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Por Beatriz Duranzi e Cláudio Marques
redacao@viva.com.brSão Paulo, 06/10/2025 -- O número de casos suspeitos de intoxicação por metanol em bebidas adulteradas tem crescido rapidamente no Brasil, acendendo um alerta em autoridades e profissionais de saúde. Segundo o Ministério da Saúde, houve 217 notificações de intoxicação por metanol após consumo de bebida alcoólica. Desse total, 17 casos foram confirmados e 200 estão em investigação.
São Paulo concentra a maioria dos casos: 82,49% das notificações, com 15 casos confirmados e 164 em investigação. Além de São Paulo, o Paraná teve dois casos confirmados e quatro estão em investigação. Duas mortes ocorreram em São Paulo e 12 seguem em investigação (um caso no Mato Grosso do Sul, três em Pernambuco, seis em São Paulo, um na Paraíba e um no Ceará).
O metanol é um tipo de álcool industrial extremamente tóxico para o organismo. Quando ingerido, o corpo o transforma em substâncias altamente nocivas, capazes de causar cegueira, insuficiência renal, convulsões e até a morte. Em bebidas adulteradas, ele é usado para baratear a produção, substituindo o etanol, o álcool comum presente nas bebidas seguras para consumo humano.
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Embora o metanol seja perigoso, existe tratamento eficaz quando a intoxicação é identificada a tempo. O antídoto principal é o fomepizol, medicamento que impede que o fígado transforme o metanol em compostos ainda mais tóxicos.
Na prática, o fomepizol “bloqueia” as enzimas responsáveis por essa conversão, permitindo que o corpo elimine o metanol de forma natural pela urina.
Quando o fomepizol não está disponível, o que ainda é comum em muitos hospitais, os médicos recorrem ao etanol farmacêutico, o mesmo tipo de álcool presente nas bebidas alcoólicas, mas em formulação específica para uso médico.
O mecanismo é semelhante: o etanol ocupa as enzimas do fígado antes do metanol, impedindo que ele seja metabolizado em substâncias tóxicas. Dessa forma, o organismo consegue eliminar o metanol sem transformá-lo em veneno.
O uso desses antídotos, porém, deve ser feito exclusivamente em ambiente hospitalar, sob supervisão médica e com dosagem controlada.
A automedicação, especialmente com bebidas alcoólicas comuns, não tem efeito terapêutico e pode agravar o quadro clínico.
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Diante da onda de casos, o Ministério da Saúde iniciou a distribuição emergencial de etanol farmacêutico para os estados. Na primeira remessa, foram enviadas 580 ampolas para Pernambuco, Paraná, Bahia, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul.
A medida integra uma ação nacional de resposta rápida, coordenada com secretarias estaduais e municipais de saúde, que também inclui orientação técnica e reforço dos protocolos de diagnóstico e tratamento.
O ministério anunciou ainda a compra adicional de 12 mil unidades de etanol farmacêutico e 2,5 mil unidades de fomepizol, garantindo o abastecimento dos hospitais públicos.
“Estamos atuando em tempo real com os estados para assegurar o envio dos antídotos e o suporte necessário ao atendimento dos pacientes”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
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Infelizmente, esta não é a primeira vez que o País enfrenta um surto de intoxicações pelo produto.
Em 1990, 18 pessoas morreram na Bahia após consumir cachaça adulterada com metanol. Dois anos depois, outro caso grave foi registrado em Diadema (SP), quando dezenas foram hospitalizadas após beber uma mistura conhecida como “bombeirinho”.
Mais recentemente, entre 2016 e 2023, 11 mortes foram registradas entre pessoas em situação de vulnerabilidade, sem grande repercussão pública.
O metanol continua sendo usado ilegalmente na produção de bebidas por ser mais barato e fácil de obter. Por isso, especialistas reforçam: só consuma bebidas de origem conhecida, com selo fiscal e registro no Ministério da Agricultura.
Em caso de suspeita de intoxicação, com sintomas como visão turva, dores de cabeça intensas, náuseas, tontura ou confusão menta, é fundamental procurar atendimento médico imediato.
O controle da intoxicação por metanol depende não apenas do acesso aos antídotos, mas também da agilidade no diagnóstico e da conscientização da população.
A atuação coordenada entre o Ministério da Saúde, estados e municípios é essencial para evitar novos casos e garantir que as vítimas recebam tratamento a tempo.
Enquanto os números do metanol seguem em investigação, a recomendação das autoridades é clara: não consuma bebidas sem procedência e redobre a atenção em festas, eventos e estabelecimentos não regulamentados.
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