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Publicado em 12/08/2025, às 13h48 - Atualizado às 13h49
São Paulo, 12/08/2025 - Aprender a ler e a escrever não é apenas uma conquista acadêmica para idosos, mas também um investimento valioso na saúde mental e na qualidade de vida. De acordo com a gerontóloga e pedagoga Cláudia Alves, autora do livro "O Bom do Alzheimer", os benefícios de investir nos estudos nessa etapa da vida são múltiplos, com ganhos cognitivos, emocionais e sociais.
"A alfabetização na maturidade estimula o cérebro a manter as funções cognitivas ativas, contribuindo para prevenção de declínio e demências. E mesmo quando a pessoa já é alfabetizada, ela se beneficia da educação continuada, pois o acesso a novas informações ajuda na neuroplasticidade do cérebro, no aspecto das sinapses."
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) 2024, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE), mostram que em 2023 havia no Brasil 9,1 milhões de pessoas com 15 anos ou mais de idade não alfabetizadas, o equivalente a uma taxa de não alfabetizados de 5,3%.
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Alves destaca que o ato de voltar à escola na vida adulta promove mais autoestima e autoconfiança, oferecendo sensação de realização e orgulho em qualquer fase. "Isso reduz o sentimento de exclusão e inferioridade, que infelizmente é comum entre pessoas não alfabetizadas. Já vi muitos casos assim", diz. Ela conta sobre uma cuidadora que era analfabeta, e entendia somente números e figuras. Então, passava grande dificuldade para oferecer as medicações receitadas aos idosos que cuidava.
"É muito difícil a vida de uma pessoa analfabeta. Estar alfabetizado, ainda que em níveis básicos, cria um pertencimento fundamental para a vida."
Nesse sentido, a pedagoga explica que a alfabetização, especialmente após os 60 anos, melhora comunicação com a família e os netos e amplia a participação em atividades comunitárias. "Ajuda desde questões básicas do dia a dia, como receber instruções, ler placas, contratos, assinar e compreender documentos e escrever mensagens, até acessar informações e serviços no mundo digital, porque em muitos casos a pessoa só consegue usar o WhatsApp com recurso de voz", observa.
O principal caminho para a alfabetização de adultos atualmente são os programas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) realizados pelos municípios com autorização do Ministério da Educação (MEC). As aulas são gratuitas e geralmente acontecem no período noturno.
Podem participar da EJA pessoas a partir de 17 anos de idade, que não tenham concluído a educação básica na idade prevista. Segundo dados do Censo Escolar 2024, existem atualmente 2,4 milhões de alunos nessa modalidade, contudo, a taxa vem caindo: entre 2020 e 2024, houve uma queda de 20,4% no número de matrículas. Do total de alunos, 493.113 tinham mais de 50 anos de idade, enquanto a maioria (64%) tinham menos de 40 anos .
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Além da rede pública de ensino, existem cursos de alfabetização realizados de forma voluntária por organizações filantrópicas e religiosas, porém, nesses casos não há levantamento oficial de matrículas.
Também é possível buscar recursos de forma online. Porém, Cláudia Alves observa que esse caminho depende especialmente da mediação de um familiar ou cuidador que saiba ler, pois dificilmente a pessoa não alfabetizada conseguirá buscar um curso adequado e acessar as plataformas digitais de ensino.
"Nunca é tarde para aprender. Ao alfabetizar uma pessoa idosa, estamos abrindo portas para que ela participe plenamente da sociedade e viva com mais autonomia e felicidade."
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