Cresce número de corredores e 50+ representam uma grande fatia do segmento

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A região Sudeste lidera em número de corredores (51%), enquanto as regiões Centro-Oeste e Norte ficam na lanterninha, com 7% cada - Envato
A região Sudeste lidera em número de corredores (51%), enquanto as regiões Centro-Oeste e Norte ficam na lanterninha, com 7% cada
Por Alessandra Taraborelli alessandra.taraborelli@viva.com.br

Publicado em 31/08/2025, às 09h00 - Atualizado às 12h05

São Paulo, 31/08/2025 - Passar dos 50 anos não significa colocar o pé no freio, pelo contrário, muitas pessoas nesta faixa etária estão descobrindo a corrida como opção de saúde e bem-estar. Mas, é preciso adotar alguns cuidados para evitar lesões e poder curtir a corrida sem problemas. Essa modalidade vem caindo no gosto das pessoas. Seja sozinho ou em grupo, o fato é que o interesse de pessoas por este esporte só cresce.

A pesquisa “Por Dentro do Corre”, realizada pela Olympikus, em 2024, mostra que 13 milhões de pessoas correm no Brasil e que este é o quarto esporte mais praticado no País, ficando atrás de caminhada, musculação e futebol. 

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De acordo com a pesquisa, 58% dos corredores são homens e 42%, mulheres. Quando considerada a faixa etária, 42% tem mais de 45 anos, 46%, entre 25 e 45 anos e, 12% entre 18 e 24 anos. Desse total, 15% são da classe A, 49%, classe B e, 36%, da C. A região Sudeste lidera em número de corredores (51%), enquanto as regiões Centro-Oeste e Norte ficam na lanterninha, com 7% cada.

Para identificar os motivos do boom da corrida, foram feitas três perguntas aos dois mil entrevistados. Na primeira pergunta, 65% dos corredores afirmaram consumir conteúdos sobre o assunto nas redes sociais; na segunda questão, 75% dos entrevistados informaram que começaram a correr a partir de 2021/22 (esportistas do lockdown); e, na última, 83% afirmaram correr para cuidar da saúde como um todo. Além disso, 65% dos entrevistados com mais de 45 anos concordam que “não tem jeito certo de correr, cada pessoa tem seu estilo de corrida”.

Avaliação médica

De acordo com Ana Paula Simões, médica do esporte e ortopedista, para praticar a corrida, por ser uma atividade de impacto, é necessário que se faça uma avaliação médica inicial para verificar os sinais vitais de risco, checar histórico de lesões, fatores de risco cardiovascular, eventuais desequilíbrios, entre outras coisas.

“Acima de tudo, a questão vital é avaliar a parte cardíaca, que é a única coisa que tem risco iminente de vida numa corrida. A pessoa não sabe se tem alguma predisposição genética de sofrer morte súbita, por exemplo. Isso é o mais importante.”

No caso de pessoas com mais de 50 anos, a médica chama a atenção para a perda de massa muscular e o ganho de gordura. Ela lembra que, nesta fase da vida, a mulher começa a lidar com a menopausa e o homem, com a andropausa e, por isso, é importante ajustar a intensidade e a frequência da atividade física.

Benefícios da corrida

A corrida pode contribuir para melhorar aspectos da saúde, além de colaborar para o controle de peso, aumento da densidade mineral óssea e da força muscular.

No campo cognitivo, Simões ressalta que estudos apontam redução no risco de declínio da cognição e melhora da memória quando se faz uma atividade física. E, no aspecto emocional e social, a corrida libera endorfina, serotonina, reduz sintomas de ansiedade, depressão e proporciona o engajamento entre os amigos de forma social quando feita em grupo.

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Para as mulheres, a especialista lembra ainda que pode contribuir com as questões de climatério e menopausa. “O exercício aeróbico regular, como a corrida ajuda a reduzir aquelas ondas de calor, melhora o sono, contribui para a massa óssea aumentar e a massa muscular também. E, além disso, reduz o risco cardiovascular de comorbidades, porque geralmente esse risco é maior depois da menopausa. E é ainda mais positivo na autoestima e na saúde mental”, pondera.

Foco na alimentação

A nutricionista e professora da Afya Unigranrio Andressa Miranda, ressalta que é preciso ficar atento com a alimentação. Ela lembra, por exemplo, que um dos erros mais comuns em corredores 50+ é a hidratação insuficiente. Isso acontece porque, com o envelhecimento, a percepção de sede diminui, fazendo com que muitos corredores bebam água apenas quando já estão em processo de desidratação. Além disso, a baixa ingestão de frutas ricas em água, como melancia, melão e laranja, reduz ainda mais o aporte hídrico diário, favorecendo fadiga, câimbras e queda de rendimento.

Outro erro recorrente é a omissão de refeições, prática que alguns adotam acreditando que isso ajuda no controle do peso. De acordo com Miranda, pular refeições reduz a energia disponível para os treinos, aumenta o risco de hipoglicemias e compromete a recuperação muscular. Esse hábito, aliado a um consumo calórico total muitas vezes insuficiente, leva a déficits energéticos crônicos, que resultam em perda de massa magra, redução da densidade óssea e maior predisposição a lesões

Outro ponto de atenção é o baixo consumo de proteínas nessa faixa etária. Muitos corredores mantêm padrões antigos de alimentação com pouca ênfase em alimentos proteicos, esquecendo que, após os 50 anos, a síntese de proteínas pelo organismo é menos eficiente e a necessidade relativa desse nutriente aumenta.

