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Por Bianca Bibiano e Manuela França*
redacao@viva.com.brSão Paulo, 07/10/2025 - O número de cursos de medicina no Brasil cresceu de forma expressiva nos últimos dois anos. Entre janeiro de 2024 e setembro deste ano, o Ministério da Educação (MEC) aprovou a abertura de 77 novos cursos, oferecendo 4.412 vagas de graduação, segundo estudo inédito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
No mesmo período, 20 cursos já em funcionamento receberam autorização para aumentar o número de vagas, somando 1.049 novas oportunidades, o que totaliza 5.461 vagas nesse intervalo.
Com isso, o Brasil atingiu 494 cursos de medicina, 80% deles privados, com um total de 50.974 vagas de graduação, tornando-se o segundo país do mundo com mais escolas médicas, atrás apenas da Índia, que possui cerca de 600 instituições médicas e mais de 1,4 bilhão de habitantes.
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O estudo foi realizado pelo grupo de pesquisa Demografia Médica no Brasil, da FMUSP, que acompanha há 15 anos a oferta de médicos e cursos de medicina no País. Além dos cursos já autorizados, há outros 150 processos com novos pedidos de abertura ainda em análise pelo MEC, indicando que a expansão pode continuar nos próximos anos.
Em 2020, um documento técnico assinado pelo Ministério da Saúde em parceria com a FMUSP e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), já apontava a expansão dessa oferta, mostrando que esse processo foi intensificado principalmente após 2013, impulsionado pela abertura de escolas médicas e pela suplementação de vagas em cursos de medicina preexistentes. A essa intensificação somaram-se as tendências de privatização e interiorização do ensino médico, embora não o suficiente para ofertar o acesso em regiões mais remotas.
Para Antonio José Gonçalves, presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), atualmente "os cursos de Medicina explodem por todo o Brasil, mas a maioria não possui hospitais para os estudantes fazerem residência com qualidade". Ele diz ainda que o programa Mais Médicos, do governo federal, "vende a ideia que está distribuindo médicos" pelo País, quando seria necessário aprimorar a qualificação dos profissionais.
Já o Semesp, organização que representa mantenedoras de ensino superior, diz que "considera inadequada a estratégia de simplesmente restringir a formação de novos médicos, tornando o ensino mais caro e comprometendo a efetividade do SUS". Em nota, disse ainda que "tal limitação impede que um maior número de profissionais esteja disponível em menor tempo para atender às crescentes demandas da população" e que "é essencial adotar um sistema de avaliação rigoroso e supervisionado, em vez de simplesmente restringir a oferta".
Nesse sentido, a instituição reforça a necessidade de um debate responsável e embasado em evidências, posicionando-se contra generalizações que prejudiquem o País e observa que, mesmo com essa expansão, a taxa de escolarização líquida no Brasil é baixa, com apenas 19,9% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados no ensino superior.
O governo federal, por sua vez, prometeu ampliar as ações de supervisão dos cursos. Em agosto, por exemplo, o MEC e o Ministério da Saúde anunciaram série de medidas relacionadas aos cursos de medicina que obtiverem baixo desempenho no Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed). O exame será aplicado pela primeira vez no próximo dia 19.
A ideia é que a prova seja aplicada anualmente, substituindo o Enade e servindo também como via de acesso a residências médicas, sendo obrigatória para todos os formandos. Ela também poderá ser feita por médicos já formados que desejam se especializar.
Estagiária sob supervisão de Luana Pavani.
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