São Paulo, 01/12/2025 - A alta dos preços da comida no supermercado está perdendo força em 2025. Essa conclusão é do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que monitora as cotações de diversos produtos e serviços e, a partir deles, constrói os chamados índices de
inflação - que mostram se os preços da economia estão aumentando ou diminuindo.
O mais importante dos índices de inflação é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), composto por diversas cestas (subgrupos) de preços, e considerado o índice oficial de inflação no Brasil pelo Banco Central. Um desses subgrupos é a inflação no domicílio, que engloba os alimentos que são comprados para consumo em casa, como arroz, feijão e carne.
A variação desse subgrupo de preços causou uma boa surpresa nos economistas: depois de aumentar 8,2% em 2024, de janeiro a outubro deste ano ele acumula uma alta bem menor, de 4,53%, e deve fechar 2025 em 4,5%.
Como esses preços, que afetam diretamente o orçamento e o dia a dia das famílias, têm um peso importante na composição do IPCA, esse resultado deve ajudar a equipe econômica do governo a fechar o ano com a inflação levemente abaixo do teto da meta, que é de 4,5%, segundo a última pesquisa Focus.
A expectativa para 2026, porém, é de que o cenário não seja tão favorável como o deste ano, apontam economistas consultados pela Broadcast, principalmente pela tendência de preços da carne bovina.
Recuo nos preços foi surpresa boa
A queda na cotação do dólar, as boas safras do ano, a redução nos preços das commodities (gêneros agrícolas como soja, café e milho) e das carnes e o próprio tarifaço (que levou ao aumento da oferta interna) são alguns dos elementos que ajudam a explicar a trajetória de moderação para a alimentação no domicílio no ano. No total, foram cinco meses consecutivos de queda nos preços do subgrupo nas leituras do IPCA, de junho a outubro.
"Este ano foi um dos anos de maior surpresa para baixo em alimentos em muito tempo", frisa o economista João Fernandes, da Quantitas. Segundo ele, depois de alguns meses de queda, esperava-se que o mercado voltasse a corrigir os preços para cima, o que demorou para ocorrer. O economista prevê uma alta de 2% para esse subgrupo no ano.
Além dos vetores que fizeram a inflação da alimentação no domicílio perder força, Fernandes chama atenção para o elemento que guiou sucessivas revisões para baixo na inflação do ano: a dinâmica do boi gordo, que contribuiu para a redução dos preços da carne bovina e também foi responsável para a Quantitas reduzir a projeção para a alimentação no domicílio de 2026, de 5,5% para 4,9%.
Carne mais cara em 2026
O cenário para o ano que vem, contudo, é de elevação para o preço da carne, no embalo do dinamismo das exportações e do ciclo do boi, mas Fernandes pondera que a situação é incerta. "A expectativa é de que o preço fique mais alto em 2026, mas isso está cada vez mais sendo postergado", destaca.
Para o economista Fabio Romão, da 4intelligence, dificilmente o cenário benigno para a alimentação no domicílio deve se repetir no ano que vem. No início de 2025, a projeção para o subgrupo era de alta de 7% e, agora, está entre 2,5% e 3%. "A recente apreciação do câmbio não se repete no ano que vem. A carne pode continuar subindo até meados do ano - não é nada dramático, mas a base de comparação ficou baixa", afirma.
Depois de encerrar 2024 em alta de 20,8%, a expectativa de Romão é de uma desaceleração para as carnes em 2025, a 1,7%, voltando a subir para 6,9% em 2026. Outros pontos de atenção para a inflação de alimentos, segundo ele, são as categorias de frutas, leites e derivados, e óleos e gorduras.
A dinâmica mais comportada dos preços da carne bovina em 2025 também foi um dos principais determinantes que levaram a estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andrea Angelo, a reduzir a projeção para a alimentação no domicílio no ano, próxima de 2,5%, ante uma estimativa de alta de 6% no início de 2025. "Foi muita surpresa em alimentos, os in natura e semielaborados também estão mais fracos", observa.
A inflação da alimentação no domicílio, contudo, não deve repetir a trajetória favorável em 2026, avalia Angelo, que projeta alta de 6% para o período. "Com o preço relativo muito baixo do feijão, arroz e leite, não vemos esse movimento perdurar pelo segundo ano consecutivo", explica a economista, que também espera uma elevação do preço da carne bovina.
A taxa de câmbio, estimada pela Warren em R$ 5,40 tanto para 2025 quanto para 2026, não deve pesar tanto na inflação de alimentos no próximo ano, ainda segundo a economista.