Foto: Envato Elements
Por Beatriz Duranzi
[email protected]São Paulo, 25/05/2025 - Um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, aponta uma ligação direta entre o uso problemático das redes sociais e a disseminação de desinformação.
Segundo a pesquisa, publicada pelo jornal espanhol El País, usuários mais viciados em plataformas digitais são mais propensos a acreditar e compartilhar notícias falsas.
O estudo, liderado pelo neurocientista Dar Meshi, envolveu 189 participantes com idades entre 18 e 26 anos. Os participantes analisaram 20 publicações fictícias de redes sociais, sendo que metade trazia informações verdadeiras e a outra metade continha conteúdos enganosos. Após esse contato, os voluntários foram convidados a indicar o quanto estavam inclinados a curtir, compartilhar, comentar ou clicar em cada uma das publicações. Também responderam a um questionário sobre seus hábitos digitais e sua relação emocional com as redes.
Os dados revelaram um padrão preocupante: quanto maior o nível de dependência das redes, caracterizado por comportamentos como necessidade constante de validação (curtidas), dificuldade de se desconectar e conflitos causados pelo uso excessivo, maior a propensão a interagir com conteúdo enganoso.
Apesar de ainda não ser oficialmente classificado como um transtorno clínico, o uso compulsivo de redes sociais apresenta sintomas muito semelhantes a outros vícios comportamentais, como o jogo patológico ou a dependência química. Sensações de mal-estar durante períodos offline, tentativas frustradas de redução do uso, recaídas e impactos negativos em áreas como estudo e trabalho já foram amplamente relatados em diversos contextos.
Segundo os autores do estudo, a dependência digital precisa ser encarada como uma questão de saúde pública. Isso porque seus efeitos não se limitam à saúde mental individual, mas afetam também a qualidade do ecossistema informacional como um todo.
Uma das recomendações da pesquisa é o envolvimento mais ativo de grandes empresas de tecnologia, como Google e Meta (controladora de Facebook e Instagram), na busca por soluções práticas. De acordo com os pesquisadores, essas companhias poderiam colaborar com a comunidade científica para desenvolver mecanismos adaptados ao comportamento de usuários vulneráveis.
Entre as possíveis estratégias estão algoritmos mais seletivos para filtrar conteúdo duvidoso, ferramentas que incentivem a pausa no uso e sistemas personalizados de controle de impulsos. O estudo sugere que tais recursos poderiam ser especialmente úteis para pessoas que já estejam buscando ajuda para lidar com o uso compulsivo das redes.
O estudo da Universidade Estadual de Michigan oferece uma visão mais clara sobre o papel das redes sociais na disseminação de notícias falsas, não apenas como plataformas de propagação, mas como ambientes que amplificam a impulsividade e diminuem a capacidade crítica de seus usuários mais vulneráveis.
Combinando questões de saúde mental, comportamento digital e responsabilidade social, a pesquisa reforça a urgência de políticas públicas, ações educativas e investimentos em tecnologias mais conscientes. Afinal, combater a desinformação também passa por entender quem a espalha, e por que o faz.
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