Foto: Envato Elements
Por Beatriz Duranzi
[email protected]A busca por ajuda para o vício em apostas vem crescendo no Brasil desde 2023, impulsionada pela popularização das “bets” esportivas. Esse comportamento compulsivo, conhecido como ludopatia, já é reconhecido pelo Ministério da Saúde como um problema de saúde pública. Saiba agora como identificar os sinais e onde buscar ajuda.
A ludopatia é um transtorno mental formalmente reconhecido pela OMS (CID-11) e pelo DSM‑5, estando na categoria de transtornos aditivos. Funciona de forma similar a dependências como álcool ou tabaco: o cérebro libera dopamina, gerando prazer, até que é necessário apostar cada vez mais para manter essa sensação.
A OMS define critérios e sinais claros que indicam risco de ludopatia. Confira abaixo:
Pensamentos sobre jogos, planejamento de novas apostas ou recordações de vitórias e perdas.
A necessidade de apostar valores cada vez maiores para obter a mesma excitação.
Várias tentativas, sem sucesso, de reduzir ou parar de apostar.
Ansiedade, irritação ou angústia ao tentar diminuir, ou interromper as apostas.
Apostar como forma de enfrentar estresse, tristeza ou tédio.
Tentativas de recuperar o que se perdeu, voltando a apostar sem parar.
Esconder o tempo e o dinheiro investido em apostas.
Queda no trabalho, desinteresse em estudos ou hobbies, distância de amigos e família.
Endividamento, uso de reservas, empréstimos ou até atos ilegais para financiar o vício.
O crescimento das apostas online no Brasil gerou ações no Senado (CPI das “bets”) e a criação de grupos interministeriais focados em saúde mental e redução de danos. Mas ainda existem desafios, como a luta contra plataformas ilegais e o excesso de publicidade, frequentemente voltada a públicos vulneráveis.
Grupos de apoio: Jogadores Anônimos (JA)
O Jogadores Anônimos é uma associação sem fins lucrativos fundada no Rio de Janeiro em 1993, inspirada nos moldes dos Alcoólicos Anônimos. Atualmente, conta com 54 grupos em 18 estados, além de núcleos em países como Portugal, Angola e Moçambique.
O grupo oferece suporte por meio de reuniões presenciais e, mais recentemente, por canais digitais, como o WhatsApp Linha de Vida, que realiza mais de 100 atendimentos por dia. A troca de experiências entre os participantes é uma ferramenta poderosa no processo de recuperação.
Atendimento gratuito pelo SUS
Casos mais graves, em que o vício já comprometeu a saúde mental, relações pessoais ou trabalho, também podem ser tratados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É possível encontrar ajuda em:
Esses locais oferecem acompanhamento com psicólogos e psiquiatras, além de encaminhamento para tratamentos específicos.
Programa PRO-AMJO (USP)
O Programa Ambulatorial do Jogo (PRO-AMJO), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, é referência nacional no tratamento da ludopatia. Fundado em 1998, atende gratuitamente pessoas com compulsão por apostas, além de acolher seus familiares.
O atendimento é feito por uma equipe multidisciplinar e inclui psicoterapia individual ou em grupo, além de suporte psiquiátrico. O programa realiza em média 150 atendimentos por mês e o tratamento pode durar de um a dois anos.
Como se inscrever:
Contato para triagem:
A ludopatia é um transtorno sério e coletivo: afeta milhões, causa impacto econômico e destrói relações. Saber reconhecer os sinais, buscar apoio e fortalecer a educação financeira podem impedir o avanço do vício. Lembre-se: pedir ajuda não é fraqueza, é um passo fundamental para retomar o controle da vida.
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