Brasília, 08/09/2025 - Bolsonaristas se reuniram nas principais capitais do País neste domingo, 7, em atos marcados pelo apelo pela anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro e críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo julgamento que pode levar o ex-chefe do Executivo à condenação por crime de golpe de Estado.
Aliados do ex-presidente destacaram, diversas vezes, que só vão aceitar uma anistia que beneficie Bolsonaro, inclusive cobrando publicamente que os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), pautem o tema. Também foram reforçadas as críticas ao ministro do STF Alexandre de Moraes, acusado pelo bolsonarismo não só de suposta perseguição política, mas também religiosa.
Foi destaque o pronunciamento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que evitou se colocar como candidato em 2026, alegando que Bolsonaro, se concorrer, vencerá o pleito. Já Tarcísio acenou à base do ex-presidente, cobrando que a cúpula do Congresso paute a anistia imediatamente e ainda atacando diretamente Moraes ao citar “tirania”.
Como resultado, recebeu um afago do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, que o classificou como um “leão” por sua articulação em favor da proposta que pode livrar Bolsonaro de uma condenação e restabelecer sua elegibilidade.
As manifestações bolsonaristas deste domingo, 7, foram marcadas por bandeiras dos Estados Unidos, faixas críticas ao STF, bonecos do ministro Alexandre de Moraes e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, falas sobre o dia estar “Magnitsky” - em trocadilho com “magnífico”, em referência a sanções dos EUA a Moraes - e até cartazes em inglês, com “agradecimentos” e pedidos de ajuda ao presidente Donald Trump.
Os atos tiveram tom personalista, focado no ex-presidente e em seus familiares, às vésperas da semana em que Bolsonaro enfrentará o momento decisivo do julgamento da ação da qual é alvo no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado. A Primeira Turma do STF realiza sessões de terça-feira, 9, a sexta-feira, 12, para concluir a análise do caso envolvendo o chamado “núcleo crucial” do que a Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta como trama golpista para evitar a posse de Lula.
Para tornar Bolsonaro presente nos eventos - considerando que o ex-presidente está em prisão domiciliar -, aliados reproduziram áudios antigos do ex-chefe do Executivo, em especial falas mais reativas intercaladas por trechos da música Tropa de Elite. Também houve acenos e manifestações de apoio ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos a pretexto de “ajudar” o pai, mas é investigado por articular sanções daquele país a produtos brasileiros. “Não recue, não fraqueje” foram algumas das mensagens que os bolsonaristas quiseram passar ao parlamentar.
Com relação à anistia, os apoiadores de Bolsonaro que discursaram no Rio de Janeiro e em São Paulo tentaram apelar para os crimes imputados ao ex-presidente e a condenados pelo 8 de janeiro, numa tentativa de justificar uma eventual anistia que alcance o ex-presidente. Os aliados dizem que Bolsonaro e sentenciados pelo STF, como a ‘Débora do Batom’, foram acusados dos mesmos crimes.
Assim, sustentam que “se não der anistia para Bolsonaro, não pode dar para a Débora”. A fala, no entanto, deixa estrategicamente de fora a acusação de que Bolsonaro teria liderado a organização criminosa que articulou o suposto golpe - justamente o que atrai o julgamento do ex-presidente no bojo do ‘núcleo crucial’.
No Rio de Janeiro, o ato ocorreu pela manhã, encabeçado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho 01 do ex-presidente. A manifestação ocorreu em frente à praia de Copacabana. Os organizadores do evento chegaram a se antecipar, ironizando possíveis críticas sobre o esvaziamento do ato.
Em São Paulo, a manifestação ocorreu na Avenida Paulista, à tarde, sendo o principal ato organizado pelo bolsonarismo neste domingo.
Imagens aéreas da manifestação em São Paulo, transmitidas ao vivo pelas redes sociais do pastor Silas Malafaia, mostraram que o trio elétrico em que os políticos discursaram ficou a um quarteirão do Masp. Os apoiadores bolsonaristas se concentravam, principalmente, na direção do prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mas também em direção à Avenida Consolação.
Durante os atos, os aliados de Bolsonaro argumentaram que o julgamento no STF é um “teatro” e um “circo”, por considerarem certa a condenação do ex-presidente. No entanto, mesmo com a expectativa de condenação e da inelegibilidade do ex-chefe do Executivo, o presidente do PL sustentou que o partido “não tem plano B” e insistirá na candidatura de Bolsonaro. O dirigente conta com a anistia, que - segundo ele - tem o apoio de União Brasil, PP e PSD.
Na mesma linha, o pastor Silas Malafaia afirmou que nenhum dos filhos de Bolsonaro "nem ninguém da direita" deve dizer "se [Bolsonaro] não for candidato, estou aqui". "É imaturidade política", destacou. "Que papo é esse de dizer que A, B ou C é candidato da direita? Calem a boca", bradou.
Já as referências mais duras a Motta e Alcolumbre partiram de Flávio Bolsonaro. "Não deixem que o nosso Legislativo seja mais uma vez pisado e humilhado por Moraes", disse em mensagem à cúpula do Congresso. "Não cedam à pressão covarde de Moraes, porque vocês têm que entrar para a história como aqueles que pacificaram o País, que ouviram a voz das ruas e como aqueles que respeitam a Constituição e não são capachos de ministro nenhum do Supremo Tribunal Federal", completou.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro fechou o ato em São Paulo e reforçou o discurso de perseguição aos bolsonaristas por suas crenças. Em um discurso cheio de teor religioso e com a voz embargada, Michelle disse que Alexandre de Moraes conseguiria o perdão de Deus caso se arrependa de seu pecado e pediu orações para o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que é seu enteado e está nos Estados Unidos para pedir sanções ao Brasil.
Michelle foi apresentada pelo locutor como “referência de mulher” e repetiu declarações de Bolsonaro de que a família está subordinada à Justiça divina. Durante o discurso de Michelle, as câmeras do evento, transmitido nas redes sociais, mostraram alguns manifestantes chorando na plateia.