Bebês Reborn: o impacto financeiro (e emocional) do hobby que pode custar milhares de reais

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Entenda como o fenômeno do bebê reborn está afetando o bolso dos brasileiros - Foto: Envato Elements
Entenda como o fenômeno do bebê reborn está afetando o bolso dos brasileiros

Por Beatriz Duranzi

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Publicado em 05/06/2025, às 08h23

Bonecas que respiram, choram e encantam, ou quase isso. Os bebês reborn são réplicas hiper-realistas de recém-nascidos, produzidas artesanalmente para se parecerem o máximo possível com um bebê de verdade. Pele com textura, veias aparentes, peso semelhante ao de um recém-nascido, cabelos implantados fio a fio, até cheirinho de talco. Tudo é pensado para provocar uma conexão emocional imediata.

Mas o que para muitos pode parecer apenas um brinquedo sofisticado ou uma obra de arte colecionável, na prática, se revela um universo complexo, que envolve afeto, saúde emocional, propósito terapêutico, e um impacto financeiro significativo.

De acordo com João Victorino, administrador de empresas, professor de MBA do Ibmec e educador financeiro, os bebês reborn têm conquistado espaço justamente porque tocam em dimensões humanas muito profundas: o desejo de cuidar, o acolhimento da dor e a tentativa simbólica de preencher ausências emocionais. Ao mesmo tempo, podem se transformar em um hobby de alto custo.

Mas por que tanta gente se envolve emocionalmente com elas?

De acordo com a psicóloga Luciana Chiarioni, o vínculo com essas bonecas vai muito além da aparência. Elas podem ajudar a preencher o vazio emocional de pessoas que vivem sozinhas, enfrentam o luto ou a solidão, ou mesmo que lidam com doenças como o Alzheimer.

Em instituições de longa permanência, por exemplo, elas têm sido usadas para acalmar idosos, criar rotinas e estimular vínculos afetivos. Casos de ansiedade, depressão e até luto perinatal também têm na reborn uma ferramenta simbólica de conforto.

Além do aspecto terapêutico, o colecionismo também é forte. Muitos enxergam nas reborns uma forma de arte. Exibem as bonecas em redes sociais, montam cenários fotográficos, criam vídeos simulando a rotina com um bebê, o que alimenta uma comunidade crescente, especialmente no TikTok e no Instagram.

Mercado aquecido e números em alta

Apesar de parecer um nicho, o mercado de bonecas reborn movimentou aproximadamente US$ 200 milhões em 2024, segundo a consultoria Market Report Analytics. O setor tem crescido a um ritmo de 8% ao ano, embora ainda represente uma fração pequena dos US$ 24 bilhões movimentados pelo mercado global de bonecas.

Boa parte desse consumo vem de mulheres adultas, com idades entre 30 e 60 anos, que criam laços afetivos com as bonecas. Outras fatias incluem:

  • 25% das vendas voltadas ao público infantil
  • 10% destinadas a terapias clínicas, como em casos de demência
  • 3% adquiridas por homens jovens interessados em customização ou ASMR
  • 2% para uso institucional (escolas, hospitais, produções audiovisuais).

O Brasil entre os líderes de interesse

Curiosamente, o Brasil lidera as buscas no Google pelo termo “bebê reborn”. Por aqui, o mercado ainda é relativamente pequeno, mas crescente. Estima-se que cerca de 4 mil unidades sejam vendidas por mês, com preços que variam bastante:

  • Modelos simples: a partir de R$ 188
  • Artesanais detalhados: entre R$ 1.000 e R$ 3.000
  • Exclusivos em silicone sólido: podem ultrapassar R$ 10 mil.

O setor tem se expandido, inclusive, como alternativa de renda para mulheres em regiões periféricas. Segundo o Sebrae, os cursos voltados à produção de bonecas hiper-realistas cresceram 45% entre 2022 e 2024, com destaque para estados como Goiás, Minas Gerais e Paraná. Hoje, estima-se que o mercado reborn brasileiro já movimente mais de R$ 20 milhões por ano, considerando vendas, insumos, capacitações e monetização em redes sociais.

O custo emocional e financeiro

O envolvimento com uma reborn pode começar de forma inocente, como hobby ou terapia, e se tornar um investimento contínuo. Além da boneca, muitos consumidores compram:

  • Roupinhas reais: R$ 30 a R$ 150
  • Berços, carrinhos e acessórios: podem ultrapassar R$ 2.000
  • Cenários e kits fotográficos: até R$ 1.000
  • Manutenção (como trocar cabelo ou retocar pintura): entre R$ 200 e R$ 600.

A longo prazo, os gastos podem se acumular, especialmente quando motivados por impulsos emocionais. Em momentos de vulnerabilidade, a compra de novos acessórios ou bonecas pode se tornar uma forma de compensação afetiva, alerta João Victorino.

Entre o acolhimento e o exagero

Com a popularização das reborns, também surgem críticas e julgamentos. Vídeos de adultos simulando partos ou cuidando das bonecas como se fossem reais viralizam, muitas vezes com tom de deboche. Porém, especialistas lembram que os casos extremos são minoria e ganham visibilidade desproporcional nas redes.

A psicóloga Luciana Chiarioni ressalta que, em contextos bem acompanhados, as reborns podem ser instrumentos simbólicos válidos no enfrentamento de traumas e perdas. O problema surge quando a relação com a boneca ultrapassa o simbólico e compromete a vida cotidiana da pessoa:

  • Quando há confusão entre realidade e fantasia
  • Isolamento social ou prejuízo nos relacionamentos
  • Negação da dor emocional sem acompanhamento terapêutico.

Nesses casos, é fundamental buscar ajuda psicológica. O apego à reborn pode ser o começo de um processo de cura, mas nunca deve ser o único caminho.

O universo dos bebês reborn não é apenas curioso. Ele revela muito sobre os afetos humanos, os vazios que tentamos preencher e as formas que encontramos para lidar com a perda, o desejo e a solidão.

Por trás de cada bebê reborn, há uma história real, de luto, de amor, de arte ou de busca por conexão. Entender isso é essencial para evitar o julgamento superficial e abrir espaço para discussões mais empáticas sobre saúde emocional, consumo consciente e afeto.

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