Foto: Envato Elements
Por Beatriz Duranzi
[email protected]Há décadas, a televisão tem sido um item indispensável na casa de todas as famílias brasileiras. Sua história começou oficialmente em 1957 e, desde então, acompanhou de perto as mudanças da sociedade, os avanços da tecnologia e os costumes de várias gerações.
Foram 68 anos de transformações que fizeram muitos hábitos parecerem completamente absurdos hoje. Das antenas improvisadas às gambiarras com fios, a TV sempre esteve no centro de uma relação intensa entre os brasileiros e a tecnologia.
Relembrar essas situações é também abrir um baú de memórias que misturam riso, nostalgia e um certo alívio por termos superado algumas dessas práticas.
Antes do controle remoto se tornar um item comum, mudar de canal exigia mais do que vontade, exigia levantar do sofá. Isso mesmo: era necessário ir até o aparelho e girar um botão barulhento. Se quisesse aumentar o volume ou ajustar o contraste? Lá ia você de novo. Só mesmo os preguiçosos mais persistentes tentavam mudar de canal com um cabo de vassoura.
O controle remoto, tal como conhecemos hoje, só começou a ganhar popularidade a partir dos anos 1980 e ainda assim, por muito tempo, foi considerado um luxo.
Improvisar uma solução para o sinal fraco da antena era quase um ritual doméstico. A palha de aço era posicionada com cuidado na ponta da antena para tentar "puxar" um sinal melhor.
Nem sempre funcionava, e às vezes até piorava, mas a esperança era tanta que parecia mágica. E quando não era a palha de aço era a luta para posicionar a antena interna em um ponto específico, geralmente com alguém na sala gritando: “Agora melhorou! Fica assim!”
Nos casos mais extremos, havia ainda a missão de subir no telhado para ajustar a antena externa, geralmente sob a coordenação de um parente lá embaixo, gritando orientações pouco precisas.
As antigas TVs de tubo eram verdadeiros trambolhos. Pesadas, grandes e com um design que parecia mais uma caixa de ferramentas do que um eletrônico. Mudar a TV de lugar era uma operação completa, não dava para fazer sozinho, principalmente os modelos de 29 polegadas, que podiam pesar mais de 40 kg.
Nos tempos das TVs analógicas, era comum ver uma verdadeira teia de fios atrás dos móveis. Sem tecnologia sem fio ou entradas HDMI organizadas, os cabos se multiplicavam: antena, videocassete, videogame, adaptadores, régua de tomada, benjamins e extensões sobrecarregadas.
E quando o cabo da TV quebrava? Nada de assistência técnica. Bastava uma tesoura, fita isolante e um pouco de coragem para refazer a ligação direto na tomada.
Durante anos, jogar videogame virou uma questão diplomática entre pais e filhos. Muitos ouviam dos adultos que "ligar o Atari na TV estraga o aparelho". Um argumento que hoje não faz sentido técnico algum, mas que foi usado com maestria para limitar o tempo de jogo.
O motivo real? A televisão era um item único na maioria das casas, e seu uso era cuidadosamente dividido. Os pais queriam ver novelas, jornais ou futebol. Já as crianças queriam jogar. E a solução? Espalhar o boato de que o videogame queimava a TV.
A televisão passou por uma revolução. Mas, mais do que um objeto tecnológico, ela é também um espelho do tempo. Cada geração tem uma memória afetiva ligada à TV: um programa favorito, uma novela marcante, um desenho que fez parte da infância.
Hoje, com Smart TVs conectadas à internet, streaming e múltiplas telas por casa, pode parecer difícil imaginar que um dia o único aparelho da casa já tenha sido disputado entre a família inteira. Mas é justamente essa lembrança coletiva que torna a televisão tão presente, não só fisicamente, mas também emocionalmente, na vida dos brasileiros.
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