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São Paulo, 29/09/2025 - A busca por uma nova colocação é sempre um desafio. Principalmente, para quem tem 50 anos ou mais e está no mercado de trabalho, quer seja em busca de uma nova colocação ou fazendo uma transição de carreira, e precisam enfrentar também o etarismo na busca por uma vaga.
Segundo a pesquisa Etarismo e inclusão da diversidade geracional nas organizações, realizada pelas empresas Robert Half e Labora, 66% das pessoas a partir dessa idade ou acima que buscam emprego veem o preconceito etário como o principal obstáculo para retornar ao mercado de trabalho.
Alexandre Benedetti, diretor geral da Talenses, consultoria que atua no segmento de recrutamento e seleção, diz que vários fatores podem estar atrelados às dificuldades enfrentadas por esses profissionais em busca de uma recolocação, além da idade. Para ajudar no reposicionamento ou transição de carreira, Benedetti divide o processo em três pilares, que têm o objetivo de valorizar a experiência dos profissionais.
São eles, atualização e desenvolvimento contínuo, estratégia de busca da recolocação e atitude e mentalidade que o candidato precisa ter durante essas fases.
De acordo com Benedetti, o long life learning, ou aprendizado ao longo de toda a vida, é uma qualidade cada vez mais necessária, para atender às demandas das organizações. E o profissional precisa desenvolver e estabelecer esse comportamento. Nesse contexto, está a atualização tecnológica, vista como essencial, já que o mundo corporativo e organizacional está em constante transformação.
“Até ontem, era indústria 4.0, digitalização, hoje é IA. Todo mundo está aprendendo sobre IA e não se pode ignorar o fato de que essa tecnologia está mudando a forma de se trabalhar.”
Para ele, é necessário o profissional entender as tendências do setor em que atua e como a IA pode afetar o seu trabalho. Isso significa que não é necessário se tornar um especialista em inteligência artificial, mas saber como usá-la, que proveito se pode tirar dela em sua área de atuação.
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Desta maneira, a extensão do conhecimento que busca tem que estar em sintonia com sua experiência. “É fazer uma curadoria própria do que faz mais sentido para ele”, diz. Esse aprendizado, exemplifica, pode ser buscado em plataformas, cursos de MBA, Edtechs ou em escolas como o Senac.
No entanto, se o aprendizado de IA e tecnologia são importantes, também é preciso estar em dia com o conhecimento necessário para exercer as funções que deseja conquistar, a fim de lustrar suas habilidades já desenvolvidas na área.
A atualização também envolve habilidades comportamentais. A primeira delas é estar sempre aberto a querer aprender. E isso é fundamental para o long life learning, que também envolve a busca pelo aprimoramento das habilidades “técnicas”, aquelas relacionadas especificamente ao seu campo de atuação. Mas pode-se dizer que, na verdade, o posicionamento aberto ao aprendizado é a base, não só para o aprendizado constante, mas para a própria carreira e os rumos que se pretende dar a ela.
Uma outra habilidade comportamental considerada imprescindível é a adaptação a novas formas de trabalho. De acordo com Benedetti, o trabalho em equipe, cultura de squads e a colaboração hoje fazem parte do cotidiano do modo de trabalho de muitas organizações, mas não foi sempre assim. Foi preciso que líderes e equipes se adaptassem a esse modo de trabalhar, o que dá uma ideia da importância dessa habilidade.
“Cada vez mais se fala de novas formas de liderar. Na década de 1980, comando e controle era o que prevalecia, hoje todo mundo tenta migrar para trabalhos de time, em equipe, em squad”, diz. Para ele é necessário se perguntar:
“Quais são as competências comportamentais que eu tenho que ter para me encaixar nesse modelo? Como é que eu trabalho em equipe, na resolução de problemas?”
O segredo, na verdade, é estar sempre aberto também no desenvolvimento pessoal e emocional. Mas vale ressaltar: a formação de novas habilidades comportamentais são apontadas como mais difíceis de se conquistar, já que envolvem mudanças de hábitos e, às vezes, até de crenças.
Uma atitude importante na direção desse problema, diz Benedetti, é dar o primeiro passo: estar disposto a rever conceitos e aprender coisas novas. “Você tem que se conhecer e entender quais são as suas fortalezas e onde você pode agregar”, ressalta.
Neste ponto, está clara a necessidade de o profissional passar por um processo de autoconhecimento. Entender suas próprias fortalezas e fraquezas, tanto em termos técnicos quanto comportamentais, é essencial para definir um plano de ação eficaz.
