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Enxaqueca em idosos: por que os sintomas mudam após os 60 anos?

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Idosos frequentemente relatam dor nos dois lados da cabeça e menor sensibilidade à luz e ao som - Adobe Stock
Idosos frequentemente relatam dor nos dois lados da cabeça e menor sensibilidade à luz e ao som
Por Emanuele Almeida

13/12/2025 | 08h00

São Paulo, 12/12/2025 - A enxaqueca é frequentemente associada a adultos jovens, mas a realidade nos consultórios mostra que essa condição não se "aposenta". Estima-se que o problema afete cerca de 10% dos idosos, trazendo consigo um desafio médico complexo. Diferentemente do que ocorre em fases anteriores da vida, o tratamento na terceira idade exige atenção diferenciada devido à presença de outras comorbidades e às mudanças naturais no metabolismo dos medicamentos.

Sintomas da enxaqueca em idosos

Uma das maiores armadilhas no diagnóstico em idosos é que a enxaqueca pode deixar de apresentar seus sinais clássicos. Segundo a Associação de Distúrbios de Enxaqueca (AMD), enquanto jovens costumam sentir dor em apenas um lado da cabeça, idosos frequentemente relatam dor bilateral (nos dois lados). Além disso, a sensibilidade extrema à luz e ao som tende a ser menos intensa nessa faixa etária.

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A AMD também aponta um fenômeno curioso que requer atenção redobrada: a "aura sem dor". É mais provável que idosos desenvolvam novos sintomas visuais de aura (como luzes piscando ou pontos cegos) sem que estes venham acompanhados da dor de cabeça. Isso pode gerar confusão diagnóstica, pois tais sintomas mimetizam condições graves, como um acidente vascular cerebral (AVC) ou um ataque isquêmico transitório (AIT), exigindo avaliação médica imediata para descartar emergências.

O neurologista Marco Aurélio Fraga, do Instituto de Neurologia de Goiânia, explica que alguns dos sintomas de enxaqueca sentidos principalmente após os 50 anos são:

  • Dor menos pulsante e mais bilateral, com menor fotofobia e fonofobia (sensibilidade à luz e ao som) em alguns casos;
  • Doenças vasculares, degenerativas e outras patologias crônicas podem se sobrepor aos sintomas, necessitando de investigação rigorosa para excluir outras causas de cefaleia;
  • Os ataques tendem a ocorrer em horários diferentes, sendo mais frequentes à noite ou no início da manhã.

Antes de confirmar o diagnóstico, os médicos precisam descartar as "cefaleias secundárias" — dores causadas por outras condições. "Diferenciar as dores de cabeça é um ponto crítico no idoso. Uma 'nova cefaleia' após os 50 anos ou uma mudança clara no padrão de dor preexistente são sinais de alerta que justificam investigação, inclusive com exames de imagem", elenca Fraga.

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Pessoas com 60 anos ou mais que apresentam dores de cabeça novas devem procurar um médico imediatamente. O risco de causas secundárias graves, como AVC ou arterite de células gigantes, é maior nessa população.

Outras condições, como apneia do sono ou neuralgia pós-herpética, também exigem diagnóstico oportuno. A neurologista Anielle Melina, especialista da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe), ressalta que, para pacientes acima dos 50 anos, a primeira hipótese nem sempre é enxaqueca, já que a doença geralmente apresenta um histórico anterior à primeira consulta.

Melhora é possível

Fraga aponta que, com o envelhecimento, as chances de a enxaqueca diminuir aumentam. "Em termos populacionais, a incidência e a prevalência tendem a diminuir com a idade. Muitos pacientes relatam redução de frequência e intensidade em décadas avançadas, o que pode ser uma evolução natural", observa.

Anielle Melina reforça que a enxaqueca acomete mais jovens, especialmente mulheres, devido a questões hormonais. Contudo, com a menopausa, é comum notar uma melhora nas crises graças à maior estabilidade dos níveis de hormônio. "Muitas idosas apresentam melhora na menopausa. Não são todas; em casos mais refratários, infelizmente, a dor persiste", adiciona.

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Tratamento

Tratar a enxaqueca em idosos requer um procedimento de equilíbrio. O envelhecimento altera as funções renal e hepática, afetando a forma como os fármacos são processados e eliminados. Além disso, o uso de remédios para outras doenças crônicas aumenta o risco de interações medicamentosas perigosas.

Anielle destaca que é possível prescrever medicamentos com baixos efeitos colaterais e pouca interação medicamentosa, desde que haja acompanhamento especializado. "Mas uma coisa é certa: é preciso organizar os hábitos de vida do paciente, como atividade física, hidratação, alimentação e qualidade do sono. Cuidados básicos que, quando bem feitos, melhoram muito o quadro", conclui.

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