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São Paulo, 07/11/2025 – Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgado nesta semana, aponta que 27% do valor repassado aos beneficiários do Bolsa Família em janeiro – o equivalente a R$ 3,7 bilhões – foi gasto em sites de apostas. Naquele mês, 18% das famílias (802 mil) comprometeram, de forma crítica, mais de 2% da renda com casas de aposta on-line, pondo em risco necessidades básicas.
O levantamento analisou dados de transferências de beneficiários em todo o País, fornecidos pelos Ministérios do Desenvolvimento Social e da Fazenda, além do Banco Central, por meio do cruzamento dos CPFs dos usuários. A análise se limita a janeiro de 2025.
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O TCU elaborou o relatório diante das limitações de uma Nota Técnica do Banco Central, que estimou que 5 milhões de famílias beneficiárias do programa transferiram R$ 3 bilhões às casas de aposta em agosto de 2024, sem distinguir se os recursos provinham do benefício ou de renda privada dos apostadores, nem considerar o eventual retorno das apostas aos ganhadores.
A despesa concentra-se em 20% das famílias apostadoras (889 mil), responsáveis por 80% do valor total das transferências (R$ 3 bilhões).
O relatório conclui que, para o restante das famílias, 80%, o risco de comprometimento da renda líquida é baixo ou médio. Entretanto, isso não exclui o risco dos 802 mil lares apostadores se endividem. “O retorno [das apostas] e não elimina o risco de que, mesmo com valores baixos, o comportamento de jogo possa ser prejudicial ou progressivo”, expõe.
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A análise técnica destaca que, dentro do grupo de 802 mil famílias, parcelas significativas ultrapassaram 3%, 4% e 5% de renda comprometida, o que, segundo estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Banco Mundial, caracteriza situações de alto risco que podem agravar a vulnerabilidade social.
“Esses números, mesmo com as ressalvas metodológicas, são preocupantes. A constatação de que centenas de milhares de famílias vulneráveis já se encontram em risco crítico, somada aos fortes indícios de fraudes milionárias, demonstra que o impacto das apostas no Programa Bolsa Família é problema real e multifacetado.”
O levantamento também identificou risco elevado de uso de CPFs de beneficiários do Bolsa Família para práticas ilegais, como lavagem de dinheiro. A suspeita surge da existência de transferências consideradas exorbitantes – 663 lares apostaram entre R$ 100 mil e R$ 1,5 milhão em janeiro deste ano.
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Uma única família transferiu R$ 2,1 milhões no mês, valor incompatível com a renda dos beneficiários. Outros 1,2 milhão de lares movimentaram quantias superiores a R$ 600, valor base do benefício.
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