Felipe Cavalheiro/Portal Viva
São Paulo, 210/09/2025 - Na sexta-feira, 19, foi inaugurado, na estação Comendador Ermelino, na zona leste de São Paulo; o "Mural da água". O grafite de 300 metros foi pintado gratuitamente por artistas locais, do grupo Poder Bélico da Favela, e representa várias paisagens da região, com seus córregos Mongaguá e Dois Irmãos.
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Realização do grupo Lab Ermelino, a ideia veio de sua coordenadora, Doutora Ana Paula Koury, quando percebeu a dificuldade que engenheiros, arquitetos e urbanistas encontravam para explicar a importância da preservação dos córregos locais, e dos métodos de drenagem corretos. Para ela, a ativação ajuda a integrar os moradores locais nas soluções.
Segundo o subprefeito de Ermelino Matarazzo, Alex F. da Silva, a arte irá compor uma cartilha que poderá ser usada pela Secretaria de Infraestrutura Urbana (SIURB) em obras de drenagem não só na região, mas em toda a cidade. Geógrafo de formação, Alex entende a ativação como um meio para engajar a população.
"O caderno de drenagem tem todo um estudo por trás; e quando as pessoas começam a entender como funciona, tudo caminha mais fácil."
Os grandes responsáveis pela obra são os artistas Age Waldir Grisoria, André CCCU, ArtVida e Kombo; enquanto a música que tomou o local durante a inauguração é de autoria do DJ sete. Também responsáveis por um famoso ponto turístico local, o Beco do Hulk, o grupo produziu tudo de forma independente, sem pagamento algum, afirmando que "nós plantamos hoje para colher amanhã".
André começou como artista de pixo, com 12 anos, e hoje é idealizador do Coletivo Cultural Cenário Urbano. Com diversos projetos pensados na conscientização do meio-ambiente, André explica que geralmente as soluções na cidade envolvem "passar concreto em tudo", porque soluções verdes dependem muito da participação popular. Para ele, a arte de rua tem este papel de mostrar o ambiente urbano como uma preocupação de cada morador. "Hoje falam muito em possuir, mas pouco em preservar", conta o artista.
O bairro Jardim Keralux, que margeia o rio Tietê, é um dos mais afetados da região. O nome vem de uma antiga e empresa de cerâmica, que começou a atrair moradores para a região nos anos 90. Hoje, após a falência da empresa, a comunidade conta com 12.000 pessoas, muitas morando em casas irregulares sobre o rio.
A invasão do Tietê é uma das causas das enchentes, preocupação que foi também retratada no grafite. Kaio Gameleira, especialista em urbanismo social e vice-presidente do Instituto União Keralux acredita que os problemas da região não são apenas técnicos, mas principalmente políticos; ligadsos ao racismo ambiental.
Na mesma semana, Gameleira recebeu o paisagista chinês Kongjian Yu. No encontro, além de reforçar a ideia dos problemas como questões sociais, também debateu a importância de soluções de drenagem baseadas na natureza. "O mais importante é que a cidade acolha o rio como parte dela", afirma.
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