Novo consignado privado tem tíquete menor e juro médio de 6%, aponta Serasa Experian

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Segundo a pesquisa, o valor médio dos empréstimos do Crédito do Trabalhador gira em torno de R$ 5.380 - Envato
Segundo a pesquisa, o valor médio dos empréstimos do Crédito do Trabalhador gira em torno de R$ 5.380

Por Fernanda Trisotto e Cícero Cotrim, do Broadcast

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Publicado em 06/06/2025, às 11h03

Brasília, 06/06/2025 - O novo consignado privado, lançado pelo governo federal em março, tem ajudado a turbinar a oferta de crédito. Mas o tíquete médio de cada empréstimo representa menos de 30% do consignado tradicional, e a taxa de juros é mais do que o dobro da modalidade. Os dados constam de uma pesquisa da SalaryFits, da Serasa Experian, obtidos com exclusividade pela Broadcast.

O levantamento da empresa, responsável pela gestão de um terço dos contratos consignados no País, mostra que o valor médio dos empréstimos do Crédito do Trabalhador gira em torno de R$ 5.380. No consignado privado antigo, era de R$ 18 mil a R$ 20 mil. E a taxa de juros da nova modalidade, na plataforma da SalaryFits, é de 6% ao mês - o dobro dos 2,9% do modelo anterior.

O prazo médio de pagamento dos empréstimos no novo consignado privado é de 17 meses, contra 24 a 36 meses na modalidade tradicional, segundo o levantamento.

"Nessa nova pesquisa, 10% dos empréstimos ofertados foram para tíquetes menores do que R$ 1,5 mil, todos de curto prazo", diz o CEO da SalaryFits, Délber Lage. "Nesse caso, a taxa de juros tende a aumentar, por causa do custo de aquisição do cliente, e as taxas passam de 10% ao mês. É uma demonstração de um apetite controlado das instituições financeiras."

Várias razões explicam esse quadro, segundo o executivo. O Crédito do Trabalhador ainda está em uma fase de ajuste operacional e de tecnologia, enquanto os departamentos de RH das empresas se adaptam ao novo modelo. Além disso, em um primeiro momento, as instituições financeiras tiveram de originar crédito para clientes e empresas que não conheciam. Diante da incerteza, a opção é por oferecer empréstimos menores e com prazo mais enxuto.

"Os bancos estão projetando 10% a 12% de inadimplência, e tem toda a questão operacional, como 'e se o RH errar', por exemplo. Isso fez com que as IFs pisassem no freio", diz Lage. "E, apesar do que o governo prometeu, ainda não temos a garantia do FGTS para os empréstimos, e não tinha a garantia de um reimplante do contrato consignado se o trabalhador mudasse de um emprego CLT para o outro."

Segundo o executivo, há sinais de que a etapa de originação própria do novo consignado privado, iniciada em abril, levou a uma migração de crédito pessoal sem garantia para o novo consignado privado, por iniciativa dos bancos. Isso explica boa parte da taxa de juros e do tíquete médio da modalidade, porque o empréstimo pessoal costuma ter um tíquete menor do que a modalidade antiga do consignado.

Futuro

Hoje, 40% dos funcionários de empresas na base da SalaryFits - em sua maioria, grandes companhias - têm contratos consignados ativos, com uma média de dois contratos cada. Na avaliação de Lage, o Crédito do Trabalhador tende a elevar a média do mercado a este nível, inclusive por causa da exposição dada ao tema desde o lançamento da modalidade.

"Dá para dizer que esse é o mínimo esperado para as novas empresas com perfil de consignado", afirma o executivo, para quem há uma "demanda reprimida" de crédito no País.

No entanto, dificilmente as taxas de juros vão cair ao nível ambicionado pelo governo. Ele avalia que o mercado deve se segmentar entre funcionários de empresas com condição de tomar crédito mais barato, com uma taxa próxima de 3% ao mês, e outros trabalhadores que vão pagar 4,5% ou mais. Isso, segundo Lage, reflete o fato de que o Crédito ao Trabalhador deve alcançar pessoas que não tinham acesso da empréstimos.

Uma das principais questões no radar, diz Lage, é a portabilidade dos empréstimos do novo consignado privado para outros bancos, que começa a valer nesta sexta-feira, 6. "E se houver uma determinação para algumas instituições financeiras de colocar juros mais baixos? Isso gera um medo dessa portabilidade", afirma.

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