Trump impõe tarifa de 50% ao Brasil e justifica citando tratamento a Bolsonaro e ações do STF

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Tarifa anunciada por Trump será aplicada "a qualquer e todo produto brasileiro enviado aos EUA", independentemente de outras taxas em vigor - White House
Tarifa anunciada por Trump será aplicada "a qualquer e todo produto brasileiro enviado aos EUA", independentemente de outras taxas em vigor

Por Pedro Lima e Flavia Said, da Broadcast

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Publicado em 09/07/2025, às 18h21

São Paulo e Brasília, 09/07/2025 -- O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto. Trata-se da mais alta alíquota divulgada a partir de cartas enviadas pelo republicano aos países desde o início desta semana.

A decisão foi justificada principalmente como resposta ao tratamento dado pelo Brasil ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra empresas americanas de tecnologia. "O modo como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado no mundo, é uma desgraça internacional", disse Trump. "Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!", escreveu.

Segundo o presidente americano, a medida também responde aos "ataques insidiosos às eleições livres" e às "ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS" que, segundo ele, vêm sendo emitidas pelo STF contra redes sociais dos EUA, sob ameaça de "multas de milhões de dólares e expulsão do mercado brasileiro".

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Trump declarou ainda que o comércio bilateral tem sido "há muito tempo injusto" e que os EUA precisam se afastar de uma estrutura baseada em "barreiras tarifárias e não tarifárias" impostas pelo Brasil. "Nossa relação tem estado longe de ser recíproca", afirmou. Ele advertiu que, caso o governo brasileiro responda com aumento de tarifas, qualquer porcentual adicional será somado à alíquota de 50%.

Investigação 

O presidente também anunciou a abertura de uma investigação formal contra o Brasil. "Devido aos contínuos ataques do Brasil às atividades de comércio digital de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR), Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação sob a Seção 301", escreveu.

A Seção 301, da Lei de Comércio de 1974, permite aos EUA reagirem a práticas estrangeiras consideradas desleais ou discriminatórias que afetem seu comércio.

A tarifa de 50% será aplicada "a qualquer e todo produto brasileiro enviado aos Estados Unidos", independentemente de outras taxas setoriais em vigor. Mercadorias redirecionadas por terceiros para escapar da cobrança também serão taxadas. Trump acrescentou que empresas brasileiras podem evitar a medida se passarem a produzir dentro do território americano.

A carta não cita nenhuma taxação adicional aos países alinhados aos Brics, como Trump tem repetido nos últimos dias.

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Mais cedo, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, havia dito, que não via "nenhuma razão" para aumento de tarifa dos Estados Unidos em relação ao Brasil.

"Eu não vejo nenhuma razão para aumento de tarifa em relação ao Brasil. O Brasil não é problema para os Estados Unidos, é importante sempre reiterar isso", afirmou Alckmin após participar de evento na sede do MDIC, em Brasília. "Os Estados Unidos têm, realmente, um déficit de balança comercial, mas com o Brasil têm superávit." Trump, por sua vez, disse em coletiva durante almoço multilateral com líderes africanos, na Casa Branca "O Brasil não tem sido bom para nós".

Equívoco

Alckmin também considerou “equivocada” a declaração do presidente americano sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Isso é uma coisa totalmente equivocada. Acho que ele [Trump] está mal-informado”, afirmou o vice.

Em seguida, ele citou o caso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “O presidente Lula ficou preso quase dois anos, ninguém questionou o Poder Judiciário, ninguém questionou a questão do País. É um assunto do Judiciário, é assunto interno do Poder Judiciário”, disse. “Não tem sentido uma interferência dessa, ela não é adequada, talvez até por desconhecimento”, completou.

Na segunda-feira, 7, na rede social dele, a Truth Social, Trump escreveu: "Deixem Bolsonaro em paz". E chamou os processos judiciais contra o ex-presidente brasileiro de "perseguição" e "caça às bruxas".

No mesmo dia, o presidente Lula reagiu e disse que a defesa da democracia no Brasil compete aos brasileiros. "Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei. Sobretudo, os que atentam contra a liberdade e o estado de direito", disse Lula em nota divulgada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência.

Já nesta quarta, a embaixada dos EUA no Brasil disse que Bolsonaro e sua família têm sido "fortes parceiros" dos norte-americanos, e afirmou que a "perseguição política contra ele, sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil".

Palavras-chave Alckmin Bolsonaro STF tarifas Trump

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