“A consequência é a maior dificuldade em preservar massa muscular e em acelerar a recuperação pós-exercício. Soma-se a isso a ingestão desequilibrada de carboidratos: por vezes, há excesso de carboidratos simples, como pães refinados, biscoitos e doces, que geram picos de glicemia seguidos de queda abrupta de energia, quando o ideal seria priorizar fontes complexas no dia a dia e reservar os carboidratos simples para momentos estratégicos próximos ao treino ou à competição”, ressalta.

Baixo consumo de frutas e vegetais, que não são apenas fontes de água, mas também de fibras, antioxidantes e micronutrientes essenciais, aumenta o estresse oxidativo, dificulta a recuperação muscular e prejudica a saúde intestinal.

A professora lembra ainda que a ingestão adequada de calorias auxilia na manutenção das funções vitais e oferece suporte a prática de corrida. “É importante que um nutricionista calcule uma dieta específica para as necessidades de cada indivíduo. A adequação proteica ao longo do dia é um outro fator e deve ser distribuída em todas as refeições, para manutenção muscular. Os carboidratos têm um papel fundamental na oferta de energia. O ideal é que se tenha estoques adequados antes e após treinos, para garantir energia e reposição do glicogênio muscular”, afirma.

Treinadores para orientar

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Arquivo pessoal

A treinadora e professora de educação física Kelly Niglio de Luca destaca a diferença entre ter um acompanhamento personalizado e fazer atividade física em academia. Ela explica que o treinador primeiro entende a necessidade de cada indivíduo e, a partir daí, vai desenhando o treino. Outro ponto importante é que, geralmente, são usados aplicativos em celulares ou relógios que permitem que o treinador veja o desempenho do aluno durante o treino e possa fazer ajustes, caso haja necessidade.

Luca explica que a maioria dos seus alunos são mulheres, é que o grupo foi crescendo a partir do incentivo de uma para a outra e, embora os treinos sejam passados de forma virtual, muitas se juntam para correr. “Eu percebi uma dor muito grande das mulheres de não conseguir treinar presencial, porque elas não conseguiam chegar, dependiam de outra pessoa para ficar com filho, tinham que estudar, trabalhar.... Fui prestando atenção em todas essas necessidades, tanto das minhas alunas quanto das minhas. E chegou um momento que eu falei: 'e se fosse online? E se tudo isso fosse online e cada um fizesse no horário que pode?'”. A ideia funcionou, e hoje a profissional atende no modelo online, mas também se reúne de tempos em tempos com as alunas para treinar para alguma prova.

O treinador e personal trainer Anderson Teles, também é adepto da consultoria online. O atleta que inicialmente tinha o basquete como esporte preferido, encontrou o amor pela corrida após sofrer uma queda e quebrar o braço.  “Eu treinava a corrida para ganhar condicionamento físico para o basquete. Aí eu quebrei o braço e o basquete ficou inviável. Então, comecei a me dedicar a corrida, quando tinha meus 13, 14 anos, e essa foi a melhor troca que fiz”, afirma.

Durante a universidade ele foi convocado para fazer parte da seleção brasileira de atletismo, onde

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ganhou duas medalhas de bronze, um de prata e uma de ouro. Mas desde a universidade, Teles acumulou mais medalhas e já participou de muitas competições nacionais e internacionais.

Foi essa paixão por corrida que o levou a fundar a sua consultoria, também no modelo online e com encontros presenciais. “Temos alguns encontros presenciais, principalmente na USP, em São Paulo. Eu percebo que eles gostam demais desses encontros presenciais. Tem o bate-papo, todo mundo treinando junto, todo mundo com o mesmo objetivo. Marcam as corridas de rua juntos, e depois vão todos para uma padaria tomar um café. Esse social, esse convívio, acho que vieram em busca disso e a corrida nos dá isso. Acho que esse é o principal fator que tira eles de casa para praticar a corrida. Querendo ou não, a corrida é um treinamento árduo, difícil”, pondera.

Amor a corrida

A dentista Tatiana Monzani, 50 anos, diz que sempre gostou de corrida, mas foi em 2000 que começou a levar o hobby a sério. No começo, ela se dividia entre correr sozinha ou com uma amiga, mas por volta de 2005 decidiu entrar em grupo com assessoria para receber orientações. Mas foi após correr uma meia maratona, que a dentista resolveu buscar orientação profissional para se preparar para uma maratona.  

“No começo eu tinha uma instrutora que me dava algumas dicas e fui fazendo o que ela mandava. Depois resolvi que queria fazer uma coisa mais legal, porque decidi que iria correr uma maratona. Pensei: é aí que começam as lesões. Todo corredor começa a correr e depois tem a fase das lesões, porque a grande maioria não gosta de fazer fortalecimento. Odeio musculação e tudo bem. Mas faço, justamente porque não quero me machucar, já me machuquei muitas vezes”, relembra.

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Monzani revela que hoje faz duas assessorias, uma com planilha (online) e um presencial. “Uma das coisas que acho legal na corrida, principalmente quando a gente faz uma assessoria, é que mudamos o clima, mudamos o seu dia a dia, você conhece pessoas diferentes, de todas as idades, totalmente diferentes da sua, você sai um pouquinho daquele seu mundinho. Isso faz muito bem. Falo que é minha terapia, é muito bom”, revela.

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