Foto: Envato Elements
Por Joyce Canele
redacao@viva.com.brO Dia do Orgasmo, comemorado em 31 de julho, pode parecer, à primeira vista, apenas mais uma data curiosa no calendário. Mas a verdade é que ele carrega um propósito importante: colocar o prazer sexual no centro das conversas sobre saúde, qualidade de vida e bem-estar.
Criada no Reino Unido no fim dos anos 1990, a data surgiu como parte de uma campanha de sex shops e marcas do mercado erótico para incentivar o debate aberto sobre sexualidade, com foco especial no orgasmo feminino, frequentemente ignorado ou tratado como tabu. A proposta cresceu, ganhou repercussão internacional e, com o fortalecimento das redes sociais nos anos 2000, se transformou em um movimento global.
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Hoje, mais de duas décadas depois, o Dia do Orgasmo não é apenas sobre sexo ou erotismo. É sobre direito ao prazer, autoconhecimento, relacionamentos saudáveis e o papel da sexualidade na saúde integral do ser humano. Ainda assim, o assunto continua cercado de silêncio, preconceito e desinformação.
Falar sobre orgasmo ainda gera desconforto, principalmente entre mulheres e entre pessoas maduras, que muitas vezes cresceram em ambientes onde expressar desejos era visto como inadequado, vergonhoso ou imoral.
Entre o silêncio e o constrangimento, é comum que o prazer, especialmente o feminino, fique em segundo plano ou sequer seja considerado. Desde os anos 1990, muitas mulheres ainda relatam dificuldade em atingir o orgasmo, e essa dificuldade não se resume apenas a questões físicas. Há uma combinação de fatores como:
Do ponto de vista fisiológico, é importante lembrar que o corpo feminino é mais complexo. Enquanto o organismo masculino precisa bombear cerca de 10 ml de sangue para provocar uma ereção, o órgão sexual feminino, que envolve estruturas internas e sensíveis, demanda aproximadamente 200 ml de sangue para atingir um nível completo de excitação.
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Isso significa que, para a mulher, estímulo físico e contexto emocional caminham juntos. É preciso tempo, segurança, liberdade e ausência de pressões para que o prazer aconteça de forma plena
Segundo o Cleveland Clinic, muita gente ainda pensa no orgasmo como uma reação única, com começo, meio e fim parecidos para todo mundo. Mas a verdade é que existem diferentes tipos de orgasmos e conhecer cada um deles pode ajudar no autoconhecimento, no bem-estar sexual e até em relacionamentos mais satisfatórios.Veja os principais tipos:
Entender os diferentes tipos de orgasmo não é apenas uma curiosidade: é um passo importante para quebrar tabus e melhorar a relação com o próprio corpo.
Além disso, existem muitos fatores que podem interferir negativamente no desejo sexual das mulheres e na capacidade de alcançar o orgasmo. Questões como sobrepeso, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool, uso de tranquilizantes, uso prolongado de anticoncepcionais de baixa dosagem, doenças vasculares, diabetes, endometriose, miomas e até a chegada da menopausa são exemplos comuns.
Todos esses elementos podem impactar diretamente na lubrificação, sensibilidade e disposição para o sexo, reduzindo o prazer ou tornando o orgasmo mais difícil de alcançar.
E se isso tudo já é um desafio para mulheres mais jovens, o obstáculo tende a ser ainda maior entre as pessoas com mais de 50 anos. Muitas vezes, o assunto sequer é discutido em consultas médicas ou em rodas de conversa.
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Há um mito persistente de que o desejo sexual diminui com a idade ou que, depois de certa fase da vida, o sexo deixa de ser relevante. Isso é falso. O prazer não tem prazo de validade, e a sexualidade faz parte da vida adulta em todas as fases. Ignorá-la é desconsiderar um aspecto importante da saúde mental, emocional e física.
Por isso, o Dia do Orgasmo é também um convite à reflexão: por que ainda temos tanto receio de falar sobre prazer? Por que o orgasmo feminino é, muitas vezes, tratado como algo secundário ou até dispensável? Por que ainda é tão comum que mulheres coloquem suas necessidades em último lugar?
A resposta passa pela falta de educação sexual e pela cultura do silêncio em torno do corpo e do prazer. Romper com isso exige coragem, informação e empatia. Exige também que profissionais de saúde tratem o tema com naturalidade e que campanhas públicas considerem a sexualidade como parte essencial da saúde em todas as faixas etárias.
O crescimento de espaços seguros para diálogo, o avanço das pesquisas sobre sexualidade feminina, a valorização do autoconhecimento e o aumento da visibilidade de pautas ligadas à saúde sexual são sinais de que estamos no caminho certo.
Mas ainda há muito a ser feito, principalmente quando o assunto é a vida sexual de pessoas maduras, um grupo frequentemente invisibilizado nesse debate.
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Falar de orgasmo, portanto, não é só uma questão de prazer, é uma forma de cuidar de si. De buscar relações mais saudáveis, com mais presença, intimidade e liberdade. De afirmar que o corpo merece respeito, atenção e acolhimento em todas as fases da vida.
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