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Por Joyce Canele
redacao@viva.com.brSão Paulo, 03/10/2025 - Enquanto regiões do Sul e Centro-Oeste enfrentaram chuvas intensas, o Nordeste registrou estiagens prolongadas. Os contrastes climáticos, cada vez mais frequentes, escancaram como o planeta vive um período de instabilidade ambiental sem precedentes.
Segundo a pesquisadora Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB) e integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, acrise climática não ocorre de forma isolada, mas atua como uma engrenagem que potencializa outras fragilidades.
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Em entrevista à Agência Brasil, ela observou que os impactos se manifestam em diferentes frentes: da fome e da escassez hídrica às migrações forçadas e aos conflitos geopolíticos. E chama atenção para o fato de que as sociedades modernas foram estruturadas em um período de relativa estabilidade climática nos últimos 10 mil anos.
A ruptura desse equilíbrio compromete diretamente o modo como as cidades e economias estão organizadas.
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Para ela, a desigualdade social é hoje o reflexo mais visível desse novo cenário, já que a concentração de renda dificulta tanto a adaptação das populações mais pobres quanto a implementação de políticas eficazes.
No campo das soluções, Bustamante defende que o ponto de partida deve ser a redução das emissões de gases do efeito estufa.
A transição energética robusta e rápida, com menor dependência de combustíveis fósseis, aparece como obrigação de todos os países.
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Mas a pesquisadora lembra que as ações individuais só ganham força se acompanhadas de políticas públicas bem estruturadas. Mobilidade urbana eficiente, moradias seguras e planejamento das cidades são alguns dos pilares para evitar tragédias recorrentes.
Ela também aponta que a agricultura, principal responsável pelas emissões no Brasil, precisa ser tratada com atenção estratégica.
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A preservação das florestas e a recuperação de áreas degradadas podem ao mesmo tempo reduzir emissões e ampliar a capacidade de absorção de carbono, além de gerar benefícios diretos para a qualidade de vida urbana e rural.
Vale lembrar da importância do Acordo de Paris, firmado em 2015, que estabeleceu como meta limitar o aquecimento do planeta em até 1,5°C neste século. Isso porque não basta o esforço individual de um país, já que a atmosfera é um bem comum.
Questionada sobre a posição dos Estados Unidos, que sob a liderança de Donald Trump reafirmaram a saída do Acordo de Paris, Bustamante reconhece que seria preferível ter a maior economia do mundo engajada. Mesmo assim, a ausência de cooperação de grandes emissores pode aumentar a instabilidade política e social em escala mundial.
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Para a pesquisadora, o tempo é o maior inimigo na luta contra as crises climáticas. Agora, com os impactos já evidentes, a prioridade deve ser acelerar respostas conjuntas e concretas.
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