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São Paulo, 21/08/2025 - Uma pesquisa realizada pelo Instituto Qualisa de Gestão (IQG) e divulgada pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) mostra que 22% dos hospitais públicos e privados do País não ajustam corretamente a dosagem de antibióticos, etapa fundamental para se evitar o uso excessivo ou ineficaz desses medicamentos.
A pesquisa, realizada em 104 hospitais, revelou também que 87,7% deles ainda fazem uso empírico de antibióticos. Ou seja, trabalham por tentativa e erro, quando o mais indicado seria realizar exame laboratorial para confirmar uma infecção por bactéria. “Todos os indicadores reforçam a urgência de políticas públicas robustas, precisamos urgentemente combater o uso indiscriminado de antibióticos”, afirma Mara Machado, CEO do IQG.
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Para a infectologista Ana Gales, coordenadora do Comitê de Resistência Antimicrobiana da SBI, fazer uso empírico e sem evidências pode levar a outros graves problemas de saúde pública. A resistência aos antibióticos é um fator agravante em muitos casos de morte, por exemplo, em UTIs. “São riscos desnecessários que poderiam ser evitados com maior controle. Os hospitais possuem as comissões de controle de infecção hospitalar, mas existem muitas falhas”, completa a especialista.
A resistência antimicrobiana acontece quando bactérias se tornam imunes aos medicamentos, ou seja, impedindo o real controle de uma infecção. No Brasil, estima-se que 48 mil pessoas morram por ano por infecções resistentes, totalizando mais de 1,2 milhão de mortes até 2050.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), infecções comuns como urinárias, pneumonias e ferimentos cirúrgicos se tornam cada vez mais difíceis ou até impossíveis de tratar, levando a mais de 5 milhões de mortes por ano.
Para Anis Ghattás, presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado de São Paulo (AHOSP), os hospitais têm papel central nesse combate e, por isso, a entidade vem trabalhando ativamente para implementação de protocolos rigorosos e capacitação de equipes para uso racional de antimicrobianos. "Nosso compromisso vai da orientação técnica, queremos promover uma resposta coletiva coordenada."
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Da prescrição até o descarte dos antibióticos, Mara Machado diz que o controle dessa cadeia é fundamental para diminuir a resistência a esses medicamentos. "A pesquisa revelou, no entanto, que todos os hospitais avaliados não possuem nem protocolo de descarte nem análise de efluentes hospitalares, tornando essa situação também um problema ambiental."
O recomendado pela SBI é que os hospitais tenham unidades para monitorar e acompanhar a resistência aos antimicrobianos, fornecendo informações para a melhor gestão dessas terapias medicamentosas. Diante da urgência do tema, a organização lançou a campanha chamada “Será que precisa? Evitando a resistência antimicrobiana por antibióticos e antifúngicos”, que tem como missão alertar para o uso indiscrimidado desse tipo de medicamentos.
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