São Paulo, 19/11/2025 - A todo momento aposentados e pensionistas se deparam com novos escândalos contra o INSS. São desfalques que resultam em prejuízos bilionários, impusionados por um sistema cuja grandiosidade é proporcional a sua fragilidade. O mais recente deles começou a ser investigado no fim de agosto, com a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.
A CPMI do INSS é composta por 32 titulares, entre deputados e senadores, tendo como principal objetivo apurar as denúncias de descontos indevidos feitos por associações em aposentadorias e pensões.
A Polícia Federal (PF) e a Controladoria Geral da União (CGU) estimam que este esquema, também conhecido como “Farra do INSS” ou “Aposentão”, tenha causado um prejuízo de R$6,3 bilhões de reais durante os governos Bolsonaro e Lula. Até o momento já foram realizadas prisões, várias autoridades de alto escalão foram convocadas e até foi sugerida a criação de projetos de lei.
A gravidade de uma situação que não é novidade e tão pouco difere do conhecido caso da ex-advogada Jorgina Maria de Freitas Fernandes, condenada, em 1992 por organizar um esquema de desvio de verbas de aposentadorias estimado em US$ 500 milhões. Considerado o primeiro grande escândalo da Previdência, posteriormente a Advocacia-Geral da União afirmou que a fraude foi de aproximadamente R$ 2 bilhões.
Jorgina de Freitas ficou 12 anos presa, após ser extraditada da Costa Rica, para onde havia fugido. Ela veio a falecer em 2022, após sofrer um acidente de carro. Seu caso até hoje serve como exemplo de uma sucessão de crimes que até hoje são praticados inescrupulosamente contra aposentados e pensionistas. Uma lista de escândalos que vão de fraudes milionárias em benefícios previdenciários até golpes feitos por médicos-peritos, muitos deles tendo aposentadorias rurais como alvos.
O que diz o INSS
Para o presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, as fraudes ocorrem principalmente pelo fato de o Instituto ser, atualmente, o órgão de maior capilaridade no País, com 90 milhões de segurados e 41 milhões de beneficiários. Uma grandiosidade que, segundo ele, não é impeditivo para que providências que possam reverter esse quadro de fraudes sejam tomadas.
Na verdade, o INSS vem trabalhando com afinco, primeiro para verificar o que está sendo descontado na sua folha, depois para questões de benefício, para facilitar o acesso", afirmou Waller Jr. ao VIVA.
E completa: "Sempre com alertas à população, com campanhas educativas, trazendo toda a sociedade, inclusive a imprensa, para poder educar e informar o nosso aposentado e pensionista das campanhas que têm sido feitas no INSS. Um exemplo típico disso é o da prova de vida".
O presidente da instituição destaca a campanha atual de
prova de vida, que desde outubro vem notificando os pensionistas.
E quanto ao futuro do INSS?
O advogado e especialista em direito previdenciário Gustavo Paviotti diz que os constantes golpes dados no INSS, perduram principalmente porque o crime se modernizou mais rápido que a proteção ao idoso. Se nos anos 90, na época da fraude da Jorgina, o golpe era físico, feito com papel e carimbo dentro de uma sala, hoje o perigo está invisível, num clique, no vazamento de dados.
O advogado não vê com otimismo a possibilidade do INSS se blindar de golpes. “Dizer que o INSS será 'blindado' é impossível, porque onde há dinheiro público, sempre haverá tentativa de fraude", diz.
O futuro seguro do INSS depende de tratar as informações do trabalhador com o mesmo rigor que um banco privado trata a conta dos seus clientes. Se a tecnologia servir para proteger o sustento dessas famílias antes que o dinheiro saia da conta, aí sim teremos uma instituição verdadeiramente segura e humana”.
As operações da Polícia Federal
A Polícia Federal, em parceria com o INSS e o Ministério Público Federal, atua contra fraudes previdenciárias desde o caso Jorgina de Freitas, desarticulando quadrilhas e prevenindo prejuízos bilionários aos cofres públicos.
Entre as operações mais recentes destaca-se a “Caça ao Tesouro”, que resultou na prisão de membros de uma organização criminosa responsável por fraudes estimadas em mais de R$ 50 milhões.
Para investigar esses crimes, a PF utiliza interceptações autorizadas pela Justiça, análise de bases de dados e auditorias integradas com o INSS, medidas que têm mostrado eficácia na identificação de irregularidades e no fortalecimento da credibilidade do sistema previdenciário brasileiro.
Tipos de golpes mais frequentes
Phishing:
Quando criminosos enviam mensagens falsas, fingindo ser do INSS, para obter dados pessoais e senhas por meio de links suspeitos.
Roubo de identidade:
Informações pessoais são utilizadas por golpistas para solicitar benefícios de forma fraudulenta, como se fossem os verdadeiros segurados.
Documentos e dados falsos:
São utilizados documentos adulterados e inseridas informações falsas nos sistemas do INSS para obter irregularmente benefícios como auxílio-doença, aposentadoria, salário-maternidade e pensão por morte.
Titular fictício:
Criação de identidades falsas com documentos forjados para receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC) destinado ao idoso. Qualquer desconto precisa ter autorização prévia do beneficiário para acontecer. A única exceção é para casos envolvendo decisão judicial.