Lula critica tarifaço, defende regulação das big techs e fala em genocídio em Gaza

Ricardo Stuckert / PR

Na abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU, Lula disse que não há justificativa para as medidas arbitrárias contra nossas instituições - Ricardo Stuckert / PR
Na abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU, Lula disse que não há justificativa para as medidas arbitrárias contra nossas instituições

Por Aline Bronzati e Gabriel Hirabahasi, da Broadcast

redacao@viva.com.br
Publicado em 23/09/2025, às 13h33
Nova York e Brasília, 23/09/2025 - Na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas,  o presidente Luis Inácio Lula da Silva iniciou seu discurso com um recado duro contra os Estados Unidos e contra Bolsonaro, apesar de não mencionar nominalmente o ex-presidente brasileiro, os norte-americanos ou mesmo  Donald Trump. Ele criticou as sanções impostas pelos EUA ao Brasil, por causa do processo contra Jair Bolsonaro, e disse que “não há pacificação com impunidade”.Também afirmou que a autoridade da Organização das Nações Unidas (ONU) “está em xeque”.
Segundo disse, o Brasil, “mesmo sob ataque sem precedentes”, decidiu “resistir e defender sua democracia”. Segundo ele, “em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades, cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias cívicas e digitais e cerceiam a imprensa”.
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 “Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Essa ingerência em assuntos internos conta com auxílio de uma extrema-direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade”, declarou.
“Há poucos dias e pela primeira vez em nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado democrático de direito. Foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado por seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas”, afirmou.

'Candidatos a autocrata'

“Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e aqueles que os apoiam. Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis", disse, sob aplausos. E continuou: "Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela. Democracias sólidas vão além do ritual eleitoral."
Lula disse que a Assembleia Geral das Nações Unidas “deveria ser um momento de celebração”, já que a ONU “simboliza a expressão mais elevada da aspiração pela paz e prosperidade”.
“Hoje, contudo, ideais que inspiraram seus fundadores estão ameaçados como nunca estiveram em sua história. O multilateralismo está diante de uma nova encruzilhada. A autoridade desta organização está em xeque. Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por concessões à política do poder. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra”, afirmou, em crítica direta ao poder da ONU hoje em dia e sua autoridade para evitar conflitos mundo afora.
Lula disse que o uso de força letal em situações em que não há um conflito armado representa uma execução de pessoas sem o devido julgamento. Alegou que a forma mais eficaz de combater o tráfico de drogas é reprimir a lavagem de dinheiro e limitar o acesso a armas de fogo. Afirmou que "é preocupante a equiparação entre a criminalidade e o terrorismo", como vem fazendo o governo de Trump.

Big techs

Em outro momento de seu discurso, defendeu a regulação das plataformas digitais e disse que aqueles que se opõem a ela estão ajudando a "encobrir interesses escusos. Declarou que as "plataformas digitais trazem possibilidade de nos aproximar como jamais havíamos imaginado, mas têm sido usadas para semear intolerância, misoginia, xenofobia e desinformação".
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"A internet não pode ser terra sem lei, cabe ao poder público proteger os mais vulneráveis. Regular não é restringir liberdade de expressão, é garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim também no ambiente virtual", afirmou o presidente brasileiro, que foi o primeiro chefe de Estado a discursar na assembleia.

Gaza

O petista condenou os “atentados terroristas perpetrados pelo Hamas” e disse que eles são indefensáveis “sob qualquer ângulo”. Apesar disso, criticou o que chamou de “genocídio” em Gaza e disse que milhares de mulheres e crianças inocentes estão sendo mortas pelas forças israelenses.
“Ali também estão sepultados o Direito Internacional Humanitário e o mito da superioridade ética do Ocidente. Esse massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo. Em Gaza a fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunemente”, disse.

Ambiente

Afirmou que a defesa da preservação do meio ambiente faça parte da agenda central da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo ele, sem o compromisso de redução de emissão de gases estufa, o mundo "caminhará de olhos vendados para o abismo".
Lula defendeu que "é necessário trazer o combate à mudança do clima para o coração da ONU, para que ela tenha a atenção que merece". A sugestão foi criar um conselho vinculado à Assembleia Geral, "com força e legitimidade para monitorar os compromissos".
O presidente ainda afirmou que "poucas áreas retrocederam tanto como o sistema multilateral de comércio" e que "medidas unilaterais transformam em letra morta princípios basilares como a cláusula de Nação Mais Favorecida".

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