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Por Guilherme Siqueira, especial para o Viva
redacao@viva.com.brSão Paulo, 04/11/2025 - Reunir amigos para a prática de jogos de tabuleiro é uma opção de se desligar das telas, aproveitar a companhia de pessoas queridas e exercitar o cérebro. E não é só brincadeira de criança. Muitos adultos têm aderido ao hobby, movimentando esse mercado.
O interesse por jogos analógicos vem crescendo, segundo dados da Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq). A linha de jogos é a que mais cresce nos últimos 10 anos, passando de 8,6% em 2014 para 14,8% em 2024. Além de tabuleiros, esse recorte compreende jogos como os de cartas, figuras e memória.
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É o caso de Vera Almeida, de 60 anos. Servidora pública aposentada, ela conta que sua relação com os jogos começou aos 12 anos, quando jogava Detetive. Há alguns anos, foi convidada por amigos para conhecer jogos modernos e passou a frequentar uma loja especializada no hobby, em São Paulo. Ela comenta que seus favoritos são os "partygames", categoria de jogos mais curtos e dinâmicos. Com novos jogos, a brincadeira se tornou frequente em suas reuniões de família.
“Quando há uma festa de família, a motivação acaba sendo essa: comer e depois começar a jogar. Às vezes, a gente recebe amigos em casa e o jogo acaba sendo um um fator de união”, diz. E completa:
Eu acho que as pessoas estão se cansando um pouco do virtual e procuram outras maneiras de se conectar e se divertir. O jogo de tabuleiro traz isso".
Segundo os organizadores da 10ª edição do Diversão Offline, principal evento de jogos analógicos da América Latina, que foi realizado em setembro, 10% dos participantes tinham mais de 55 anos.
As pessoas com mais idade não estão somente entre os consumidores de jogos, mas também do lado do empreendedorismo. É o caso de Lucy Raposo, 58, dona da Ludus Luderia, bar especializado em jogos de tabuleiro localizado no bairro Bela Vista, na capital paulista.
A empreitada começou com um sócio em 2007, mas após poucos meses ela seguiu sozinha, conciliando seu negócio com a criação de seus filhos gêmeos.
Hoje, a empreendedora começa a ver um público mais maduro marcar presença no local. “Eu trabalho com o público jovem, monitores mais jovens, e isso me deixa muito antenada. Mas, ultimamente eu vejo que estão chegando pessoas com mais de 50 e 60 para jogar também”, afirma.
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Para o engenheiro Alexandre Tauszig, de 57 anos, entusiasta de jogos desde a infância, o hobby no resto do mundo tem um público maduro já, mas no Brasil o fenômeno é mais recente, e se fortaleceu com o surgimento de editoras especializadas.
“Jogo era para criança no Brasil. Essa explosão dos últimos anos para jogos voltados ao público adulto encontrou uma demanda reprimida; as pessoas mais velhas que curtem jogar não sabiam que existiam tantas opções”, avalia Tauszig.
E para quem quer começar, Vera Almeida recomenda procurar lugares especializados, que contam com monitores dedicados a explicar as regras. “A pessoa pode ir tranquila e com quem quiser. Eu já levei minha mãe, de 97 anos, ela vai lá e fica jogando Genius enquanto a gente experimenta os jogos de tabuleiro na loja”.
Já é lugar comum que atividades cognitivas são benéficas para o envelhecimento saudável e uma melhor qualidade de vida. Contudo, pesquisas que se voltam especificamente para os benefícios dos jogos analógicos indicam que essa prática também pode contribuir com o envelhecimento saudável.
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Um levantamento publicado em 2023 por pesquisadores da Fundação IRCCS San Gerardo dei Tintori e da Universidade de Milão-Bicocca, ambas na Itália, investigou se os jogos poderiam prevenir ou retardar o declínio cognitivo. Para isso, os pesquisadores usaram meta-análise de cinco bases de dados científicas para levantar estudos sobre o tema.
Os resultados concluíram que os jogos de tabuleiro melhoraram a capacidade cognitiva. Jogos como Xadrez, Ska, Go e Mahjong tiveram resultados como a melhora de funções executivas, como flexibilidade cognitiva e controle das inibições; da qualidade de vida; e do Teste de Trilhas A, que mede a atenção visual, entre outros exemplos.
“Jogos de tabuleiro tradicionais podem retardar o declínio cognitivo global e melhorar a qualidade de vida em idosos. Diferentes jogos têm impactos variados em domínios cognitivos específicos, possivelmente mediados por fatores funcionais e biológicos”, resume o estudo.
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