São Paulo, 29/10/2025 - Os trabalhadores brasileiros estão no menor patamar de envolvimento com o trabalho desde 2023. De acordo com a pesquisa Engaja S/A , realizada pela Flash em parceria com a FGV Eaesp, o índice nacional de engajamento chegou a 39%, cinco pontos abaixo de 2024 e o menor valor desde que o estudo foi lançado, em 2023. Os não compromissados, portanto, chegam a 61%.
Esse cenário tem consequências diretas para a economia brasileira. O estudo revelou que o desengajamento pode custar R$ 77 bilhões por ano ao País, o equivalente a 0,66% do Produto Interno Bruto (PIB). O custo considera perdas por turnover (frequência com que os colaboradores entram e saem da empresa) e presenteísmo (quando o profissional está fisicamente no trabalho, mas possui desempenho abaixo do esperado).
O levantamento ouviu 5.397 pessoas em todas as regiões do País, entre junho e agosto de 2025. A maioria dos respondentes não possui ensino superior (61%), ganha entre 1 e 3 salários mínimos (54%) e atua em micro, pequenas e médias empresas (42%).
“Embora a remuneração seja um fator relevante, os resultados do estudo indicam que ela não compensa deficiências no clima organizacional, nem na qualidade da gestão. Fatores como relações de confiança, oportunidades de desenvolvimento e ambiente saudável continuam sendo os principais determinantes do engajamento”, afirma Renato Souza, professor de recursos humanos da FGV Eaesp e coautor do estudo.
Saúde mental
No Brasil, somente em 2024, foram 500 mil licenças médicas por transtornos mentais concedidas pelo INSS. A relação entre a saúde mental e o engajamento profissional é um consenso acadêmico, segundo a pesquisa. No mapeamento deste ano, a Engaja S/A revelou que 20% dos trabalhadores sofrem com sintomas de
ansiedade diariamente, enquanto 18% lidam com insônia e 14% com depressão.
A pesquisa também mapeou a relação entre saúde emocional e a motivação no trabalho. Cinco em cada dez trabalhadores ativamente desengajados (48%) enfrentam a ansiedade todos os dias, enquanto entre os engajados esse número cai para 15%. A tendência se repete para todos os sintomas mapeados na pesquisa, sempre com profissionais desengajados ou ativamente desengajados.
“A abordagem corporativa de saúde mental ainda é superficial e pontual, em vez de profunda e contínua. Questões como ansiedade e burnout são complexas e ultrapassam o ambiente profissional, mas, quando um colaborador se manifesta, o problema é frequentemente reduzido a uma questão de performance, ignorando os fatores reais que afetam seu bem-estar”, afirma Suzie Clavery, CHRO da Total Pass, uma das empresas que apoiaram a pesquisa, ao lado de Maturi, Cia de Talentos e Talenses Group.
Descanso e família
A pesquisa descobriu que descanso e equilíbrio são essenciais para manter o engajamento dos funcionários. Trabalhadores que adotam a semana de quatro dias registram 53% de engajamento, 14 pontos porcentuais acima da média nacional.
Por outro lado, quem atua nas escalas 6x1 e 12x36 apresenta índices mais baixos (40% e 36%, respectivamente) e maiores taxas de fadiga, insônia e depressão. Nas jornadas mais longas, 23% dos profissionais da escala 12x36 relatam ansiedade diária, 22% sofrem com fadiga, 23% com insônia e 14% com sintomas de depressão. Mesmo na 6x1 os índices são altos de sentimentos diários: ansiedade 22%; insônia 21% e tensão 23%.
“Esse quadro lança um alerta para empresas e para o debate público sobre a redução de jornada no Brasil. Mesmo quando há engajamento, ele vem acompanhado de sofrimento e desgaste”, afirma Renato Souza.
Outro fator que pesa no engajamento é o contexto familiar. Entre os casados, o engajamento chega a 44%, acima dos solteiros (33%) e dos separados (34%). Entre pais e mães, o índice é ainda maior: 45%, contra 30% entre quem não tem filhos.
Diferenças regionais
Desde a primeira edição, a pesquisa revela diferenças expressivas no engajamento dos profissionais de acordo com as regiões do Brasil. Em 2025, o Nordeste continua concentrando o maior número de trabalhadores engajados (45%), seguido pelo Norte (43%).
No Centro-Oeste o índice é de 38%. Já o Sudeste apresenta o menor porcentual de engajados (36%), mantendo-se três pontos abaixo da média nacional. Além disso, ao lado do Sul, a região registra o maior índice de ativamente desengajados, de 8%. As variações, segundo o estudo, ocorrem devido a diferenças estruturais e culturais nos ambientes de trabalho.
O que engaja
As três práticas que mais engajam os brasileiros, de acordo com a Engaja S/A, são modelo remoto ou híbrido de trabalho; day off de aniversário e benefícios flexíveis.
Paradoxalmente, segundo o estudo, nenhuma delas está entre as ações mais comuns nas empresas, que ainda investem prioritariamente em treinamentos, reuniões de resultado e avaliações de desempenho — práticas de baixo impacto sobre a motivação.