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O Brasil possui 16,6 milhões de pessoas de 20 a 79 anos com diabetes. O número coloca o País na sexta posição no ranking global de nações com mais casos da doença e representa um aumento de 403% na comparação com 2000, quando havia 3,3 milhões de pessoas diagnosticadas.
Os dados constam na nova edição do Atlas de Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF), divulgada nesta semana.
De acordo com o levantamento, o Brasil só fica atrás da China (148 milhões de registros), Índia (89,8 milhões), Estados Unidos (38,5 milhões), Paquistão (34,5 milhões) e Indonésia (20,4 milhões). Em todo o planeta, são ao menos 589 milhões de casos, o equivalente a uma em cada nove pessoas.
"O grande problema do diabetes é o impacto nas taxas de mortalidade. Além de ser muito prevalente, é uma das principais causas de morte no País e a quinta causa de perda de capacidade" destaca Bianca Pititto, do Departamento de Epidemiologia, Economia e Saúde Pública da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
De acordo com o atlas, cerca de 3,4 milhões de pessoas morreram por conta da doença em 2024. O número corresponde a um óbito a cada seis segundos. No Brasil, foram 111 mil mortes.
"O que mais nos preocupa é que esse aumento ocorre de forma progressiva e constante desde o ano 2000 - ou até mesmo antes", continua Bianca, que também é professora do Programa de Pós-graduação em Endocrinologia da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "É muito impactante, tanto para a saúde pública quanto em termos de custos."
O Brasil foi o terceiro País que mais gastou com a doença no mundo, com um total de US$ 45 bilhões. Ficou atrás apenas dos Estados Unidos, com US$ 404,5 bilhões, e da China, com US$ 168,9 bilhões.
O atlas ainda aponta que, em 11% das gestações no Brasil, as gestantes desenvolveram diabetes gestacional, condição que eleva os riscos de malformações, parto prematuro e complicações para mãe e bebê. O levantamento também indica que o Brasil é a quarta nação com mais casos de diabetes tipo 1 no mundo - atrás apenas de EUA, China e Índia -, com cerca de 500 mil pessoas diagnosticadas, em geral ainda na infância ou juventude.
A obesidade é o principal fator de risco, segundo Bianca. "A obesidade, no Brasil e no mundo inteiro, vem aumentando de forma constante nos últimos anos. Quase 70% dos adultos do País têm sobrepeso. A alimentação, com o baixo consumo de frutas e legumes, e o sedentarismo também impactam os índices. Esses são os três principais fatores", pontua.
Além disso, existem fatores como o acesso ao cuidado e a possibilidade de mudança de estilo de vida. "Do ponto de vista da saúde pública e dos determinantes sociais da saúde, também nos deparamos com situações que impactam os índices: pessoas que não conseguem fazer atividade física, se alimentar melhor ou ter acesso adequado à saúde", continua.
Outro ponto é que, devido ao estilo de vida com alto consumo de produtos ultraprocessados, menos horas de sono, pouco exercício físico e muito tempo de tela, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) vêm aumentando entre crianças e adolescentes, especialmente a obesidade, um fator de risco para outras comorbidades, como o diabetes tipo 2.
"Nos Estados Unidos, por exemplo, que tem um alto índice de obesidade, é possível observar de forma mais nítida muitas pessoas mais jovens com diabetes tipo 2. No Brasil, era uma coisa que não acontecia no passado, mas começou a ser observada nos últimos anos", destaca Bianca.
Ela ainda explica que, por conta do avanço no tratamento e no controle da doença, as pessoas com diabetes vivem mais. "Isso é benéfico, é nosso desejo, mas ajuda a aumentar a prevalência da doença", destaca. "Conseguimos prolongar a vida desses pacientes mas não conseguimos reduzir a incidência de novos casos de diabetes. Por isso, a prevalência vai aumentando cada vez mais".
Segundo o relatório, nenhum País teve uma redução na prevalência de diabetes. Mas, segundo Bianca, políticas públicas que estabeleçam uma equidade no acesso à saúde podem ser um caminho.
"As políticas que podem ter um impacto no longo prazo permeiam vários setores, não apenas a saúde", afirma a professora. "Vão desde melhorar a viabilidade financeira e o acesso a alimentos in natura e saudáveis, até garantir alimentação adequada nas escolas, educação em saúde e segurança pública, para que as pessoas consigam praticar atividades físicas, entre outros aspectos."
- 150 minutos de atividade física leve e moderada por semana;
- Maior consumo de frutas, verduras e legumes, o que impacta na quantidade diária de fibras. O recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é ingerir ao menos cinco porções por dia, em cinco dias da semana. - No total, são cerca de 400 gramas por dia;
- Manutenção de peso saudável ou, em quem tem sobrepeso ou obesidade, a redução de 10% do peso. Essa perda não precisa ocorrer de forma muito rápida, pode acontecer em um período de seis meses, por exemplo.
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