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Câncer de próstata 60+: casos superam previsão geral em 2025

Foto: Freepik

Discrepância no número de casos de câncer de próstata revela dificuldade na notificação de casos - Foto: Freepik
Discrepância no número de casos de câncer de próstata revela dificuldade na notificação de casos
Emanuele Almeida
Por Emanuele Almeida

Publicado em 19/11/2025, às 16h35

São Paulo – Levantamento feito pelo VIVA a partir de dados do DataSus revela que os casos de câncer de próstata em homens com mais de 60 anos em 2025 superam as estimativas de casos gerais para o ano. Até novembro, os casos que envolvem pessoas entre 60 e 69 anos chegaram a 88 mil, enquanto as previsões do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam uma média de 71 mil novos casos no ano para homens de todas as idades. 

Para 2025, o número total de casos ainda não foi consolidado, assim, ainda espera-se um aumento no número de notificações, especialmente frente aos registros consolidados de casos de 2024, em que foram apresentados 167 mil casos de câncer de próstata apenas em pessoas com idade entre 60 e 69 anos.

Leia também: Homens resistem a buscar informações sobre câncer de próstata, mostra pesquisa

As estimativas do Inca são feitas em triênio, sendo assim a expectativas total de novos casos são de 71 mil desde 2023. 

Sem considerar os tumores de pele não melanoma, cânceres que se originam nas células superficiais da pele que não produzem melanina, o câncer de próstata ocupa a segunda posição entre os tipos da doença mais frequentes no Brasil, atrás apenas do de mama feminina. A doença afeta comumente homens a partir dos 50 anos.

Segundo o Inca, entre os homens, o câncer de próstata é o mais incidente no Brasil, com risco estimado de 77,89 casos a cada 100 mil homens na Região Sudeste, onde a incidência é maior. Em outras regiões, as estimativas são:

  • Região Nordeste: 73,28 casos a cada 100 mil;
  • Região Centro-Oeste: 61,60 casos a cada 100 mil;
  • Região Sul: 57,23 casos a cada 100 mil;
  • Região Norte: 28,40 casos a cada 100 mil.

Histórico

O levantamento também indica um aumento de 85% nos casos de câncer de próstata entre pessoas com mais de 60 anos nos últimos 12 anos. Em 2013, o número de casos era de 47,8 mil, e subiu para 88,5 mil até novembro de 2025.

O gráfico abaixo mostra a evolução dos casos nos últimos doze anos por faixa etária. Arraste para conferir. 

Fonte: Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), através do Boletim de Produção Ambulatorial Individualizado (BPA-I) e da Autorização de Procedimento de Alta Complexidade; Sistema de Informação Hospitalar (SIH); Sistema de Informações de Câncer (SISCAN)

O grupo de pessoas com 70 a 79 anos também apresentou um aumento expressivo: em 2013 o número de casos era de 32 mil; em 2024, o número consolidado foi de 119 mil; e, neste ano, está em 63 mil casos.

Em idades mais avançadas, a partir dos 80 anos, os casos também apresentam um aumento expressivo. Em 2013, o grupo reuniu mais de 10 mil casos; em 2024 foram 45 mil, e o número está em 24 mil neste ano.

Em pessoas mais velhas os casos muitas vezes não são nem diagnosticados: estudos indicam que cerca de 80% dos homens de 80 anos que morreram por outros motivos tinham câncer de próstata. Nesses casos, nem eles nem seus médicos desconfiavam. 

Razões

Os dados coletados não revelam os tipos de casos nem a fase em que se encontram. Segundo o líder do centro de tumores urológicos do AC Camargo, Stênio de Cássio Zequi, um maior número de notificações pode ser avaliado como um aumento significativo dos diagnósticos de cânceres de próstata na fase inicial.

“Nesses casos, o tratamento é mais simples. Pode ser apenas uma cirurgia, ou uma terapia com uma dose baixa de hormônios, com uma taxa de cura muito alta”, explica.

Ele ressalta que, nos últimos anos, a taxa de cura da doença tem sido alta, principalmente quando diagnosticado precocemente, ficando entre 80% e 90%.

Médico analisando radiografia, olhando atentamente para os detalhes da imagem em um negatoscópio
 Especialistas apontam que taxa de cura do câncer de próstata tem sido alta, principalmente quando diagnosticado precocemente Foto: National Cancer Institute/Unsplash

Contudo, ele lembra que, quando diagnosticado tardiamente, as taxas de cura caem e intervenções cirúrgicas ocorrem mais frequentemente. “Aqueles diagnosticados a partir do estágio 4, que já têm metástase, dificilmente terá melhoria nas células, mas eles estão vivendo muito mais tempo devido aos avanços tecnológicos no tratamento”, avalia Zequi.

