícias, por exemplo, os dados vêm de portais e blogs.
“Não sabemos quais limites essas interações terão, e é possível imaginar que os dados sejam extraídos de repositórios de conteúdos sexuais online, até mesmo do Pornhub”, observa Lorena.
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O psicólogo André Machado, especialista em psicanálise e trauma pela PUC-Campinas, também alerta para o risco de vício ou dependência emocional que ferramentas desse tipo podem gerar, dependendo da frequência e intensidade do uso.
Ele analisa a experiência por diferentes idades: “Para adolescentes e jovens adultos o foco seria mais em confusão sobre sexualidade, pressão social para experimentar via IA, já que eles estão formando identidades”.
Sobre adultos dos 30 a 50 anos, ele avalia os riscos de escapismo excessivo da realidade, criando possíveis padrões de comportamento tóxicos.
“E para os mais velhos, acima dos 60, eu vejo menos o risco de vício sexual e mais o de solidão agravada, onde a IA vira um companheiro que pode mascarar outros problemas”, salienta Machado.
Sobre o contato de adolescentes com chatbots de IA, a OpenAI já enfrentou acusações graves: em agosto, foi processada por homicídio culposo na Califórnia (EUA) após os pais de um garoto de 16 anos alegarem que ele morreu em abril deste ano depois de trocar diversas conversas sobre suicídio com o chatbot.
Quanto aos riscos de saúde mental, Sam Altman afirmou, na mesma publicação no X: “Conseguimos mitigar os sérios problemas de saúde mental e temos novas ferramentas, poderemos relaxar as restrições com segurança na maioria dos casos.”
Lorena Caminhas avalia que o uso desse tipo de perfil em chatbots de IA também pode levar ao cansaço e ao tédio por parte dos usuários, ao contrário de estimular possíveis vícios.
“A inteligência artificial também trabalha para ser um espelho de quem interage com ela. A tendência de que as respostas se tornem cansativas e tenham menos apelo para o usuário é uma possibilidade bastante real”, conclui a professora.
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