Aluno aos 100 anos? Sr. Gilvan faz aulas semanais de desafios para o cérebro

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Desafios cognitivos ajudam a afastar o risco de demência, dizem especialistas; 60% dos casos poderiam ser evitados - Foto: Envato Elements
Desafios cognitivos ajudam a afastar o risco de demência, dizem especialistas; 60% dos casos poderiam ser evitados
Por Luana Pavani luana.pavani@viva.com.br

Publicado em 15/09/2025, às 12h08

São Paulo, 15/09/2025 - A poucos dias de completar 100 anos, Gilvan Oliveira Araújo se diz encantado com os avanços da tecnologia. "A eletrônica é o máximo. Imagine poder falar com pessoas em qualquer lugar", comenta. De fato, ele pratica a interação online toda semana, às quartas-feiras, quando entra em aula pelo computador no Supera, escola autointitulada de ginástica para o cérebro, que frequenta há cinco anos.
Atualmente, o Sr. Gilvan, como é mais conhecido pela turma, está mergulhado em um desafio, tentando resolver um tangram de 16 figuras. "É difícil, sim, mas veja quanta criatividade para fazer tantas figuras diferentes. Com calma eu consigo fazer tudo", diz, brincando que, por conta da idade, está em uma "fase de câmera lenta". Seu aniversário de 100 anos será no dia 23 de outubro.
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senhor Gilvan
Gilvan Araújo, 99 anos, faz aulas de desafios para o cérebro toda semana na turma online do Supera - Arquivo pessoal
Sr. Gilvan apenas lamenta não poder circular pela cidade do Rio de Janeiro como alguns anos atrás. "Até antes da pandemia eu era livre, mas agora dependo de outras pessoas", diz, apontando para a filha Sandra, com quem vive. Ela logo rebate: "Meu pai não precisa de ajuda para resolver nenhum desafio, está muito lúcido".
A disposição de Sr. Gilvan para os desafios cognitivos é uma das razões para afastá-lo do risco de desenvolver demência ou Alzheimer. O geriatra e nutrólogo Leandro Minozzo, autor "Doenças de Alzheimer: Como Se Prevenir", cita que estimular a mente é um dos pilares de prevenção a essas doenças. Falo com entusiasmo que 60% dos casos de demência poderiam ser evitados, atualmente", afirma o médico, citando o estudo do periódico The Lancet, sobre fatores protetivos.
O médico conta que era muito comum receber pacientes assustados com o avançado estado de demência de seus pais, pedindo para evitar passar pela mesma situação. "Pouco se sabia sobre fatores protetivos, a recomendação básica para os idosos era comer colorido e fazer palavras cruzadas. Esses sinais hoje estão comprovados", comenta.
A prevenção está baseada em uma lista de fatores protetivos, que inclui a estimulação cognitiva e mais qualidade do sono, peso adequado, evitar estresse, praticar atividade física e ter uma alimentação adequada, como a dieta mediterrânea. 
Na questão da neuroplasticidade, Minozzo cita estudos que mostram que mesmo após os 50, 60 anos, ocorrem novas conexões cerebrais, ao contrário do que se pensava, que as sinapses iam se perdendo. "É uma reserva cognitiva: exercitar o cérebro forma uma espécie de poupança", compara.
Curiosamente, a escola Supera começou há vinte anos como uma escola para aprimorar a capacidade de aprendizado de crianças e hoje tem 75% da base de estudantes com mais de 60 anos. São 260 unidades da franquia espalhadas pelo Brasil, com um total de 30 mil alunos.
"A porta de entrada das aulas é trabalhar foco e atenção. Quanto mais se usa o cérebro, melhor ele fica", afirma Luís Moraes, sócio-diretor do Supera. A diretora pedagógica da escola, Patrícia Lessa, destaca que o envelhecimento não pode ser entendido como perda. "Ao mesmo tempo que há um declínio da velocidade de processamento e da memória operacional com o envelhecimento, é preciso continuar aprendendo para construir mais funções neuronais. Os alunos mais velhos já têm uma vivência. A memória semântica (conteúdo), por exemplo, vai se ampliando."
De acordo com a metodologia própria do Supera, a estimulação cognitiva ocorre por múltiplas atividades em torno de desafios de memória, atenção, raciocínio lógico e criatividade em sala de aula, presencial ou online, além de componentes socioemocionais. "Não há aula individual, somente em grupo, visando a sociabilização", diz Lessa, formada em neuroaprendizagem e gerontologia.
Nessa parte social, a diretora conta que a escola prevê novidades para 2026, com o projeto de preparar aulas temáticas em torno dos fatores protetivos. "Queremos que o aluno mais velho tenha bom desempenho mas também mais qualidade de vida."

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