Foto: Envato Elements
Por Joyce Canele
[email protected]Um novo estudo canadense levanta questionamentos importantes sobre o papel da saúde mental dos pais no desenvolvimento dos filhos. Contrariando expectativas, pesquisadores identificaram que sintomas de depressão e ansiedade em homens, tanto durante a gestação da parceira quanto na infância dos filhos, podem estar ligados a melhores resultados cognitivos e comportamentais nas crianças.
A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade de Montreal, e publicada no site Frontiers, acompanhou 61 famílias da coorte de nascimento 3D, avaliando a saúde mental dos pais e seu impacto no desenvolvimento dos filhos.
Os pesquisadores analisaram sintomas de ansiedade e depressão, em seguida, compararam esses dados com o desempenho cognitivo e comportamental das crianças, medidos por testes padronizados.
De forma surpreendente, os dados revelaram que quando os pais apresentavam mais sintomas de depressão durante o período pré-natal, ou seja, enquanto a parceira ainda estava grávida, seus filhos tinham menos dificuldades comportamentais alguns anos depois.
Além disso, aqueles pais que relataram sintomas de depressão e ansiedade durante a infância média dos filhos (dos 6 aos 8 anos) tinham crianças com escores de QI mais altos do que os demais.
Esses resultados vão na contramão de boa parte da literatura científica atual, que costuma associar a presença de problemas de saúde mental nos pais a impactos negativos no comportamento e nas habilidades cognitivas das crianças.
Os pesquisadores buscaram entender se essas relações poderiam ser explicadas por outros fatores, como os pais percebiam o comportamento dos filhos, a saúde mental das mães ou ainda a qualidade do relacionamento conjugal. No entanto, nenhuma dessas variáveis mostrou influência significativa sobre os resultados encontrados.
Embora os autores reforcem que o estudo tem limitações, especialmente por se tratar de uma amostra relativamente pequena, os achados abrem espaço para novas hipóteses. Uma possibilidade é que pais mais atentos às suas próprias emoções acabem desenvolvendo maior empatia ou envolvimento na criação dos filhos.
Outra teoria é que, em alguns casos, o sofrimento emocional pode levar a uma postura mais reflexiva e sensível no ambiente familiar, o que favoreceria o desenvolvimento da criança.
Os cientistas alertam, que os resultados não devem ser interpretados como um incentivo à negligência do cuidado com a saúde mental paterna. Pelo contrário, os dados reforçam a importância de incluir os homens em políticas de apoio psicológico durante e após a gestação da parceira, algo ainda pouco comum em muitos sistemas de saúde.
A principal mensagem do estudo é que a relação entre saúde mental paterna e desenvolvimento infantil é mais complexa do que se imaginava.
Em vez de focar apenas nos riscos, é preciso também compreender os contextos em que pais com sintomas de ansiedade ou depressão podem, apesar das dificuldades, contribuir positivamente para a formação emocional e intelectual dos filhos. Compreender essa dinâmica é essencial para criar estratégias mais eficazes de apoio às famílias, especialmente durante os primeiros anos de vida da criança, um período decisivo para seu futuro.
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