Reserva global do dólar não vai desaparecer tão cedo, diz Nouriel Roubini

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O economista Nouriel Roubini fez palestra no evento Prêmios Broadcast 2025 - Divulgação
O economista Nouriel Roubini fez palestra no evento Prêmios Broadcast 2025

Por Daniel Tozzi Mendes, Caroline Aragaki, Francisco Carlos de Assis e Eduardo Laguna, do Broadcast

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Publicado em 04/06/2025, às 08h10 - Atualizado às 08h21

São Paulo, 05/6/2025 - Para o economista Nouriel Roubini, a hegemonia e as reservas globais do dólar não devem desaparecer no futuro, mesmo que muitas pessoas não gostem da moeda americana. “Alguns podem não gostar do dólar, mas não há como substituí-lo por nada”, disse o economista, reconhecido pela precisão na análise de riscos globais e por ter antecipado a crise financeira de 2008.

Durante sua fala no evento Prêmios Broadcast, Roubini reforçou por diversas vezes que a “disciplina” do mercado nos EUA torna quase indiferente quem ocupa o cargo de presidente dos EUA e que, por isso, o dólar eventualmente pode até ficar mais fraco, mas será um movimento bastante gradual.

“Mesmo que haja essas tarifas exorbitantes, os EUA continuariam importando capital do mundo inteiro”, disse ele, reforçando que essa grande entrada de capital impedirá um enfraquecimento mais significativo do dólar. Para Roubini, as moedas fortes continuarão sendo a dos países considerados “líderes” que têm mais poder não só comercial, mas também militar. Mas, segundo ele, a moeda chinesa não tem condições de ser esse substituto para o dólar.

O economista pontuou na sequência que esse cenário, em que os EUA se recuperam e conseguem crescer sua economia a uma taxa de 4% ao ano, ao mesmo tempo em que a China mantém alto nível de crescimento, é um cenário bastante positivo para a economia global.

Desglobalização

Há uma iminente mudança na ordem global, com tendência para um mundo de desglobalização ou globalização lenta. Roubini afirmou ainda que a eleição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, trouxe mais incerteza, volatilidade e instabilidade na economia global.

“Antes havia multilateralismo e cooperação, e estamos indo em direção ao unilateralismo. Não só dos EUA. Outros países fazem isso: Índia, China, Brasil”.

Segundo ele, as inovações tecnológicas, por sua vez, podem impulsionar um crescimento global.

Especificamente em relação à América Latina, Roubini citou que o Brasil pode se aproveitar desse cenário a partir, por exemplo, dos investimentos cada vez maiores das potências globais em tecnologias. “Data Centers podem vir para o Brasil a um preço mais barato que nos EUA”, disse o economista, citando o potencial de produção de energia barata do País.

Inteligência Artificial

Durante participação na cerimônia, o professor da Universidade de Nova York fez uma avaliação positiva sobre os efeitos das novas tecnologias na produtividade e, consequentemente, no potencial de crescimento da economia global.

O economista admitiu que a inovação tecnológica e a adoção crescente da inteligência artificial podem levar a uma substituição de trabalhadores. Porém, ponderou, essa revolução também vai gerar mais crescimento econômico, cuja riqueza pode ser distribuída às pessoas que ficaram para trás.

Dando como exemplo a economia dos Estados Unidos, ele entende que o potencial de crescimento pode chegar a 6% na próxima década. 

“É melhor viver em mundo que cresce 6%”.

Segundo Roubini, governos podem, a partir de políticas distributivas, como taxar os “vencedores” da revolução tecnológica, fazer com que os ganhos cheguem também a quem perdeu com a adoção das novas ferramentas de trabalho.

Ele reconheceu que existe um dilema entre ganhos de produtividade e desemprego, mas projetou que, no curto prazo, a tendência é de que haverá mais emprego, mesmo com a adoção das tecnologias.

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