50+ adere à tecnologia na busca por imóvel, mas corretor ainda é fundamental

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Maior parte do público interessado em comprar ou alugar um imóvel ainda resiste a um processo 100% digital - Envato
Maior parte do público interessado em comprar ou alugar um imóvel ainda resiste a um processo 100% digital
Por Fabiana Holtz fabiana.holtz@viva.com.br

Publicado em 04/10/2025, às 08h00

São Paulo, 04/10/2025 – A informatização de processos no mercado imobiliário trouxe dinamismo e ferramentas capazes de concluir no mesmo dia processos que antes levavam dias. Nesse cenário, a adesão ao universo digital entre o público 50+ é grande no início da jornada da busca por um imóvel para compra ou locação. Porém, conforme o processo avança, não só essa faixa etária, mas todos os clientes em geral, demonstram preferência pelo contato presencial e por fechar negócio com um corretor.  

Pesquisa realizada pela Loft em abril, em parceria com a Offerwise, revelou que 80% das pessoas com 55 anos ou mais pretende iniciar a busca por imóveis em sites ou aplicativos. O número supera com folga a média de todas as faixas, que é de 64%. Foram ouvidos 1.400 pessoas em seis capitais (Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo).

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Outro levantamento recente das duas empresas, com mil respondentes de quatro capitais (Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio e São Paulo), apontou que apenas 15% das pessoas com 55 anos ou mais se sentem confortáveis com a ideia de comprar ou alugar um imóvel de forma 100% digital, sem visita ao local e encontro presencial com corretor. Na média geral, considerando todas as faixas etárias, esse índice chega a 18%. 

Mais da metade (55%) dos entrevistados acima de 55 anos afirmaram se sentir mais confortáveis com visitas e negociações 100% presenciais. E outros 30% afirmaram se sentir confortáveis com uma experiência híbrida. A faixa etária mais confortável com a ideia de uma experiência 100% digital é a de 25 a 34 anos (20%). 

Tecnologia como aliada

Larissa Schulz, gerente de Consumo e Mercado do QuintoAndar, maior plataforma de moradia da América Latina, considera que a tecnologia deixou de ser um diferencial apenas para os jovens. Ela menciona a pesquisa Habitar +50, feita pelo QuintoAndar em 2021, em parceria com o Instituto Data8, ao apontar que o perfil de consumidor mais tecnológico hoje é aquele que busca autonomia, simplicidade, agilidade e confiança nos processos.

“Hoje entregamos recursos como análise de crédito imediata, assinatura digital e busca por inteligência artificial. A tecnologia, nesse contexto, é vista como aliada para dar transparência e reduzir burocracias.”

Segundo o mesmo estudo, acrescenta ela, mais de 50% dos entrevistados acima de 50 anos já utilizam aplicativos de bancos, delivery ou transporte, e boa parte deles também se sente confortável em contratar serviços de moradia por meios digitais. “Em outros estudos do QuintoAndar, vimos que cerca de 80% dos nossos proprietários com mais de 50 anos utilizam sozinhos, sem ajuda de terceiros, plataformas digitais para anunciar seus imóveis para locação ou venda”, acrescenta.

Sem barreira geracional

Na avaliação de Schulz, não há barreira geracional: esse público reconhece o valor da tecnologia e a utiliza para tomar decisões práticas, inclusive na jornada de moradia. “Estamos em um momento em que o público 50+ é conectado e representa um grande potencial de consumo, que está em crescimento”. 

Fato é que hoje mais de um quarto da população brasileira já ultrapassou a 50 anos e projeções do IBGE indicam que, até 2050, a população com mais de 60 anos deve crescer 85%, enquanto os grupos abaixo desse recorte estão em queda constante.

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Além de ser um público que concentra um dos maiores volumes de capital disponível, muitos já atingiram o pico de acúmulo de patrimônio e entram em uma fase em que destinam uma fatia maior da renda ao consumo. “Dessa forma, cresce também a sua relevância para os negócios. Trata-se de um contingente expressivo, com poder de consumo, que interage cada vez mais com soluções digitais e valoriza, sobretudo, segurança, transparência e simplicidade na jornada imobiliária”, afirma a especialista do QuintoAndar.

Stephany Matsuda, diretora da vice-presidência da Gestão Patrimonial e Locação do Secovi-SP, concorda que o perfil dos compradores de imóvel ainda é de pessoas mais maduras. “Eles representam mais de 50% dos compradores e eles já aderiram ao digital, com certeza”, afirma.  

