São Paulo, 07/08/2025 - Pela legislação vigente, a atuação de um médico começa quando ele conclui a graduação em medicina, não sendo obrigatório fazer uma residência ou buscar título de especialidade. Porém, de acordo com uma pesquisa inédita da Associação Médica Brasileira (AMB), 87% das pessoas acreditam que os médicos são os que mais precisariam ter comprovação de atualização profissional.
O levantamento, feito pelo Instituto Datafolha, avaliou a percepção da população sobre a importância da comprovação de atualização profissional para seis áreas, com base em uma escala de 0 a 10. Considerando as atribuições de notas 9 e 10, os médicos aparecem em primeiro lugar. Pilotos de avião (82%) ficaram em segundo lugar, seguidos por jornalistas (75%), engenheiros (74%) e advogados (71%). A comprovação de atualização profissional para arquitetos (68%) foi percebida como menos necessária.
Para 76% dos entrevistados, a atualização do certificado para médico especialista deveria ser obrigatória, enquanto 16% consideram que deveria ser opcional. Apenas 5% acham esse tipo de atual desnecessário, porque o médico já é especialista. O levantamento considera cerca de 2 mil pessoas em 113 municípios.
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Segundo César Eduardo Fernandes, presidente da AMB, há aproximadamente 600 mil médicos no País, com cerca de 40 mil novos profissionais se formando todos os anos. “Entendemos que o problema do Brasil não é falta de médicos. O ponto é a qualidade. Temos médicos que estão saindo com muitas deficiências das escolas. Não por culpa deles, claro, mas por culpa do aparelho formador", explica.
Nesse sentido, Fernandes diz que a AMB é favorável à criação de um exame de proficiência para os graduados e formados em medicina, nos moldes do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a chamada “OAB dos médicos”, que está sendo discutida em um projeto de lei no Senado.
Atualmente, o País tem o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed), que será realizado pela primeira vez em outubro deste ano, pelo Ministério da Educação. O resultado servirá para avaliar a qualidade de cursos de formação médica e selecionar profissionais para a residência.
Diante dos dados, a AMB lançou uma campanha para divulgar a importância da especialização dos médicos para a sociedade, além de incentivar os profissionais a buscarem a certificação e o aprimoramento contínuo.
"Do jeito que está hoje, a pessoa sai da faculdade com o certificado de conclusão de curso e já ganha seu registro profissional, e está, portanto, habilitado legalmente a atender pacientes. Mas não sabemos a qualidade desta formação e a população identificou isso na pesquisa", pontua Fernandes.
Para o secretário geral da AMB, Florisval Meinão, o profissional mal formado pode ter dificuldades para estabelecer diagnósticos corretos e atrasar tratamentos que poderiam oferecer mais qualidade de vida ao paciente.
"Ao fazer diagnóstico equivocados, ele irá oferecer tratamentos equivocados, pedir mais exames, onerar o sistema público e privado de saúde. Então, certamente a má formação médica e a falta de atualização e certificação podem oferecer riscos à população".
Meinão completa dizendo que se preocupa com a velocidade na formação de novos profissionais. Dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) de 2024 mostram que o Brasil registrava mais de 575 mil médicos ativos, uma proporção de 2,81 profissionais por mil habitantes, a maior taxa registrada até então.
"Em breve, teremos um número excessivo de médicos, e muito mal preparados. São médicos que estudam em escolas onde faltam docentes, falta campo de ensino, que também cresceram significativamente. E o médico não se forma assistindo vídeos ou fazendo provas, mas sim atendendo pacientes, tendo contato constante com os professores. Isso falta nas escolas."
Ainda de acordo com a pesquisa, 64% das pessoas procuram informações sobre a qualificação do médico especialista antes de marcar uma consulta, caso estejam disponíveis, sendo que 31% o faz para todas as consultas e 33% apenas para algumas especialidades.
A AMB explica que qualquer pessoa pode verificar a certificação de seu médico se achar necessário. O procedimento pode ser veio através do site da AMB ou também pelo site do Conselho Federal de Medicina (CFM). Em ambos os casos, é preciso ter em mãos o nome completo e o número de registro do profissional no Conselho Regional de Medicina (CRM).
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