Arquivo/Fernando Frazão/Agência Brasil
Publicado em 08/08/2025, às 17h16 - Atualizado às 17h22
São Paulo, 08/08/2025 - Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, do Pará, o Brasil apresentou retrocessos no cumprimento das metas de desenvolvimento sustentável da ONU em 60% dos municípios – no período de 10 anos, entre 2015 e 2025, 2.565 cidades ficaram estagnadas e 763 pioraram.
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As informações foram expostas pelo Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades 2025 (IDSC-BR), divulgado nesta sexta-feira. A métrica é baseada nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, dentro de diversos indicadores que calculam os níveis de desenvolvimento urbano, social, econômico, educacional, de saúde e segurança pública no País.
Dos 100 municípios que apresentaram pior desempenho, 75 estão localizados no bioma amazônico e outros 19 no Cerrado. Os mais bem avaliados se concentram predominantemente no Estado de São Paulo, com 75 cidades de pequeno e médio porte. O local que obteve o pior índice no ranking foi Santana do Araguaia (PA), com 28,42 do IDSC-BR, que vai de 0 a 100. O melhor colocado foi o município de Uru (SP), com 66,83.
Nenhuma cidade obteve índice acima dos 80, mínimo necessário para a cidade conseguir IDSC-BR “muito alto”.
Quanto às capitais brasileiras, 11 registraram nível baixo de desenvolvimento sustentável (40 a 49,99 pontos) e duas, nível muito baixo (0 a 39,99 pontos). É o caso de Porto Velho (RO), Macapá (AM) e Rio Branco (AC) que tiveram um desempenho inferior a diversas cidades médias do Sudeste.
O Instituto Trata Brasil estima que 44,8% dos brasileiros não têm acesso à coleta de esgoto. Para Daniel da Mata, professor da FGV EESP, e principal pesquisador do FGV Cidades, o desafio das cidades nortistas e nordestinas mal avaliadas no ranking começa pelas limitações de acesso ao saneamento básico.
“Quase dois terços da população de Fortaleza, capital do Ceará, não tem coleta de esgoto. E no interior de São Paulo, temos municípios que têm 100% de cobertura de saneamento, como é o caso de Lins.”
No ODS 6, que traz o compromisso com a distribuição de água potável e saneamento, as cidades maranhenses Magalhães de Almeida e Primeira Cruz tiveram nível 0, enquanto as gaúchas São José do Sul e Montauri alcançaram índice superior a 98.
O pesquisador compara o Brasil à Índia, país que apresenta níveis de saneamento básico semelhantes à realidade nacional, mas com índices socioeconômicos inferiores. “A Índia tem mais população, mas tem metade da renda per capita do Brasil. Isso já corrigindo a totalidade do poder de compra. É um país com a mesma cobertura de esgoto e com metade do nível de renda, mostrando que o Brasil tem uma deficiência”, explica.
O levantamento também revela a dificuldade de municípios que investiram nos últimos anos em políticas públicas em aumentar o índice de desenvolvimento sustentável, como no caso de Senador Canedo (GO) e Ribeirão das Neves (MG). Para da Mata, isso se explica pelo tempo que leva as ações sociais se reverterem em resultados socioeconômicos e ambientais.
“Políticas de saúde que quebram a taxa de homicídio levam anos para ter uma efetividade. E quando você investe em educação, como é o caso de muitos desses municípios, para que isso chegue na esfera do trabalho e impacte na desigualdade, isso pode levar décadas.”
Na região Sul do Brasil, dois municípios com alto índice de renda per capita se destacaram por apresentarem índices gerais opostos. Joinville (SC) conseguiu atingir nível médio no IDSC-BR, enquanto Alvorada (RS) obteve classificação “muito baixo” em oito ODS ligadas a área ambiental e social. Segundo o especialista, essa discrepância se explica pela falta de comprometimento na execução de políticas públicas.
“Joinville apresentou indicadores melhores em várias dimensões educacionais, de saúde, e alguns indicadores ambientais, quase todos melhores que Alvorada. O desenvolvimento sustentável é multidimensional, depende da parte social e ambiental e não somente da parte econômica.”
A pirâmide social está invertendo, e com isso, o compromisso no cumprimento da agenda 2030 da ONU, que estabelece os objetivos de desenvolvimento sustentável não cabe somente às próximas gerações e sim as pessoas com mais de 60 anos que hoje são 15,6% da população brasileira, de acordo com o censo demográfico 2022 do IBGE.
Léa Gejer, coordenadora técnica do Governos Locais pela Sustentabilidade (ICLEI Brasil), destacou a necessidade de incluir a população 60+ nos debates da mitigação climática, em pauta na COP30, e nos ODS. “A primeira vez que o termo sustentabilidade foi utilizado foi na ECO-92, então é uma geração que está se familiarizando com as discussões ambientais a pouco tempo. Foi uma mudança muito rápida.”
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