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Matsuda vê forte adesão do público 50+ ao universo digital - Divulgação/Secovi-SP

Outras pesquisas do setor já demonstraram que o público 50+ representa mais de 60% das aquisições no mercado imobiliário. Com relação ao uso de Inteligência Artificial no mercado imobiliário, ela recorda que enquanto nos Estados Unidos 85% das imobiliárias já contam com o auxílio da IA, no Brasil essa participação chega a 19% - um sinal do quanto esse mercado ainda pode avançar no País.

Complexidade digital

O estudo Habitar +50 revela que a maior barreira não é a falta de interesse, mas sim a complexidade de algumas soluções digitais. “Esse público valoriza clareza, segurança e simplicidade e muitas vezes desiste quando a experiência é confusa ou burocrática. Isso significa que, para eles, o design é o principal motor de confiança e usabilidade”, aponta Larissa Schulz, do QuintoAndar. 

“Isso reforça nossa missão de criar produtos que eliminem atritos e transmitam segurança. Acreditamos que isso só é possível quando o cliente está no centro de cada decisão, da primeira linha de código ao design final da interface”, acrescenta Schulz.

Escuta é essencial

Além da escuta ativa, para investir em funcionalidades que reduzem burocracias e tornam a interação mais fluida, o QuintoAndar vê o acolhimento como parte crucial do processo. Nesse âmbito, o suporte humano é visto como insubstituível em etapas decisivas. “Isso nos garante que o cliente contará com uma atenção individualizada, enquanto a tecnologia funciona como aliada para tornar a experiência mais prática e segura”, diz a especialista.

A pesquisa mostrou que esse público deseja soluções práticas, sem etapas desnecessárias. “A nova busca por imóveis, em que o cliente pode descrever o que deseja via texto ou voz, é um ótimo exemplo, pois ela permite uma interação intuitiva, buscando nas imagens dos anúncios as características que foram descritas, indo para além dos filtros”, conclui Schulz.

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Matsuda, do Secovi-SP, acredita que essa é uma tendência e veio para ficar. “Muito da evolução que vemos hoje é reflexo da pandemia e vem sendo aprimorado e melhorado ao longo do tempo”, destaca. Nesse contexto, o Secovi-SP montou um núcleo de novos empreendedores e que associa startups do setor. “Hoje temos mais de 100 startups relacionadas a tecnologia associadas a soluções inovadoras do setor e organizamos uma premiação anual”, conta a vice-presidente.

Facilidades chegam ao pequeno empreendedor

No mercado de imóveis comerciais o auxílio digital vem da SuaQuadra, plataforma criada por Pedro Donato no início de 2022 para ajudar o pequeno e médio empreendedor a encontrar um ponto comercial ideal para o seu negócio, seja ele um restaurante, uma loja de roupas, consultorio ou franquia de uma grande marca.

“Essa plataforma nasceu de um sonho que eu tinha de montar o meu próprio negócio. Cresci vendo meu pai e minha mãe empreendendo. Minha mãe tinha um escritório de arquitetura e quando resolveu mudar para a área imobiliária acompanhei de perto as dificuldades que ela enfrentou, principalmente na área comercial”, conta Donato.

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Donato vê o fator humano como essencial para a evolução do seu negócio - Arquivo Pessoal

Em três anos e meio, o SuaQuadra ajudou mais de 1.000 empreendedores na escolha de um imóvel para abrir o seu negócio e recebeu em torno de R$ 40 milhões em aportes de fundos de investimento como o Kaszek, Canary e ONEVC.

“Hoje contamos com 55 consultores e começamos o ano com 15. A ideia é entrar em 2026 com aproximadamente 100 consultores. E esse crescimento só é possível porque estamos conseguindo fazer coisas que antes não aconteciam no mercado. Gerando confiança através do atendimento consultivo, rapidez e segurança financeira”, diz Donato.

Na avaliação do empresário, a maior dificuldade é que esses imóveis estão espalhados por pequenas imobiliárias pela cidade. “Reunimos a maior base de imóveis comerciais da cidade de São Paulo em nossa plataforma. São quase 5 mil imóveis. Com isso, o processo fica muito mais prático e conveniente”.

Para Donato, o digital veio para somar e nunca irá substituir a visita presencial ao imóvel. “A tecnologia veio para simplificar e contribuir para essa experiência e transformá-la em algo mais agradável. A parte presencial acaba se tornando um pilar muito importante para o estabelecimento da confiança nessa relação”, explica. Ele ressalta tambem que são tantas as vantagens proporcionadas pela digitalização dos processos que ignorar isso seria muito ruim para todas as partes envolvidas. “Ao mesmo tempo, o fator humano ainda é essencial para o bom andamento desse processo”, defende.

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