Geração de pais 50+ desafia padrões e ressignifica envelhecimento

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Em 2025, País já registrou mais de 2,7 mil pais 50+. Especialistas comentam impacto psicológico e no cérebro dessa experiência de vida na maturidade - Envato
Em 2025, País já registrou mais de 2,7 mil pais 50+. Especialistas comentam impacto psicológico e no cérebro dessa experiência de vida na maturidade
Por Bianca Bibiano bianca.bibiano@viva.com.br

Publicado em 10/08/2025, às 09h04

São Paulo, 10/08/2025 - O avanço da medicina trouxe, entre seus principais benefícios, o aumento da expectativa e da qualidade de vida. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que até 2050 a expectativa de vida do brasileiro será de 81 anos. Em um País com uma população cada vez mais idosa, um fato está se tornando mais frequente: homens sendo pais pela primeira vez a partir dos 50 anos de idade.

Apenas este ano, o País registrou 1.423.355 novos nascimentos com filiação paterna registrada, de acordo com o painel da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), Desses, estima-se que 2.711 dos pais tenham acima de 50 anos, segundo dados obtidos pelo Viva junto ao órgão nacional de Registro Civil. Em 2024, foram 3.214.

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De acordo com a psicóloga e membro da comissão de formação gerontológica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Valmari Cristina Aranha Toscano, quando uma pessoa se torna pai pela primeira vez, independentemente da idade, é importante entender o histórico dessa paternidade, uma vez que ter um filho implica em diferentes responsabilidades legais e afetivas.

“É muito comum perceber as pessoas mudando hábitos e estilo de vida após se tornarem pais, fazendo um seguro de vida, cuidando melhor da saúde e mudando alguns comportamentos de risco"

Se para a mulher as principais mudanças com a maternidade são em relação à liberdade, uso do tempo e as mudanças físicas, com os homens as mudanças tendem a culminar mais em responsabilidades, seja com a educação, em preparar um ser humano melhor para o mundo, seja em relação à segurança financeira, explica a especialista.

Ela destaca que, quando um homem se torna pai depois dos 50 anos, essas questões se acentuam, pois os riscos com a saúde são mais frequentes, assim como a preocupação em deixar uma segurança material para esse filho, pois dependendo da idade desse pai pode ser que o filho ainda seja dependente quando vier a falecer.

Nesse sentido, ela diz que o importante para esses pais não é aumentar a expectativa de vida, mas sim prolongar o número de anos que ele deseja ficar com filho.

"Não adianta prolongar a vida com limitações e debilidade. Para fugir desse cenário é preciso cuidar da saúde física, por meio de atividades físicas, alimentação saudável, qualidade do sono e consulta com especialistas, por exemplo, e também da saúde mental, não permitindo que o preconceito por ser um pai mais velho atrapalhe a relação com o filho."

Benefícios psicológicos para pais 50+

A psicóloga destaca também que ser pai nessa fase da vida traz muitos benefícios, uma vez que renova a motivação da pessoa e cria um novo propósito, o que é importante para o envelhecimento bem-sucedido.

“Esse homem passará a conviver com a modernidade, com um outro modo de enxergar o mundo, que o obrigarão a se atualizar, sem falar na rede de contatos que ampliará”, afirma, ao explicar que a melhor forma de lidar com possíveis conflitos de geração é o diálogo, para que o filho entenda de que lugar o pai traz determinados valores, assim como o pai também entenda que o filho crescerá em outro contexto social.

Segundo Valmari, normalmente, esses conflitos são oriundos de posicionamentos atrelados a características de personalidade, religião e valores. “Trabalho com envelhecimento há muitos anos e uma pessoa idosa há 30 anos era muito diferente da pessoa idosa hoje. Por isso, precisamos desmistificar a ideia de que toda pessoa idosa pensará diferente do jovem.”

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Neurociência da paternidade após os 50

Do ponto de vista da neurociência, a paternidade acima de 50 anos também pode ter particularidades. Segundo Fernando Gomes, neurocirurgião, neurocientista e professor livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), a paternidade para pessoas dessa faixa etária pode ser impactada por uma combinação de fatores neurocognitivos, emocionais e sociais.

"Embora existam desafios associados ao envelhecimento, muitos homens podem e têm a capacidade de oferecer uma paternidade enriquecedora e significativa, aproveitando suas experiências de vida e sabedoria adquirida ao longo dos anos."

No que diz respeito às mudanças cognitivas, ele explica que, após os 50 anos, é comum que os homens experenciem algumas alterações, como diminuição da memória de trabalho, processamento lento de informações e dificuldades em multitarefas. "Esses fatores podem afetar a capacidade de lidar com as demandas emocionais e práticas da paternidade, como o envolvimento nas atividades diárias dos filhos, acompanhamento escolar e apoio emocional."

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A neurociência também sugere que o envelhecimento pode afetar a regulação emocional. "À medida que os homens envelhecem, podem se tornar mais sábios em certas áreas, mas também podem experimentar uma diminuição na intensidade emocional ou um aumento na reatividade emocional. Isso pode influenciar como eles se conectam e reagem às experiências de paternidade."

Por outro lado, explica o especialista, homens mais velhos muitas vezes têm mais experiência de vida, estabilidade financeira e maturidade emocional. Essas características podem contribuir para uma paternidade mais reflexiva e consciente. O aumento da empatia e a capacidade de formar vínculos emocionais profundos podem ser vantagens significativas para a paternidade tardia.

Ele explica também que estudos indicam que o cérebro, embora apresente uma certa diminuição na neuroplasticidade com a idade, ainda é capaz de adaptação e aprendizado. "Isso significa que homens mais velhos podem continuar a aprender e se desenvolver como pais, embora os métodos e a adaptação possam ser diferentes."

Por isso, ele também destaca que a saúde física e mental é crucial na paternidade:

"Condições de saúde que podem se tornar mais prevalentes com a idade, como doenças cardiovasculares ou diabetes, podem afetar a energia e o envolvimento em atividades parentais. A saúde mental também é um fator vital; a incidência de depressão e ansiedade pode aumentar com a idade, impactando a capacidade de ser um pai ativo e presente."

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