Divulgação/Ministério do Trabalho
São Paulo, 19/09/2025 - O número de crianças e adolescentes submetidos ao trabalho infantil aumentou em 2024 e atingiu 1,65 milhão de pessoas de 5 a 17 anos – 34 mil a mais do que no ano anterior. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira pelo módulo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE. Apesar do crescimento, a quantidade de crianças que trabalham nestas condições caiu 21,4% desde 2016.
O contingente de crianças e adolescentes que trabalham representa 4,3% da população nessa faixa etária. O número de jovens submetidos ao trabalho infantil ficou mais expressivo entre os 16 e 17 anos, que passou de 14,7% em 2023 para 15,3% no ano passado. Nesta faixa etária, a evasão escolar foi mais expressiva: 18,2% dos adolescentes que trabalham afirmaram não frequentar a escola. Para os que não trabalham, este porcentual foi de 9,5%.
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Para Gustavo Fontes, analista da Pnad Contínua, o trabalho infantil, classificado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como aquele realizado abaixo da idade permitida pela legislação brasileira ou condicionada ao trabalho noturno, perigoso ou insalubre, afeta diretamente o desempenho escolar.
“A medida que a idade avança, existe uma associação entre o trabalho infantil e evasão escolar. Sobretudo, a partir dos 14 anos. É claro que uma criança que trabalha está exposta a determinados riscos ocupacionais que podem afetar também a saúde e o desenvolvimento.”
O analista reforça que a evasão escolar não é o único risco relacionado à exploração do trabalho.
“Se uma criança trabalha acima de vinte horas semanais e está atrasada em relação àquela faixa etária, isso também pode ser determinante pra ela ser classificada em situação de trabalho infantil.”
O levantamento destaca outras características predominantes dos jovens submetidos ao trabalho infantil, marcadas pela questão de gênero e raça. A maioria das crianças e adolescentes que trabalham são negras (66%), enquanto as brancas representam menos da metade (32,8%). A maior parcela pertence ao gênero masculino (66%).
Pessoas pretas ou pardas eram 66,0% da população de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil em 2024, enquanto as brancas representavam 32,8%. A maior parte é do sexo masculino (66,0%), mas as meninas receberam uma remuneração média abaixo, de R$ 693, em comparação com R$ 924 dos meninos.
As atividades que mais se destacaram foram no comércio e reparação de veículos (30,2%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (19,2%), seguidos pelo alojamento e alimentação (11,6%). Vale ressaltar que 20,5 milhões de jovens de 5 a 17 anos afirmaram cumprir afazeres domésticos, tarefas não classificadas como trabalho infantil.
O porcentual de crianças e adolescentes submetidas ao trabalho infantil em famílias que recebem o Bolsa Família foi ligeiramente mais expressivo no ano passado, atingindo 5,2% dos jovens de 5 a 17 anos, em comparação com o total de trabalhadores nessa faixa etária 4,3%.
Entretanto, há uma queda mais acentuada no trabalho infantil entre os beneficiários do programa social – em 2016, 7,3% trabalhavam. Para Fontes, a influência do benefício é inegável. “Os domicílios com crianças e adolescentes, que recebem o Bolsa Família, têm uma renda per capita inferior aos demais. Então, existe uma disparidade muito grande de renda que pode explicar esse aumento, mas a série histórica ainda é positiva”, detalha.
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