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São Paulo, 17/08/2025 - Se você navega nas redes sociais, é bem provável que já tenha visto algum vídeo ou publicação mostrando cenas de desespero e preocupação de adultos diante de um engasgo infantil. Alguns, inclusive, ensinam manobras de desengasgo para diferentes idades, na expectativa de ajudar pessoas a venham a enfrentar essa situação arriscada.
Diante da profusão de informação, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) tornou público na última sexta-feira um Guia Prático para esclarecer como agir corretamente em casos de engasgo em crianças e alertar sobre erros comuns nessas manobras.
O documento explica, por exemplo, as diferenças entre as condutas para engasgo por líquidos (como leite materno, sucos ou saliva) e por sólidos ou semissólidos, como alimentos e pequenos objetos.
Segundo a SBP, confundir essas situações pode levar a manobras inadequadas, capazes de agravar o quadro. Entena a seguir as orientações em cada situação:
A sociedade de pediatria destaca que o engasgo por líquidos costuma estar relacionado a reflexos normais de proteção da via aérea, especialmente nos bebês pequenos, que ainda estão em fase de desenvolvimento da deglutição.
Em geral, esses episódios não causam obstrução completa das vias aéreas, sendo resolvidos com medidas simples como posicionar o bebê adequadamente, permitindo-o tossir espontaneamente.
Desta forma, a maneira mais correta de lidar com o engasgo por líquidos é:
Se a criança tossir ou vomitar e logo voltar a respirar normalmente, a SBP recomenda apenas oferecer apoio e continuar observando. Mas caso permaneça com sintomas como dificuldade para respirar, chiado ou desconforto, é necessário levá-la a um serviço de emergência.
Se a criança não melhorar e houver interrupção da respiração, deve-se estimular delicadamente a região das costas. No entanto, se ela não retomar a respiração e perder a consciência, é fundamental chamar ajuda imediatamente e já iniciar as manobras de reanimação cardiorrespiratória.
Conforme destaca o guia da SBP, esses casos são os mais graves e o mais importante no momento do engasgo por sólidos ou semissólidos é identificar se a criança apresenta dificuldade para falar ou tossir, respiração ruidosa, palidez, agitação ou leva as mãos em volta do pescoço.
Caso a resposta seja positiva, deve-se tentar o desalojamento usando manobras de desengasgo com pancadas nas costas e compressões torácicas em crianças até um ano de idade e a manobra de Heimlich em crianças maiores de um ano de idade. Essa é a manobra mais comum nos vídeos de redes sociais, mas precisa ser feita com cuidado e técnica, evitando riscos maiores.
Menores de um ano: O ideal é posicionar a vítima no antebraço de quem prestará a assistência, com a mão segurando a face do bebê, para permitir a abertura da via aérea, deixando a cabeça mais baixa que o corpo. O adulto deve realizar cinco pancadas no dorso, usando a região do “calcanhar da mão”.
Logo após, deve levar o bebê para o outro antebraço (deitado de costas) e fazer cinco compressões torácicas, utilizando dois dedos (indicador e médio) logo abaixo da linha mamilar. Após cada ciclo (cinco pancadas e cinco compressões), deve-se verificar se houve desobstrução das vias aéreas.
Se ele voltou a respirar ou expeliu o corpo estranho, leve-o até o pronto socorro. Se houver perda da consciência, acionar imediatamente o serviço de emergência e iniciar as manobras de reanimação cardiopulmonar.
Maiores de um ano: Para crianças maiores, é indicado executar a manobra de Heimlich. O socorrista se posiciona de pé, atrás da vítima, com os braços por trás dos braços da vítima, circundando sua cintura, de modo a manter uma das mãos fechadas e a outra espalmada sobre ela, centralmente no abdômen, entre o umbigo e o apêndice xifoide.
Aplicar compressões firmes para dentro e para cima até que a vítima respire ou ejete o corpo estranho. Caso haja perda de consciência, seguem as mesmas orientações dos menores de um ano: acionar imediatamente o serviço de emergência e iniciar as manobras de reanimação cardiopulmonar.
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Existe ainda um terceiro cenário no qual a obstrução por sólido é parcial, e acontece quando, mesmo engasgada, a criança consegue falar ou tossir. Nesses casos, as manobras de desengasgo não estão indicadas pelo risco de deslocar o corpo estranho, causando uma obstrução completa.
Pelo mesmo motivo, não se deve realizar varredura na boca ou garganta à procura do objetico. O correto é estimular a tosse e, caso não resolva, desferir pancadas leves nas costas da vítima antes de iniciar as manobras de desobstrução.
A SBP finaliza o guia enfatizando que toda criança submetida às manobras de desengasgo deve ser encaminhada para exame médico e de imagem para observar possíveis lesões traumáticas. "A orientação também se aplica aos pacientes com suspeita de aspiração de corpo estranho com sintomas, mas estáveis. Eles devem ser encaminhados a um serviço hospitalar para ser realizada radiografia simples do tórax", conclui o documento.
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