Leia também: Diagnóstico precoce eleva quase 90% chances de cura do câncer de próstata

Sobre o estigma ao redor da doença, o especialista avalia que há uma diminuição do preconceito por parte dos homens, apesar de ainda existir uma falta de preocupação em relação à prevenção. 

“Eu pergunto aos pacientes se eles falariam para as esposas não irem ao médico, fazer uma mamografia. A partir disso, reafirmo que eles devem levar esse pensamento para eles mesmos”, acrescenta.

Atendimentos

De acordo com dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde ao VIVA, de janeiro a agosto de 2025, foram registrados 1 milhão de atendimentos ambulatoriais e 31 mil hospitalares no Brasil, relacionados ao câncer de próstata.

As informações são dos Sistemas de Informações Ambulatoriais e Hospitalares do SUS; contudo, os números relacionados aos procedimentos não são referentes ao número de pessoas atendidas, mas sim ao número de procedimentos realizados.

Os números apresentam um aumento nos últimos três anos. Em relação aos atendimentos hospitalares, que envolvem principalmente internações, houve um crescimento de 21,5% de 2022 até 2024; nos ambulatoriais (exames) o aumento foi de quase 30% no mesmo período.  

O diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), André Sasse, avalia que a retomada dos atendimentos pós-pandemia tem impacto nos dados.

“Durante a pandemia da Covid, nós vimos uma queda importante na realização de consultas, exames e das cirurgias eletivas da retirada da próstata. Nos anos seguintes, o SUS e a saúde suplementar viveram um momento de represamento e retomada”, explica Sasse.

Ele observa que, para além do aumento dos números de exames e internações, houve também uma procura maior de homens mais jovens. Porém, aqueles que buscam diagnóstico chegam já em um estágio avançado. O levantamento da reportagem aponta um aumento de 252,16% nos casos de câncer de próstata em pessoas de 20 a 29 anos de 2013 até 2025.

O gráfico mostra a evolução dos números de casos de câncer de próstata por idade nos últimos anos. Escolha a faixa etária para conferir: 

Fonte: Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), através do Boletim de Produção Ambulatorial Individualizado (BPA-I) e da Autorização de Procedimento de Alta Complexidade; Sistema de Informação Hospitalar (SIH); Sistema de Informações de Câncer (SISCAN)

“Começamos a ver homens mais jovens chegando ao sistema de saúde já com a doença diagnosticada, o que reforça a necessidade de campanhas consistentes, de informação qualificada e até de orientação para pessoas que já tenham predisposição à doença”, alerta.

Subnotificação

A discrepância entre a previsão de casos do Inca e os dados de casos consolidados em 2024 e 2025, assim como a retomada de notificações depois da pandemia revelam o problema persistente de subnotificação dos dados de câncer no Brasil — que pode significar um número de casos ainda maior que não foram documentados. 

A Lei nº 13.685, de 25 de junho de 2018, determina a notificação e o registro compulsórios das neoplasias nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional. No entanto, ela ainda se encontra em fase de regulamentação — fator que dificulta a centralização dos dados e análises em âmbito nacional.

A área técnica do Inca, órgão auxiliar do Ministério da Saúde, apontou em nota que a comunicação para as autoridades sanitárias é feita via sistemas de informação, “que necessitam de um preparo estabelecido por meio de regulamentação da lei". 

“Esta regulamentação precisa ser trabalhada por outras normativas, onde deverá ser estabelecido o método de coleta da informação dos casos diagnosticados com câncer”, diz a nota. 

Em 2024, a portaria GM/MS Nº 5.201 incluiu apenas o câncer de trabalho como notificação compulsória. Nessa ordem, os casos incluídos são aqueles nos quais os trabalhadores ficam expostos a riscos que levam a quadros de câncer, sem inclusão dos casos gerais de tumores malignos.

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Paulo Henrique de Sousa Fernandes, explica que hoje não há uma integração total entre os sistemas particulares privados e o SUS.

Ele aponta que há uma falta de padrão nas informações entre os estados. “Muitos ainda dependem de notificações manuais; isso gera subnotificação, erros e dificuldades de coleta e análise”, avalia Fernandes.

"Quando o paciente é tratado no centro oncológico de referência, existe um sistema, ele entra no sistema de de informação, assim ele acaba existindo para esse banco de informação. Agora, aquele que é atendido lá numa unidade geral, no interior, ele se simplesmente não existe para estatística, porque o sistema de lá não é integrado", explica Fernandes. 

Como medida de integração, o presidente da SBCO elenca que seria preciso ter uma ligação automática dos prontuários, na qual se padronizasse um prontuário único que também integrasse as informações com o serviço privado.

“Na verdade, uma forma de integrar isso deveria ser na própria patologia, quando fosse feito o diagnóstico, como é na covid, dos óbitos em que existe uma notificação automática eletrônica”, aponta.

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