Brasília, 11/07/2025 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ao Jornal Nacional na noite desta quinta-feira, 10, que o presidente americano, Donald Trump, está “
tentando atrapalhar uma relação muito virtuosa que o Brasil tem com os Estados Unidos” e afirmou que, se esgotadas as possibilidades de negociação, vai conversar com empresários para procurar novos mercados para os produtos brasileiros hoje exportados ao mercado americano.
“Governo não pode admitir ingerência de um país na
soberania de outro”, disse Lula, que reclamou do fato de Trump não ter ligado previamente para ele. “É inaceitável que o presidente Trump mande uma carta, pelo site dele, dizendo que é preciso acabar com a caça às bruxas. Isso é inadmissível.”
“Vamos tentar fazer todo o processo de negociação que for possível fazer. O Brasil gosta de negociar, o Brasil não tem contencioso”, afirmou o presidente. Lula disse ainda que poderá apelar à
Lei de Reciprocidade Econômica caso as conversas não prosperem. “A gente não aceita desaforamento contra o Brasil.”
Questionado sobre o motivo de não ter estabelecido contato direto com o governo do segundo maior parceiro comercial do Brasil, Lula respondeu que não teve, até agora, nenhuma razão para conversar com Trump. O presidente acreditava que
encontraria o líder americano na reunião do G7, no Canadá, em junho, mas Trump foi embora antes do fim do evento. “A reunião foi feita em um lugar muito escondido, porque o Trump não seria bem recebido no Canadá.” A cúpula foi realizada nas Montanhas Kananaskis, na Província de Alberta.
Lula disse que poderá conversar com Trump, como já fez com os antecessores, caso haja motivo. “Quando eu tiver um assunto sério para tratar com os Estados Unidos, eu não terei nenhum problema de pegar o telefone e de ligar para a Casa Branca pedindo para conversar com o presidente”, afirmou.
O presidente reforçou que será criada uma comissão de negociação com empresários e representantes do governo para analisar a questão. “E eu mesmo vou procurar novos mercados para os produtos brasileiros, esse é o meu papel. Inclusive, de dizer aos empresários: Vamos juntos abrir novos mercados”.
Lula ainda argumentou que também haverá consequências da tarifação na economia americana. “A relação entre dois Estados tem que ser uma coisa respeitosa, um presidente não é dono da verdade, um presidente não tem relação ideológica com outro. Eu nunca tive relação ideológica, eu converso com o presidente do país, seja ele quem for.”
Escalada sem fim
Segundo o presidente Lula, entrar em uma disputa tarifária com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, levaria a uma escalada sem fim das taxas de importação. “Se ele ficar brincando de taxação, vai ser infinita essa taxação, vamos chegar a milhões e milhões e milhões de porcento de taxa. O que o Brasil não aceita é intromissão nas coisas do Brasil. Ele tem direito de tomar decisão em defesa do país dele, mas com base na verdade”, disse Lula em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo.
O presidente afirmou que “Trump deve estar muito mal informado, porque há déficit no comércio do Brasil com os Estados Unidos”, e que a pessoa que informou o presidente americano sobre um suposto déficit na relação com o Brasil “mentiu”.
Lula disse ainda que o Brasil “vai tentar, com outros países, que a Organização Mundial do Comércio tome posição para saber quem está certo e quem está errado” e que, “se não houver solução, vamos entrar com a reciprocidade já a partir de 1º de agosto”.
Questionado sobre se as discussões do Brics poderiam ter colaborado para a decisão de Trump de impor o tarifaço contra os produtos brasileiros, Lula ironizou e disse que o bloco “trabalha pelo Sul Global” e que cansou de “ser subordinado ao norte”.