Ferramentas como coaching, mentoring e até a psicoterapia podem ser úteis para ajudar a compreender melhor suas limitações, aumentar a autoconfiança e definir uma trajetória mais clara para o futuro.
Depois de ter claro para si quais são suas competências e pontos de melhoria, o próximo passo é definir uma estratégia de busca de emprego. Profissionais com mais de 50 anos devem focar em setores e empresas que valorizam a experiência. Devem se perguntar se vale o esforço de pleitear um posto em companhias que têm postura idadista em relação a esses profissionais.
O executivo da Talenses alerta para a importância das redes de contato, especialmente o LinkedIn, que têm sido, segundo ele, uma das principais ferramentas para profissionais se conectarem com oportunidades. Por meio dele é possível fazer uma abordagem mais direcionada. Ele reforça a importância do networking.
“Se você tem vergonha de se conectar, de pedir um favor, oferecer alguma coisa em troca é sempre uma via de mão dupla, network é isso”, diz. “Tem que avisar os seus contatos que você está procurando uma oportunidade, pedir feedbacks.”
Além disso, é crucial construir um currículo bem estruturado e atualizado, com informações objetivas sobre a trajetória profissional. Para quem já tem uma carreira longa, pode ser mais interessante focar nas experiências mais relevantes e no impacto que causaram nas empresas, em vez de detalhar todos os cargos passados.
Em relação ao terceiro passo, Benedetti diz que a mentalidade de quem está se recolocando no mercado de trabalho também deve ser ajustada. Ele defende que é fundamental adotar uma atitude positiva e resiliente. E reconhece que, para os profissionais com mais de 50 anos, pode ser um desafio recomeçar em cargos de menor hierarquia ou até mesmo em áreas novas, mas é importante ter em mente que a flexibilidade é uma vantagem competitiva.
O mercado de trabalho atual exige, segundo o executivo, profissionais que saibam lidar com mudanças rápidas, novos modelos de trabalho (como remoto e híbrido) e a constante evolução das empresas.
Além disso, ao entrar em processos seletivos, os profissionais de 50+ devem estar preparados para lidar com eventuais preconceitos relacionados à idade. Mostrar disposição para aprender e adaptar-se às novas realidades da empresa é um ponto positivo e que pode ajudar nesse processo.
Durante a entrevista, é importante apresentar exemplos concretos de situações em que o candidato se adaptou a mudanças e, assim, evidenciar a flexibilidade de pensamento e a capacidade de aprender novas habilidades.
Não é demais lembrar que a reinvenção da carreira não acontece do dia para a noite. A construção de um novo projeto de vida profissional requer tempo, paciência e, muitas vezes, um período de adaptação.
De acordo com o executivo, com uma abordagem estratégica, foco no aprendizado contínuo, disposição para adaptar-se às novas dinâmicas de trabalho e uma mentalidade resiliente, devem ajudar o profissional de 50+ a retomar sua carreira. As empresas que valorizam a experiência, a visão estratégica e a habilidade de resolver problemas complexos encontrarão um grande aliado em profissionais maduros.
Adaptação às novas dinâmicas de trabalho | Estar disposto a se adequar a novos formatos, como trabalho remoto ou híbrido. | - Aprenda ferramentas digitais. - Atualize seu currículo para incluir habilidades digitais e comportamentais. |
Mentalidade resiliente | Manter-se positivo e persistente diante dos desafios do mercado de trabalho. | - Estabeleça uma rotina de busca de emprego. - Pratique meditação ou técnicas de gerenciamento do estresse. - Conecte-se com outros profissionais na mesma situação. |
Experiência valorizada | Usar a vivência profissional como diferencial competitivo. | - Destaque projetos e resultados concretos no currículo, focando nas experiências mais relevantes - Conte histórias de sucesso em entrevistas. |
Visão estratégica | Demonstrar capacidade de planejar e tomar decisões com base em experiência. | - Mostre como você ajudou empresas a crescer ou resolver desafios. - Posicione-se como mentor ou conselheiro. |
Habilidade de resolver situações complexas | Mostrar competência na análise e solução de situações desafiadoras. | - Use a técnica STAR (Situação, Tarefa, Ação, Resultado) para contar casos em entrevistas. - Enfatize habilidades analíticas e de liderança. |
Alinhamento com empresas que valorizam maturidade | Buscar organizações que reconhecem o valor de profissionais experientes. | - Pesquise empresas com programas de inclusão etária. - Use o LinkedIn para fazer networking e se conectar a seus contatos e com recrutadores abertos à diversidade geracional. |
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