Medo de investir? Jornada financeira começa pela coragem de mudar

Foto: Fabiana Holtz

Especialistas em finanças reunidos em evento sobre educação financeira abordam vício em jogos e apostas - Foto: Fabiana Holtz
Especialistas em finanças reunidos em evento sobre educação financeira abordam vício em jogos e apostas

Por Fabiana Holtz

redacao@viva.com.br
Publicado em 07/08/2025, às 11h16

São Paulo, 07/08/2025 – A intenção de investir e gastar está diretamente ligada a fatores comportamentais, o que explica o perfil ponderado de uns e o descontrolado de outros.

Para entender os gatilhos que motivam esses dois impulsos - de investir ou gastar - é preciso muita escuta e trabalhar com mudança de hábitos, segundo Tatiana Filomensky, psicóloga do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (IPq-HCFMUSP).

“Tive uma paciente que queria fazer um investimento, mas tinha muito medo, por não entender as condições e o funcionamento do mercado. Já para pegar um empréstimo e se endividar, ela não demonstrava o mesmo receio”, cita, apontando o paradoxo da situação. Segundo ela, foram necessárias  três sessões de terapia para que ela tomasse coragem de colocar o dinheiro em um investimento. 

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Segundo a psicóloga, que começou a ter contato com a questão no ambulatório que trata distúrbios do jogo e hoje trabalha com compradores compulsivos, sair desse círculo vicioso exige atenção, paciência e acompanhamento. “Em geral, a gente quer que as coisas aconteçam muito rápido. Não damos tempo para que se estabelecerem”, observa.

Mudança de hábito requer atenção e dedicação, ressaltou a psicóloga ao participar do painel “Dinheiro na cabeça: por que a gente gasta como gasta?”, realizado nesta quarta-feira na Casa de Portugal, em São Paulo, sobre educação financeira

Vocabulário de finanças rebuscado e inacessível

Também presente no debate, Christianne Bariquelli, head de Educação da B3, pondera que no caso do ‘medo de investir’, ainda há muita dificuldade com relação ao vocabulário utilizado para comercialização dos produtos financeiros. “Isso acaba deixando as pessoas com medo. Mas para qualquer mudança é preciso buscar um novo mindset (modo de pensar) de forma consistente”, afirmou.

Bariquelli observa que é preciso começar a olhar para esse correntista que tem recursos, mas não investe por medo, pela dificuldade em entender a linguagem dos produtos financeiros. “Esse é um trabalho constante da B3. Em primeiro lugar é preciso estar atento para a jornada de cada um, que não é a mesma para todo mundo”.

Ela podera também que é difícil ser consistente nesse caminho. “Podem acontecer escorregadas, somos humanos, erramos. Esse processo de mudança de hábito passa por um ciclo que é longo e pede comprometimento”, concorda.

Treino e repetição

Filomensky reforça que mudança de hábito é treino, é repetição. “Agora temos tudo na palma da mão, mas o nosso cérebro não mudou. Temos de olhar para o dinheiro de forma mais racional”, ensina. A psicóloga aconselha ainda que é preciso ter sempre em mente que para aguardar dinheiro não é preciso não estar devendo. A palavra certa aqui é planejamento.

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Debate no evento reuniu Christianne Bariquelli (B3), Uelton Carvalho (Febraban) e TatianaFilomensky - Foto: Fabiana Holtz

Dar o primeiro passo para investir exige compreensão das regras do jogo, grande tabu para os que ainda estão aprendendo os conceitos básicos da educação financeira. Nesse contexto, Bariquelli, da B3, concorda que esse é o grande desafio para os bancos. "Se aproximar com uma escuta atenta e entender as necessidades individuais de cada um; caminhar junto."

Com a mediação de Uelton Carvalho, gerente de Cidadania Financeira da Febraban, o painel integrou a programação do evento “Futuro da educação financeira no Brasil”, promovido pela Anbima, B3, Banco Central, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Febraban, FGC e Sebrae.

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