Foto: Envato Elements
Por Célia Froufe, da Broadcast
redacao@viva.com.brSão Paulo, 17/08/2025 - Mesmo que a tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras de café para os Estados Unidos seja mantida, dificilmente haverá baixa de preços no mercado doméstico, na avaliação da diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC), Vanúsia Nogueira. Em entrevista à Broadcast desde Londres, onde fica a sede da instituição, ela explicou que o quadro atual não está complexo para os produtores como já foi no passado.
Os recursos em caixa podem dar o tempo necessário para os cafeicultores verificarem qual será a efetiva situação do País em relação ao que os EUA farão sobre as alíquotas da commodity ou mesmo para buscar novos mercados.
"Não prevejo que o preço do café vá baixar no Brasil mesmo se pararem as vendas para os EUA, pois os produtores não estão com a corda no pescoço como já estiveram no passado. Passou o tempo em que não tinham dinheiro. A situação hoje está melhor e podem investir em armazenamento", considerou.
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Vanúsia disse que o grão mais comum pode ficar por cerca de um ano estocado e mesmo os cafés especiais podem permanecer guardados por um pouco menos de tempo, mas que quase chega a esse período também sem perder a qualidade para a venda. "Ninguém precisa ter desespero. É possível termos tempo e tratar do assunto com serenidade", assegurou.
O preço do café tem sido marcado por altas e recordes este ano, com especialistas prevendo que os valores elevados devem persistir até 2026, o que dá mais margem para que os cafeicultores possam esperar pela venda. Para o consumidor, após 18 meses de subida, o preço do pó caiu pela primeira vez em julho, de acordo com o IBGE. A baixa mensal foi de 0,36% - desde dezembro de 2023 não havia sido registrada qualquer redução. O valor nas gôndolas dobrou desde então.
A executiva não acredita que no curto prazo o café ainda seja incluído na lista de exceções para itens brasileiros divulgada no fim do mês passado e que deixou 694 produtos sem a tarifa adicional de 40% anunciada em 9 de julho - foi mantida, porém, a alíquota de 10% publicada em 2 de abril, data em que o presidente americano, Donald Trump, apelidou de Liberation Day. Foram beneficiados pelo recuo de Trump em 30 de julho aeronaves e suco de laranja, por exemplo.
Havia a expectativa de que os EUA poderiam mudar de opinião sobre o grão depois que o secretário do Comércio americano, Howard Lutnick, afirmou que seu país poderia reconsiderar e isentar bens incapazes de "crescer" em solo americano, como café, cacau e outros recursos naturais. "Ele havia frisado café e cacau nominalmente, mas mesmo assim não vieram na lista", lembrou a brasileira.
Apesar de não esperar uma mudança imediata, Vanúsia ainda mantém o otimismo numa reversão de tarifas sobre o produto por causa da pressão do consumidor americano. Ela salientou que já é um hábito muito arraigado no país o consumo de café e que o comprador já começará a sentir a diferença de preços. "Mantenho o otimismo porque o mercado americano vai fazer com que o governo entenda a situação", projetou.
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A busca por novos mercados, porém, não deverá sair do front dos cafeicultores, de acordo com a diretora da OIC. Um dos destinos que vem chamando mais atenção é o da China. Ela explicou que, apesar de ter havido um aumento de consumo muito grande no gigante asiático, ainda se trata de um nicho pequeno, marcado por jovens de classe alta, e que, portanto, ainda deve demorar alguns anos para que o hábito seja mais disseminado no país. Outras nações, no entanto, devem ser prospectadas.
Alguns produtores brasileiros chegaram a pensar em fazer triangulação de suas mercadorias, como informou Vanúsia. Por exemplo: vender o produto para México, Etiópia ou Colômbia, que já são fornecedores do mercado americano, e fazer o produto chegar ao destino final de forma indireta. O processo, porém, de acordo com ela, tende a encarecer o café por causa da logística. Além disso, a estratégia também seria facilmente detectada pelos EUA por causa dos grandes volumes brasileiros em relação a esses países exportadores e poderia sofrer outros tipos de sanções.
Mesmo antes do Liberation Day, a executiva da OIC enviou uma carta aos secretários Lutnick e Marco Rubio, de Estado, em fevereiro para explicar especificidades da produção brasileira e impactos para o País e os Estados Unidos caso Trump desejasse efetivar sua promessa de ampliar as tarifas. Segundo ela, nenhuma resposta foi dada até o momento.
Em 2017, os Estados Unidos saíram da OIC, que é uma entidade que congrega produtores e consumidores no Reino Unido. Na ocasião, durante o primeiro mandato de Trump, os EUA deixaram de ser membros de uma série de instituições multilaterais. Não há previsão de que o país volte a integrar a organização no curto prazo. E, se o fizer, será necessário passar por todo o processo a partir do zero. Vanúsia disse, porém, que a China já mostrou interesse em participar da OIC, mas que as conversas estão em uma fase inicial e que todo o trâmite ainda pode demorar.
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