Seu cérebro mudou com a pandemia? Estudo alerta para impacto invisível

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Mesmo quem não foi infectado pelo coronavírus relata, até hoje, impactos na memória - Foto: Envato Elements
Mesmo quem não foi infectado pelo coronavírus relata, até hoje, impactos na memória

Por Beatriz Duranzi

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Publicado em 27/07/2025, às 16h21

São Paulo, 27/07/2025 - Isolamento social, estresse prolongado, mudanças na rotina e insegurança econômica: a pandemia de covid-19 impôs uma série de desafios que afetaram não apenas o corpo, mas também a mente de bilhões de pessoas ao redor do mundo.

Mesmo quem não foi infectado pelo coronavírus relata, até hoje, impactos na memória, na concentração e na disposição. Mas e se esses efeitos fossem mais profundos do que imaginávamos?

É o que aponta uma pesquisa conduzida pela Universidade de Nottingham, no Reino Unido. Segundo o estudo, o estilo de vida imposto pela pandemia, mesmo sem infecção direta, pode ter acelerado o envelhecimento do cérebro em cerca de 5,5 meses. 

A descoberta se baseia em exames de ressonância magnética e análises feitas com inteligência artificial em quase mil adultos britânicos.

A equipe examinou imagens de ressonância magnética de quase 1.000 adultos saudáveis provenientes do UK Biobank, comparando os resultados obtidos antes da pandemia com os realizados durante ou logo após o isolamento social

Para isso, foi aplicado um modelo de inteligência artificial treinado com mais de 15.000 exames, que estima a “idade cerebral” com base em alterações na substância cinzenta e branca.

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Um envelhecimento invisível, porém real

A análise revelou que o cerébro das pessoas expostas ao estilo de vida da pandemia, incluindo isolamento, estresse, mudanças na rotina e insegurança, envelheceu cerca de cinco meses e meio em comparação ao grupo que não viveu esses impactos.

Esse efeito foi mais evidente entre homens, indivíduos mais velhos e aqueles em situações socioeconômicas vulneráveis.

Apesar dessas alterações estruturais, o declínio cognitivo, medido em testes de velocidade de raciocínio e fluidez mental, só foi observado em pessoas que se infectaram com covid-19. Já os demais participantes apresentaram o cérebro "aparentemente mais velho", mas sem sintomas clínicos óbvios.

Impacto multifatorial e desigual

Os autores ressaltam que, além da infecção, as condições sociais agravaram o envelhecimento cerebral. A falta de acesso a suporte, maiores níveis de estresse e menor engajamento em atividades saudáveis aumentaram o impacto entre os mais vulneráveis, com até quase seis meses extras de envelhecimento cerebral em quem vive em áreas pobres ou enfrenta desemprego. 

O que isso significa para o futuro da saúde mental?

Embora os pesquisadores ainda não possam afirmar se essas alterações se reverterão com o tempo, ou se aumentam o risco de doenças neurodegenerativas, o estudo reforça que a saúde cerebral é diretamente afetada por contextos sociais e emocionais. Espelha também a importância de políticas públicas que incluam bem-estar mental em futuras crises. 

O estudo sugere ainda que hábitos como atividade física, sono de qualidade, estímulo cognitivo e vida social podem ajudar a proteger o cérebro, embora não haja provas concretas de que revertam o envelhecimento observado. 

Próximos passos na investigação

A equipe da pesquisa pretende continuar o acompanhamento do mesmo grupo, mas ainda não há datas definidas para novos exames. O objetivo é compreender se o aceleramento estrutural se mantém ou retrocede ao longo do tempo. 

O estudo reforça que o isolamento, a ansiedade, as incertezas e as consequências econômicas da pandemia deixaram marcas silenciosas em nossos cérebros, mais profundas do que muitos imaginavam. O envelhecimento cerebral vai além da idade cronológica e mostra que o ambiente exerce influência decisiva na saúde mental.

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