Washington, 03/09/2025 - Grandes representantes do Produto Interno Bruto (PIB) de Brasil e Estados Unidos rechaçaram o tarifaço do presidente Donald Trump e defenderam o diálogo na primeira audiência pública da investigação do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (
USTR, na sigla em inglês). Mais do que discutir prós e contras do Sistema de Pagamentos Instantâneos (Pix) ou da Rua 25 de Março, ficou claro nos debates que é limitada a margem para negociar condições comerciais mais vantajosas sem o envolvimento do Planalto e da Casa Branca.
Nesta quarta-feira, representantes de setores atingidos pelas tarifas - agronegócio, café, cerâmica e grandes empresas de tecnologia - participaram da audiência. Aberta em julho, a investigação do USTR acusa o Brasil de supostas práticas desleais em comércio digital, pagamento eletrônico, tarifas preferenciais, proteção de propriedade intelectual, mercado de etanol e questões ambientais, com base na Seção 301 da Lei de Comércio.
Nas discussões gerais, porta-vozes defenderam que Brasil e EUA conversem: as tarifas seriam um "perde-perde" para ambos. Já em temas setoriais, como o etanol, representantes foram a favor da investigação contra o Brasil, alegando práticas protecionistas no País.
Para o lobista americano Brian Ballard, "os empresários brasileiros não são os inimigos do povo americano e não merecem ser punidos". Ele admitiu, porém, que a semana não é ideal para discutir tarifas, em referência ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ballard foi contratado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) para defender o setor privado.
'Apenas o começo'
"Não seremos capazes de mudar a postura do governo dos EUA, mas essas empresas merecem ser ouvidas, e estamos esperançosos de que teremos sucesso", disse ele a jornalistas. "Mas isso é apenas o começo e, novamente, não é a melhor semana para lidar com essas coisas, mas é o que é."
O vice-presidente de Américas da Câmara de Comércio dos EUA, Neil Herrington, pediu "deliberação cuidadosa" ao USTR. "Estamos preocupados que as tarifas tenham um impacto adverso nas cadeias de suprimentos e possam iniciar um ciclo de retaliações", afirmou durante a audiência.
O setor de tecnologia defendeu ampliar canais bilaterais para evitar que o Brasil se aproxime ainda mais da China, principal parceiro comercial do País. "Queremos evitar pressionar o Brasil a aprofundar a cooperação com empresas de tecnologia não americanas", disse Husani Durans de Jesus, do Conselho da Indústria de Tecnologia da Informação (ITI).
"Os EUA devem aproximar o Brasil, e não empurrá-lo para os braços da China em busca de uma China mais forte", reforçou Ed Brzytwa, da Associação de Tecnologia de Consumo.
Já Melinda St. Louis, da Data Privacy Brasil, criticou o uso da Seção 301 pelo governo Trump para "maquiar tarifas que são politicamente motivadas contra o Brasil". Segundo ela, a medida "não é motivada por nenhuma questão econômica e legal, mas por uma tentativa de interferir no processo do ex-presidente Jair Bolsonaro".
O embaixador Roberto Azevêdo afirmou que o setor privado pode abrir caminhos, mas não há negociação sem os governos. "É muito difícil você pensar em uma negociação propriamente dita sem ter os governos envolvidos. A diplomacia é estatal", disse a jornalistas.
Acostumado a lidar com o comércio e com a administração Trump, Azevêdo avaliou: "É muito difícil você se surpreender com o fato de que o presidente Trump está trazendo para a mesa e para a dinâmica coisas que nunca tinham sido feitas antes, porque não será a primeira vez que ele faz isso".
Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), alertou que a tarifa de 50% pode causar um "distúrbio no comércio internacional", sobretudo para pequenas empresas e produtores quanto mais tempo vigorar a taxação de Trump contra o Brasil. "Quebra as empresas, quebra o produtor, porque o produtor vende só para cá", concluiu.