Envato
São Paulo, 11/07/2025 - De acordo com levantamento divulgado este mês pelo Instituto Natura em parceria com o Observatório de Oncologia do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, apenas 23,7% das mulheres entre 50 e 69 anos realizaram mamografias no País entre 2023 e 2024. A porcentagem é muito inferior aos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O panorama indica que as faixas etárias que concentraram mais diagnósticos foram as de 50 a 59 anos (26,5%) e 60 a 69 anos (24,9%), justamente o público-alvo das políticas de rastreamento. Ainda assim, chama a atenção o número de casos registrados entre as mulheres mais jovens, de 30 a 49 anos, que representaram 31,4% do total, e abaixo de 30 anos, com 2,2% tendo realizado mamografia. Completam o total de diagnósticos de câncer as mulheres acima de 69 anos, que representam 15% do total.
Segundo a pesquisa, esses dados dão um indicativo da necessidade de estratégias específicas para essas faixas etárias. Para a médica radiologista e especialista em mama da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI), Vivian Milani, o dado reforça a urgência de ampliar o acesso e conscientizar a população feminina sobre a importância da detecção precoce.
“A mamografia é uma das principais ferramentas de combate ao câncer de mama. É um exame altamente eficaz, capaz de identificar lesões imperceptíveis ao toque, muitas vezes antes de qualquer sintoma. A detecção precoce aumenta significativamente as chances de sucesso no tratamento”, afirma.
A FIDI recomenda que mulheres com menos de 40 anos devam realizar anualmente ultrassonografia transvaginal e mamária. Acima dos 40 anos, elas devem incluir na lista de exames a mamografia e ultrassonografia transvaginal. Já no período pós-menopausa a lista de exames contempla mamografia, ultrassonografia transvaginal e densitometria óssea.
Apesar do aumento na conscientização sobre os exames preventivos, a principal barreira ainda é o acesso, aponta Milani. “Muitas pacientes relatam a dificuldade de agendar mamografias ou ultrassons. Isso acaba postergando diagnósticos e, em muitos casos, comprometendo o tratamento”, alerta.
As leis nº 12.732/2012 e nº 13.896/2019 estabelecem prazos máximos para o diagnóstico de 30 dias e o início do tratamento de câncer em até 60 dias. Contudo, segundo o Panorama do Câncer de Mama, o tempo médio entre o diagnóstico e o início do tratamento foi de 182 dias historicamente. Em 2023, último ano com dados disponíveis, esse período se estendeu para 214 dias, excedendo em 154 dias o tempo recomendado por lei.
A médica sanitarista Catherine Moura, líder do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, afirma que, apesar da legislação, as mulheres com câncer de mama "frequentemente esperam meses entre a suspeita, o diagnóstico e o início do tratamento, enfrentando filas, falta de estrutura e desorganização nos serviços públicos". Ela completa dizendo que o tempo, que deveria ser aliado na cura, acaba se tornando um grande desafio.
"É inaceitável que, com leis em vigor, pacientes oncológicas ainda morram esperando por atendimento. Garantir o cumprimento dessas legislações é uma questão de responsabilidade do Estado, de gestão do sistema de saúde e, acima de tudo, de respeito à vida".
Em 2023, o câncer de mama foi responsável por 20.399 óbitos no Brasil, marcando o maior número já registrado e representando um aumento de 5,4% em relação a 2022. As faixas etárias com maior número de óbitos em 2023 foram de 60 a 69 anos (22,4%), 50 a 59 anos (22%) e 70 a 79 anos (18%).
Em relação à raça e cor, 57,2% das mortes em 2024 ocorreram entre mulheres brancas e 42% entre mulheres negras, o que reforça as desigualdades existentes no acesso ao diagnóstico e tratamento eficaz.
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.